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Terremoto reverte anos de progresso, diz especialista do BID
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
O terremoto jogou por água
abaixo todo o progresso obtido
no Haiti nos últimos anos, segundo Susana Sitja, especialista sênior do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) em Modernização de Estado. Em entrevista à Folha
por telefone, a espanhola defendeu maiores poderes para
sua entidade no país.
FOLHA - O que muda nas operações do BID no Haiti após o sismo?
SUSANA SITJA - O estrago no país
é colossal. Toda a estrutura física do Estado ruiu. Adotamos
um pacote de medidas de
emergência [que incluem fundos adicionais não reembolsáveis e o perdão da dívida que o
país tinha com o banco] e estamos avaliando os próximos
passos de nossa atuação no
país. O que aconteceu é absolutamente desolador para o que o
BID vinha articulando com as
autoridades haitianas.
FOLHA - Tudo terá que ser retomado do zero?
SITJA - Sim, de certa forma.
Nem sequer restaram escritórios. Os nossos e os do governo
estão destruídos. Para se ter
uma ideia, uma das primeiras
coisas que fizemos foi comprar
geradores de energia, sem os
quais não se pode trabalhar.
Como podemos articular planos de ajuda se não temos eletricidade e água? O Estado não
tem sequer condições físicas de
funcionar. A esta altura não sabemos nem quantos funcionários do governo morreram. A
desolação fica ainda maior tendo em vista o que havia sido
conseguido nos últimos anos.
FOLHA - Havia progressos?
SITJA - Havia enormes progressos desde 2003, época em
que nem sequer havia uma lei
orçamentária. Desde então, as
instituições vinham se consolidando, a gestão dos recursos
era cada vez mais transparente,
a criminalidade estava diminuindo, tínhamos cada vez
mais crianças indo à escola, vínhamos trabalhando bem com
os técnicos do governo haitiano
para resolver questões de moradia, saúde etc.
FOLHA - Muita gente questiona a
eficiência da ajuda externa ao Haiti.
SITJA - Claro que a situação do
país era bastante complicada
mesmo antes do terremoto.
Mas a evolução nos últimos
anos é imensa se olharmos o
ponto de partida. O país não tinha instituições, as condições
de vida eram péssimas.
FOLHA - Como evitar que a ajuda
externa seja desviada por políticos?
SITJA - O estabelecimento de
regras bancárias e fiscais mais
claras deu bons resultados. Mas
o fato é que é complicado controlar o acesso aos recursos disponíveis quando se tem dinheiro vindo de ao menos 20 agências diferentes, entre outras
instituições e ONGs. O economista Jeffrey Sachs [especialista em desenvolvimento internacional] publicou [no domingo] um artigo no "Washington
Post" sugerindo que os esforços
internacionais de ajuda e reconstrução fossem coordenados por um único organismo.
FOLHA - Esse artigo sugere que esse organismo seja o BID.
SITJA - Temos presença ininterrupta no Haiti desde os anos
60. Até na época dos embargos
mantivemos alguns funcionários no país. Somos o maior financiador do país e temos ampla experiência com o governo.
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