São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Impacto da renúncia divide os dissidentes

DA REDAÇÃO

Sem grandes demonstrações de surpresa, cubanos críticos da ditadura se dividiram ontem entre o ceticismo e o otimismo cauteloso quanto à chance de mudanças em Cuba após a saída de Fidel.
Oswaldo Payá, líder do Comitê Cidadão de Reconciliação e Diálogo e um dos mais proeminentes dissidentes locais, afirmou em comunicado que a renúncia tem "indiscutivelmente importância histórica para a vida de todos os cubanos". "Terminam quase cinco décadas de poder de um homem, e sempre dissemos que o substituto de Fidel Castro deve ser o povo soberano."
Mas para muitos outros dissidentes, como Vladimiro Roca, do Partido Social-Democrata (ilegal na ilha), "não há mudança nenhuma". "Para os cubanos, a saída de Fidel é só uma notícia de jornal", disse à Folha, por telefone, de Havana. "O melhor para nós seria que os irmãos Castro se afastassem e dessem início à democratização, mas tenho poucas esperanças. É a crônica de uma morte anunciada."
"Isso não é novidade", concorda Elizardo Sánchez, líder da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional. "Não altera a situação dos direitos humanos nem acaba com o regime de partido único."
Também é cuidadoso Alejandro González, para quem Cuba terá "outros 50 anos" de ditadura, se "o povo não se levantar" para lutar por direitos. González fazia parte de um grupo de 75 detidos condenados por conspiração em 2003, sete dos quais foram libertados neste mês após a mediação da Espanha.
Mesmo assim, para Oscar Espinosa Chepe, libertado em 2004 por razões médicas, a saída de Fidel é "um golpe forte para os elementos mais imobilistas do governo".
O cubano Arsenio Cícero, 52, que deixou Cuba em 1999 e vive nos EUA, crê que essa mudança já começou. "O regime já vem se transformando, só não tão rapidamente quanto muitos cubanos anti-Castro de Miami querem", afirmou à Folha de Madison, em Wisconsin, pouco após votar em Barack Obama na prévia do Partido Democrata. "Quem sabe, com sangue novo, também a relação EUA-Cuba possa mudar."
(ANDREA MURTA, com agências internacionais)


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