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Postos de fronteira da ONU são alvo de protesto sérvio em Kosovo
Episódio é o mais grave desde a independência; soldados da Otan são acionados
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Dois postos de fronteira das
Nações Unidas foram incendiados ontem por manifestantes
sérvios em protesto contra a independência declarada domingo pelo governo de Kosovo. A
revolta da minoria sérvia em
Kosovo também foi direcionada contra o reconhecimento internacional à emancipação da
Província, que ontem recebeu a
primeira visita oficial de um representante estrangeiro após a
secessão, o chefe de Relações
Exteriores da União Européia,
Javier Solana.
Os ataques ocorreram em
duas passagens na fronteira entre Kosovo e a Sérvia, obrigando os policiais da ONU a pedir
ajuda a soldados da Otan
(aliança militar do Ocidente).
Foi o incidente mais grave desde a declaração de domingo,
quando uma manifestação na
capital sérvia deixou vários carros destruídos.
O dia de ontem começou tenso nas áreas sérvias de Kosovo.
Em Kosovska Mitrovica, cidade no norte da Província dividida entre as duas populações,
ocorreram três explosões durante a madrugada. Uma delas
atingiu vários carros perto de
um prédio da ONU. A população de Kosovo, de 2 milhões de
pessoas, é 90% de origem albanesa e 10% sérvia.
Milhares de pessoas marcharam em direção à ponte que divide Kosovska Mitrovica, enquanto cantavam slogans nacionalistas dizendo que "Kosovo é Sérvia". Segundo um porta-voz da ONU, as estradas que
ligam o norte de Kosovo à Sérvia foram bloqueadas para evitar o acesso de nacionalistas
sérvios à Província.
Foi a primeira intervenção
das forças da Otan desde a
aprovação da declaração de independência pelo Parlamento
kosovar. O chefe da missão da
ONU em Kosovo, Joachim
Rucker, confirmou o fechamento dos postos de fronteira
incendiados e condenou a violência "inadmissível".
O tumulto, que o premiê de
Kosovo, Hashim Thaci, chamou de "incidente isolado",
ocorreu horas antes da chegada
a Kosovo de Javier Solana. O
chefe da diplomacia européia
confirmou o envio de uma missão da UE com 1.900 pessoas,
entre policiais, juristas e funcionários de alfândega, que
substituirão a administração
da ONU e acompanharão os
primeiros passos da transição.
Solana minimizou as divisões na UE, em que alguns países, com destaque para a Espanha, destoaram da maioria e
decidiram não reconhecer a independência de Kosovo. "A UE
está unida. Tanto que nós iremos colocar pessoas no terreno, em nome da UE", disse,
após reunir-se com o premiê
com o presidente de Kosovo.
"Quem reconhece países não
é a UE, mas os Estados membros. E eles o fazem de acordo
com sua legislação." Cerca de
20 países da UE indicaram que
vão seguir os passos da França
e apoiar a soberania kosovar,
entre eles Reino Unido, Alemanha e Itália.
O presidente americano,
George W. Bush, cujo governo
reconheceu formalmente a independência de Kosovo na segunda-feira, disse ontem que
essa era a decisão "correta", e
não deu importância às divisões internacionais. "Sim, há
divergências, mas nós acreditamos, como vários outros países,
que a história provará que esse
foi o movimento correto para
trazer paz aos Bálcãs", disse
Bush na Tanzânia, pouco antes
de embarcar para Ruanda.
Segundo Luan Shllaku, diretor da organização não-governamental Foundation for Open
Society, que mantém parceria
com a UE, 17 países já reconheceram Kosovo, e 26 devem fazê-lo nos próximos dias. "A previsão é de que o número chegue
a 50 até a próxima semana",
disse Shllaku à Folha de Pristina, por telefone.
A missão da ONU em Kosovo
afirmou ontem que continuará
no território à espera de diretrizes. Apesar de ter se reunido
durante dois dias, o Conselho
de Segurança da organização
não chegou a uma decisão sobre Kosovo. Rússia e China,
que têm poder de veto, são contra a secessão.
Com agências internacionais
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