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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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ROTA PARA A GUERRA

Na estrada que liga a Jordânia ao Iraque, só pastores e ovelhas entrecortavam a paisagem deserta

Angústia marca caminho Amã-Bagdá

DO ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

No longo percurso feito pela reportagem da Folha, de Amã, na Jordânia, à capital iraquiana (12 horas de viagem), o fluxo de veículos na direção contrária estava longe do que poderia ser esperado. Não havia congestionamento. Os carros andavam rapidamente numa boa estrada -com três faixas em cada mão.
A sensação de angústia ao longo do trajeto era reforçada a cada vez que se encontrava um funcionário público pelo caminho -e foram 12. "Brazili? Ronaldo!", era a primeira e invariável reação, sempre entre sorrisos.
Assim que o motorista dizia o destino dos dois jornalistas, porém, a história mudava.
"Bagdá?". Cara séria: "Crazy!".
A paisagem nos lados da estrada era quase lunar, entrecortada aqui e ali por pastores e suas ovelhas, e uma vez apenas por um caminhão antimíssil escondido debaixo de um viaduto.
"Hoje à noite vai ter problema em Bagdá, me disseram na alfândega", revelou Nabil Boni, o nosso motorista, visivelmente contrariado por ter de ir para o lugar errado na hora errada.
Antes dele, dez motoristas haviam recusado a proposta de viajar ao encontro da guerra.
Vencidos os mil quilômetros entre Amã e Bagdá, o sentimento era outro: a de que poderia começar a mais longa das noites.

Hotel
A forte tensão na capital iraquiana levou os jornalistas estrangeiros a trocarem o hotel Al Rasheed, supostamente ameaçado de ataque pelos EUA, pelo hotel Palestine, no centro de Bagdá.
O abrigo antibombas do Palestine é um salão de cerca de 10 metros por 40, com saída de ar. Lâmpadas que pendem do teto iluminam o lugar. Há garrafas d'água, 20 camas e umas trinta máscaras contra gás, do tipo mais simples (só protegem contra armas químicas). As da reportagem da Folha, compradas em Londres, são do tipo ABC, Atomic-Biological-Chemical, que protegem contra pó radioativo, agentes biológicos e químicos. Florin, um jornalista romeno, estava ansioso para verificar a qualidade do abrigo. "Já peguei bombardeio em Kosovo e sei que isso não é coisa pequena."

Comunicação
Além dos perigos da guerra, outro desafio em Bagdá é a comunicação com o mundo externo, difícil já antes mesmo da guerra.
É proibido usar internet, as ligações telefônicas são muito difíceis e precárias. E o governo iraquiano tenta controlar ao máximo as informações passadas pelos jornalistas aos seus países de origem.
Com o início do ataque americano, as comunicações certamente serão alvo prioritário.
(SÉRGIO DÁVILA)


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