São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Postos de fronteira da ONU são alvo de protesto sérvio em Kosovo

Episódio é o mais grave desde a independência; soldados da Otan são acionados

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Dois postos de fronteira das Nações Unidas foram incendiados ontem por manifestantes sérvios em protesto contra a independência declarada domingo pelo governo de Kosovo. A revolta da minoria sérvia em Kosovo também foi direcionada contra o reconhecimento internacional à emancipação da Província, que ontem recebeu a primeira visita oficial de um representante estrangeiro após a secessão, o chefe de Relações Exteriores da União Européia, Javier Solana.
Os ataques ocorreram em duas passagens na fronteira entre Kosovo e a Sérvia, obrigando os policiais da ONU a pedir ajuda a soldados da Otan (aliança militar do Ocidente). Foi o incidente mais grave desde a declaração de domingo, quando uma manifestação na capital sérvia deixou vários carros destruídos.
O dia de ontem começou tenso nas áreas sérvias de Kosovo. Em Kosovska Mitrovica, cidade no norte da Província dividida entre as duas populações, ocorreram três explosões durante a madrugada. Uma delas atingiu vários carros perto de um prédio da ONU. A população de Kosovo, de 2 milhões de pessoas, é 90% de origem albanesa e 10% sérvia.
Milhares de pessoas marcharam em direção à ponte que divide Kosovska Mitrovica, enquanto cantavam slogans nacionalistas dizendo que "Kosovo é Sérvia". Segundo um porta-voz da ONU, as estradas que ligam o norte de Kosovo à Sérvia foram bloqueadas para evitar o acesso de nacionalistas sérvios à Província.
Foi a primeira intervenção das forças da Otan desde a aprovação da declaração de independência pelo Parlamento kosovar. O chefe da missão da ONU em Kosovo, Joachim Rucker, confirmou o fechamento dos postos de fronteira incendiados e condenou a violência "inadmissível".
O tumulto, que o premiê de Kosovo, Hashim Thaci, chamou de "incidente isolado", ocorreu horas antes da chegada a Kosovo de Javier Solana. O chefe da diplomacia européia confirmou o envio de uma missão da UE com 1.900 pessoas, entre policiais, juristas e funcionários de alfândega, que substituirão a administração da ONU e acompanharão os primeiros passos da transição.
Solana minimizou as divisões na UE, em que alguns países, com destaque para a Espanha, destoaram da maioria e decidiram não reconhecer a independência de Kosovo. "A UE está unida. Tanto que nós iremos colocar pessoas no terreno, em nome da UE", disse, após reunir-se com o premiê com o presidente de Kosovo.
"Quem reconhece países não é a UE, mas os Estados membros. E eles o fazem de acordo com sua legislação." Cerca de 20 países da UE indicaram que vão seguir os passos da França e apoiar a soberania kosovar, entre eles Reino Unido, Alemanha e Itália.
O presidente americano, George W. Bush, cujo governo reconheceu formalmente a independência de Kosovo na segunda-feira, disse ontem que essa era a decisão "correta", e não deu importância às divisões internacionais. "Sim, há divergências, mas nós acreditamos, como vários outros países, que a história provará que esse foi o movimento correto para trazer paz aos Bálcãs", disse Bush na Tanzânia, pouco antes de embarcar para Ruanda.
Segundo Luan Shllaku, diretor da organização não-governamental Foundation for Open Society, que mantém parceria com a UE, 17 países já reconheceram Kosovo, e 26 devem fazê-lo nos próximos dias. "A previsão é de que o número chegue a 50 até a próxima semana", disse Shllaku à Folha de Pristina, por telefone.
A missão da ONU em Kosovo afirmou ontem que continuará no território à espera de diretrizes. Apesar de ter se reunido durante dois dias, o Conselho de Segurança da organização não chegou a uma decisão sobre Kosovo. Rússia e China, que têm poder de veto, são contra a secessão.


Com agências internacionais


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