São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Problema em aeroporto causa mortes

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Os Médicos Sem Fronteiras, uma das principais agências humanitárias do mundo, atribuíram ontem pelo menos cinco mortes de pacientes no Haiti a problemas para usar o aeroporto de Porto Príncipe. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha relatou à Folha obstáculos semelhantes.
O aeroporto está agora sob controle de militares americanos, o que já provocou críticas do Brasil e da França e questionamentos sobre privilégios na escala de pouso e decolagem.
Segundo a ONU, porém, os EUA assumiram a operação a pedido das autoridades haitianas, e a capacidade de uso das pistas e instalações foi ampliada -sem eles, diz o braço humanitário da entidade (Ocha), o pequeno aeroporto não estaria nem sequer funcionando.
Mas os Médicos Sem Fronteiras lançaram um comunicado crítico à operação na noite de ontem, ainda que não citem nominalmente os americanos.
No relato da organização, contemplada com o Nobel da Paz em 1999, um avião carregado com 12 toneladas de suprimentos médicos (incluindo remédios) teve a licença de pouso negada três vezes no último domingo, apesar de ter recebido antes garantias de que poderia usar a pista. Desde o dia 14, a MSF diz ter tido cinco aviões desviados para Santo Domingo, na República Dominicana.
Por conta do incidente, segue a MSF, houve mortes. "Tivemos cinco pacientes mortos no centro de saúde de Martissant em decorrência da falta dos suprimentos médicos que aquele avião carregava", disse em comunicado Loris de Filippi, coordenadora de emergência de um hospital da entidade em Cité Soleil (maior favela de Porto Príncipe) que recebeu 500 transferências de Martissant. "Nunca vi nada assim."
Mais cedo, uma porta-voz dissera à Folha que as equipes não tinham mais nem serra para a amputação -a única de que dispunham estava gasta pelo excesso de uso. A morfina, que ameniza a dor, acabou. Faltam máquinas de diálise.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha também descreveu à Folha percalços semelhantes, embora não de consequência fatal. "O aeroporto é um problema, e a maior parte dos nossos suprimentos vem de Santo Domingo, por terra, porque é difícil achar uma vaga no aeroporto", disse o porta-voz Marçal Izard.
"Tivemos um avião de carga que não conseguiu pousar e foi para Santo Domingo. Depois disso nem tentamos mais. Estamos indo para Santo Domingo e o Panamá, onde temos um armazém." A aeronave citada estava programada para pousar na sexta pela manhã.
Segundo Izard, o CICV tenta coordenar com a ONU e os EUA janelas de pouso. Indagado se a entidade havia desistido do aeroporto, respondeu que "mais ou menos". "Nosso pessoal está em contato direto para saber das atualizações da situação. [A desistência] vale para os grandes aviões de carga. Mas estamos ajudando as sociedades nacionais [da Cruz Vermelha] a levar aviões menores", afirmou.


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