São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Ajuda Venezuelana dá sobrevida a regime

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em cadeia obrigatória de rádio e televisão, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem à noite que Fidel Castro não renunciou -apenas deixou de concorrer à reeleição. O mandatário chamou o aliado cubano de "pai eterno".
"Camarada memorável, nosso líder, pai eterno que está na terra, na água e no ar, tudo tem o seu nome nessa imensa latitude", discursou Chávez, durante a inauguração de um hospital na região de Caracas.
"Fidel não renunciou, simplesmente fez um grande esforço para concluir o período que lhe correspondia", disse o venezuelano. "Mas Fidel não se retira, Fidel não renuncia, Fidel foi absolvido pela história e Fidel estará na cabeça dos revolucionários e das revolucionárias deste continente."
Durante o período em que Chávez e Fidel coincidiram no poder, Venezuela e Cuba experimentaram uma aproximação diplomática inédita. Os projetos bilaterais, a ajuda direta e os generosos financiamentos já transferiram cerca de US$ 7,5 bilhões da Venezuela a Cuba, segundo levantamento da Fundação Justiça e Democracia, ligado ao partido oposicionista Primeiro Justiça. O país é o que mais recebe dinheiro venezuelano, seguido de perto pela Argentina, com US$ 7,2 bilhões.
Um dos principais projetos é a reativação da refinaria cubana Cienfuegos, construída com ajuda soviética entre 1985 e 1990 e paralisada um ano depois. No mês passado, a planta voltou a operar graças ao financiamento de cerca de US$ 140 milhões enviado pelo governo de Hugo Chávez. É o maior símbolo de como Caracas substituiu Moscou para manter o regime comunista da ilha.
Na Venezuela, a presença cubana também é evidente. Hoje, vivem no país cerca de 17 mil profissionais de saúde cubanos, a maioria atuando no Bairro Adentro, programa do governo federal que instalou milhares de pequenos centros médicos nas regiões mais pobres. Profissionais do governo Fidel também têm forte presença em outras áreas como educação e projetos agrícolas.
Iniciados em março de 2003 já com forte participação cubana, esses programas sociais, chamados de missões, têm sido um dos principais responsáveis pela alta popularidade de Chávez entre os mais pobres, segundo institutos de pesquisa de opinião venezuelanos.
O pagamento não é feito de forma tradicional. Para ter a mão-de-obra cubana, a Venezuela envia diariamente 92 mil de barris diários de petróleo, vitais para a segurança energética da ilha caribenha -representa 43% do consumo do país, de cerca de 210 mil barris/dia.
Nos últimos meses, os dois países têm aumentado o número de projetos sob o âmbito da Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América). No mês passado, criaram um banco com capital inicial de US$ 1 bilhão.


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