São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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análise

Musharraf está em xeque após fiasco eleitoral

DO ENVIADO ESPECIAL

Nos meios diplomáticos de Islamabad, Pervez Musharraf é apelidado de "mestre do xadrez". Seu ritual de sobrevivência na turbulenta política local, posando de democrata liberal um dia e rasgando a Constituição no outro, garantiram a ele a fama de ser um dos políticos mais astutos destas terras.
Mas Musharraf está em xeque, para muitos em xeque-mate. A maneira "civilizada" com a qual viu o chamado "partido do rei", a fração que o apoia da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-Q), ser massacrada indica duas coisas: ou que ele jogou a toalha, ou que está costurando, outra vez, a saída do aperto no tabuleiro.
Sua posição está enfraquecida. O apoio dos EUA parece não garantir mais do que antipatia, e o Exército faz sua retirada calculada pelas mãos do seu até aqui aliado Pervaiz Kayani, o comandante das Forças Armadas que tenta desmilitarizar a administração civil.
Calculada porque erra quem aposta numa "normalização" à ocidental do papel dos militares. O país se considera em guerra, ameaçado por vizinhos instáveis, e a farda esteve no centro de sua história. Um momento mais "low profile" não significa a resignação.
Outro equívoco é o de que o extremismo acabou porque a população rechaçou os islâmicos nas urnas. Islâmicos nunca tiveram voto, à exceção da eleição de 2002, em que houve uma reação pontual à aliança EUA-Musharraf pós 11/9.
E nem por isso pararam de fomentar extremistas. Esse, aliás, é um tema que deverá ser acompanhado com atenção, pois a tendência do PPP é justamente a de acomodar esses setores, apesar do discurso moderado e de sua mártir, Benazir Bhutto, ter aparentemente morrido nas mãos deles.
Se não renunciar, Musharraf pode ter alternativa a uma tentativa, hoje pouco provável devido ao escrutínio internacional e à recusa do Exército, de uso de força.
Apesar dos acenos a outro pólo oposicionista, o partido de Nawaz Sharif, o PPP não é refratário a um acordo com o presidente -para evitar o protagonismo de Sharif, já que ele é líder de sua facção e o PPP pós-Benazir não tem a liderança consolidada.
Musharraf tem uma última chance para fazer valer o apelido de "mestre do xadrez". Ou não, e vire mais um ex-líder paquistanês no exílio -na própria casa ou na acalentada aposentadoria na Turquia.0 (IG)


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