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Problema em aeroporto causa mortes
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Os Médicos Sem Fronteiras,
uma das principais agências
humanitárias do mundo, atribuíram ontem pelo menos cinco mortes de pacientes no Haiti
a problemas para usar o aeroporto de Porto Príncipe. O Comitê Internacional da Cruz
Vermelha relatou à Folha obstáculos semelhantes.
O aeroporto está agora sob
controle de militares americanos, o que já provocou críticas
do Brasil e da França e questionamentos sobre privilégios na
escala de pouso e decolagem.
Segundo a ONU, porém, os
EUA assumiram a operação a
pedido das autoridades haitianas, e a capacidade de uso das
pistas e instalações foi ampliada -sem eles, diz o braço humanitário da entidade (Ocha),
o pequeno aeroporto não estaria nem sequer funcionando.
Mas os Médicos Sem Fronteiras lançaram um comunicado crítico à operação na noite
de ontem, ainda que não citem
nominalmente os americanos.
No relato da organização,
contemplada com o Nobel da
Paz em 1999, um avião carregado com 12 toneladas de suprimentos médicos (incluindo remédios) teve a licença de pouso
negada três vezes no último domingo, apesar de ter recebido
antes garantias de que poderia
usar a pista. Desde o dia 14, a
MSF diz ter tido cinco aviões
desviados para Santo Domingo, na República Dominicana.
Por conta do incidente, segue a MSF, houve mortes. "Tivemos cinco pacientes mortos
no centro de saúde de Martissant em decorrência da falta
dos suprimentos médicos que
aquele avião carregava", disse
em comunicado Loris de Filippi, coordenadora de emergência de um hospital da entidade
em Cité Soleil (maior favela de
Porto Príncipe) que recebeu
500 transferências de Martissant. "Nunca vi nada assim."
Mais cedo, uma porta-voz
dissera à Folha que as equipes
não tinham mais nem serra para a amputação -a única de
que dispunham estava gasta
pelo excesso de uso. A morfina,
que ameniza a dor, acabou. Faltam máquinas de diálise.
O Comitê Internacional da
Cruz Vermelha também descreveu à Folha percalços semelhantes, embora não de consequência fatal. "O aeroporto é
um problema, e a maior parte
dos nossos suprimentos vem
de Santo Domingo, por terra,
porque é difícil achar uma vaga
no aeroporto", disse o porta-voz Marçal Izard.
"Tivemos um avião de carga
que não conseguiu pousar e foi
para Santo Domingo. Depois
disso nem tentamos mais. Estamos indo para Santo Domingo e o Panamá, onde temos um
armazém." A aeronave citada
estava programada para pousar
na sexta pela manhã.
Segundo Izard, o CICV tenta
coordenar com a ONU e os
EUA janelas de pouso. Indagado se a entidade havia desistido
do aeroporto, respondeu que
"mais ou menos". "Nosso pessoal está em contato direto para saber das atualizações da situação. [A desistência] vale para os grandes aviões de carga.
Mas estamos ajudando as sociedades nacionais [da Cruz
Vermelha] a levar aviões menores", afirmou.
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