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Impacto da renúncia divide os dissidentes
DA REDAÇÃO
Sem grandes demonstrações de surpresa, cubanos críticos da ditadura se
dividiram ontem entre o
ceticismo e o otimismo
cauteloso quanto à chance
de mudanças em Cuba
após a saída de Fidel.
Oswaldo Payá, líder do
Comitê Cidadão de Reconciliação e Diálogo e um
dos mais proeminentes
dissidentes locais, afirmou
em comunicado que a renúncia tem "indiscutivelmente importância histórica para a vida de todos os
cubanos". "Terminam
quase cinco décadas de poder de um homem, e sempre dissemos que o substituto de Fidel Castro deve
ser o povo soberano."
Mas para muitos outros
dissidentes, como Vladimiro Roca, do Partido Social-Democrata (ilegal na
ilha), "não há mudança nenhuma". "Para os cubanos, a saída de Fidel é só
uma notícia de jornal",
disse à Folha, por telefone, de Havana. "O melhor
para nós seria que os irmãos Castro se afastassem e dessem início à democratização, mas tenho
poucas esperanças. É a
crônica de uma morte
anunciada."
"Isso não é novidade",
concorda Elizardo Sánchez, líder da Comissão
Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação
Nacional. "Não altera a situação dos direitos humanos nem acaba com o regime de partido único."
Também é cuidadoso
Alejandro González, para
quem Cuba terá "outros
50 anos" de ditadura, se "o
povo não se levantar" para
lutar por direitos. González fazia parte de um grupo de 75 detidos condenados por conspiração em
2003, sete dos quais foram
libertados neste mês após
a mediação da Espanha.
Mesmo assim, para Oscar Espinosa Chepe, libertado em 2004 por razões
médicas, a saída de Fidel é
"um golpe forte para os
elementos mais imobilistas do governo".
O cubano Arsenio Cícero, 52, que deixou Cuba
em 1999 e vive nos EUA,
crê que essa mudança já
começou. "O regime já
vem se transformando, só
não tão rapidamente
quanto muitos cubanos
anti-Castro de Miami querem", afirmou à Folha de
Madison, em Wisconsin,
pouco após votar em Barack Obama na prévia do
Partido Democrata.
"Quem sabe, com sangue
novo, também a relação
EUA-Cuba possa mudar."
(ANDREA MURTA, com agências internacionais)
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