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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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MOVIMENTAÇÃO MILITAR

Caças-bombardeiros F-117 lançaram bombas sobre Bagdá cerca de 90 minutos após o fim do ultimato

Primeiros mísseis dos EUA visam atingir Saddam e seus generais

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A guerra começou menos arrasadora do que se previa, ao menos em seus momentos iniciais. Um "alvo de oportunidade", como se diz no jargão militar, surgiu de repente -uma reunião de líderes iraquianos foi descoberta, talvez com Saddam Hussein presente.
Foram lançados alguns mísseis de cruzeiro Tomahawk e bombas a partir de caças-bombardeiros F-117 por volta das 5h35 (hora local), e os iraquianos responderam com canhões antiaéreos, cerca de uma hora e meia depois do prazo do ultimato americano para a saída de Saddam e seus filhos.
Esses aviões, chamados de "invisíveis", não são detectáveis por radar e costumam ser os primeiros a atacar. Por isso geralmente atacam à noite. O ataque pela manhã antecipou, portanto, o ataque arrasador prometido para o início da guerra, de milhares de bombas "inteligentes".
A rádio estatal iraquiana saiu do ar, segundo correspondentes em Bagdá, mostrando que o começo do ataque foi mais político-psicológico do que destrutivo.
Milhares de veículos militares se movimentaram ontem pela zona desmilitarizada da fronteira Iraque-Kuait, indicando que os anglo-americanos estão na posição de um mergulhador que deixa sua cadeira ao lado da piscina e sobe no trampolim. O pulo podia ocorrer a qualquer momento.
O Exército agora posicionado na fronteira não tem o tamanho que o general Tommy Franks gostaria. Apenas uma "divisão pesada" americana está presente, a 3ª Divisão de Infantaria, o que torna um ataque agora mais parecido com uma guerra do Afeganistão ampliada do que com uma reprise do conflito de 1991.
Ela é a ponta-de-lança da invasão, a mais poderosa força enviada ao teatro de operações, com 20 mil homens e milhares de veículos. Sua colega de igual poderio (ou até maior, por ser a única unidade totalmente "digital"), a 4ª Divisão de Infantaria, deveria ter ido à Turquia para um ataque pelo norte, mas agora terá de se reencaminhar ao Kuait.
Apesar do nome infantaria, é uma força equipada com cerca de 250 tanques pesados (54,4 toneladas) M1A2 Abrams. Sua infantaria é transportada em um número semelhante de veículos blindados M2A3 Bradley. Os tripulantes desses veículos podem lutar sem sair de dentro, protegidos por um sistema de ar-condicionado contra agentes químicos e biológicos.
Mesmo nas melhores condições -com supremacia aérea e com os iraquianos se rendendo em massa-, essa invasão a partir do Kuait tende a levar vários dias.
Mas, se os iraquianos usarem armas químicas ou biológicas, o avanço tende a ficar bem mais lento, pois, atrás das centenas de tanques e blindados de infantaria, seguem milhares de veículos de apoio, especialmente logístico. Os tanques M1A2 são possivelmente os melhores do mundo, mas também consomem combustível em quantidades impressionantes.
Para apressar o avanço, a outra grande unidade americana enviada ao Kuait é a 101ª Divisão Aerotransportada (assalto aéreo), que pode ser lançada tanto por aviões quanto por helicópteros à frente das forças saindo do Kuait.
Os tanques não são, contudo, os primeiros a avançar. O caminho precisa ser aberto através de cercas e possíveis campos minados. Essa tarefa cabe aos veículos de engenharia de combate, muitas vezes semelhantes aos seus congêneres civis, como tratores de remoção de terra (tipo buldôzer).
E acompanhando cada passo dessa enorme caravana pelo deserto vão veículos "farejadores", dotados de equipamento para detecção de agentes químicos, biológicos, radiativos e nucleares.
A movimentação na fronteira indica que o cenário mais divulgado parece ser mesmo o de um ataque simultâneo terrestre e aéreo. As duas zonas de exclusão aérea já estão, há semanas, sendo palco de uma espécie de guerra em câmera lenta. Ontem mesmo foram feitos ataques aéreos no sul do Iraque por aeronaves dos porta-aviões Abraham Lincoln e Kitty Hawk, no tipo de alvo que costuma ter prioridade no começo de uma invasão -postos de comando da defesa aérea, posições de artilharia, baterias de mísseis antiaéreos.
As tropas iraquianas no sul do país são relativamente fracas. São principalmente unidades do Exército regular, que, em 1991, se rendeu com facilidade. O grupo de soldados que se rendeu ontem, antes mesmo de a guerra começar -e, portanto, ainda não podem juridicamente ser chamados de "prisioneiros de guerra"- podem ser apenas os primeiros de uma enxurrada de deserções.
As três divisões blindadas da Guarda Republicana colocadas por Saddam em torno de Bagdá são a principal força terrestre do Iraque, equipadas com o tanque de fabricação russa T-72. Esses tanques foram facilmente vencidos pelos Abrams em 1991.


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