São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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Rixa entre os países será o tema da década

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

A rivalidade entre China e EUA será o tema dominante da década, diz Gideon Rachman, principal colunista de política internacional do britânico "Financial Times". Ele lança neste mês nos EUA o livro "Sum-Zero Future: American Power in an Age of Anxiety" (futuro de soma zero, o poder americano numa era de ansiedade). Nele, afirma que a busca do equilíbrio de poder predomina na relação das duas maiores economias do mundo, enquanto as chances de cooperação diminuem. A tese defendida por Rachman foi citada pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, a propósito da visita do líder chinês Hu Jintao.

Folha - O fim da hegemonia americana foi previsto antes. Por que desta vez é diferente? Gideon Rachman - A China tem problemas sérios. Mas, nos últimos 30 anos, ganhou um ritmo que não vai parar subitamente. É inevitável que sua economia ultrapasse a dos EUA. A população chinesa é quatro vezes a americana, o que significa que ela só precisa atingir um quarto da renda per capita dos EUA para chegar lá. Será um momento simbólico, mas também um indicador do poder que vem acumulando.


O sr. fala numa "era de ansiedade". Vale para o mundo todo ou só para EUA e Europa?
Sobretudo para americanos e europeus, que veem ameaçados seu modo de vida, com desemprego e estagnação dos salários, e sua posição tradicional no mundo.


Os EUA têm dificuldade em aceitar que divirjam de suas políticas. Isso mudará?
No mundo multipolar, os EUA têm que se acostumar com a ideia de que será mais difícil convencer os demais a seguir suas posições. Mas isso trará consequências diferenciadas. Uma é o surgimento de rivalidades concretas, como no caso da China. Será um tema dominante da política internacional nos próximos dez, 20 anos.
A segunda é o caso de países como o Brasil, que não serão vistos como rivais, mas nos quais a capacidade americana de influir será menor.


Os EUA tentam reforçar alianças na Ásia para conter a China. Dará resultado?
Não sei se é justo dizer que é uma estratégia de contenção. Quando Obama assumiu, sua primeira opção foi tentar construir uma relação mais próxima, buscar a cooperação em temas como o clima, câmbio. No último ano, os americanos ficaram mais desiludidos com o comportamento chinês e isso foi acompanhado de um alarme crescente com os investimentos militares da China.
Hoje diria que a política é a de construir um colchão de proteção. Mas a China não gosta da ideia de se ver cercada, então há tensão.


O alarme com o maior poder militar da China se justifica?
Os americanos estão acostumados com a ideia de que são o poder militar dominante no Pacífico. Em longo prazo, os chineses não aceitarão essa situação. Acho improvável que os dois países cheguem à guerra. Mas os chineses acreditam que, com o tempo, os EUA deverão recuar para que o entorno chinês se torne seu quintal, da mesma maneira que os americanos consideram o hemisfério ocidental o seu quintal.


O mundo hoje é mais perigoso do que o da Guerra Fria?
Cada época tem os próprios riscos. Na Guerra Fria havia a tensão nuclear. Hoje, o primeiro risco é a desintegração da governança global. O G20 está a caminho de virar um desapontamento.


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