São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Terremoto reverte anos de progresso, diz especialista do BID

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

O terremoto jogou por água abaixo todo o progresso obtido no Haiti nos últimos anos, segundo Susana Sitja, especialista sênior do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Modernização de Estado. Em entrevista à Folha por telefone, a espanhola defendeu maiores poderes para sua entidade no país.

 

FOLHA - O que muda nas operações do BID no Haiti após o sismo?
SUSANA SITJA
- O estrago no país é colossal. Toda a estrutura física do Estado ruiu. Adotamos um pacote de medidas de emergência [que incluem fundos adicionais não reembolsáveis e o perdão da dívida que o país tinha com o banco] e estamos avaliando os próximos passos de nossa atuação no país. O que aconteceu é absolutamente desolador para o que o BID vinha articulando com as autoridades haitianas.

FOLHA - Tudo terá que ser retomado do zero?
SITJA
- Sim, de certa forma. Nem sequer restaram escritórios. Os nossos e os do governo estão destruídos. Para se ter uma ideia, uma das primeiras coisas que fizemos foi comprar geradores de energia, sem os quais não se pode trabalhar. Como podemos articular planos de ajuda se não temos eletricidade e água? O Estado não tem sequer condições físicas de funcionar. A esta altura não sabemos nem quantos funcionários do governo morreram. A desolação fica ainda maior tendo em vista o que havia sido conseguido nos últimos anos.

FOLHA - Havia progressos?
SITJA
- Havia enormes progressos desde 2003, época em que nem sequer havia uma lei orçamentária. Desde então, as instituições vinham se consolidando, a gestão dos recursos era cada vez mais transparente, a criminalidade estava diminuindo, tínhamos cada vez mais crianças indo à escola, vínhamos trabalhando bem com os técnicos do governo haitiano para resolver questões de moradia, saúde etc.

FOLHA - Muita gente questiona a eficiência da ajuda externa ao Haiti.
SITJA
- Claro que a situação do país era bastante complicada mesmo antes do terremoto. Mas a evolução nos últimos anos é imensa se olharmos o ponto de partida. O país não tinha instituições, as condições de vida eram péssimas.

FOLHA - Como evitar que a ajuda externa seja desviada por políticos?
SITJA
- O estabelecimento de regras bancárias e fiscais mais claras deu bons resultados. Mas o fato é que é complicado controlar o acesso aos recursos disponíveis quando se tem dinheiro vindo de ao menos 20 agências diferentes, entre outras instituições e ONGs. O economista Jeffrey Sachs [especialista em desenvolvimento internacional] publicou [no domingo] um artigo no "Washington Post" sugerindo que os esforços internacionais de ajuda e reconstrução fossem coordenados por um único organismo.

FOLHA - Esse artigo sugere que esse organismo seja o BID.
SITJA
- Temos presença ininterrupta no Haiti desde os anos 60. Até na época dos embargos mantivemos alguns funcionários no país. Somos o maior financiador do país e temos ampla experiência com o governo.


Texto Anterior: Saiba mais: Governo deve ditar rumos da ajuda externa
Próximo Texto: Haiti em ruínas: Otimismo começa a surgir em meio ao caos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.