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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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ISOLAMENTO

Powell não comparece à reunião no CS; ministros da França, da Alemanha e da Rússia fazem críticas aos EUA

"Dia é triste para a ONU", diz Annan

Gregory Bull/Associated Press
Hans Blix, chefe dos inspetores, escuta pronunciamentos em reunião do Conselho de Segurança


DE NOVA YORK

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, lamentou ontem que as negociações diplomáticas no Conselho de Segurança (CS) não tenham sido concluídas com a adoção de uma solução pacífica para a crise iraquiana.
"Esse é um dia triste para a ONU. Sei que milhões de pessoas em todo o mundo compartilham esse sentimento de desapontamento e estão profundamente alarmadas", afirmou.
Annan disse ao embaixador americano na ONU, John Negroponte, que seu país terá a obrigação de resguardar a população civil iraquiana.
"Sob a lei internacional, a responsabilidade por proteger os civis é de quem está combatendo", afirmou, completando: "Em qualquer área sob ocupação militar, a responsabilidade pelo bem-estar da população recai sobre a força que ocupa", disse Annan.
Os EUA voltaram a ser atacados ontem por França, Alemanha e Rússia numa reunião já esvaziada do CS, em Nova York.
Mas, desta vez, os americanos abertamente mostraram que não iriam mais gastar energia nas discussões no órgão. Aliás, nem os americanos nem a maior parte dos membros.
Era para ser uma reunião entre os ministros e responsáveis pela diplomacia dos 15 países-membros do órgão. Mas o encarregado pela função no governo americano, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, não apareceu.
E ainda pior: no mesmo momento em que o CS se reunia em Nova York, o secretário americano estava num encontro privado com o ministro das Relações Exteriores de Angola, João Bernardo de Miranda. O país africano, que também tem vaga no CS, era um dos votos considerados indefinidos caso uma resolução autorizando a guerra fosse levada a votação.
Assim como Powell, também não apareceram seu colega britânico, Jack Straw, e sua colega espanhola, Ana Palacios, os dois principais aliados dos americanos no CS.
Tampouco estiveram na reunião os ministros de outros países cujo voto era considerado indefinido, e os holofotes, assim, sobraram todos para os enviados de França, Alemanha e Rússia, que se opõem aos EUA.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Igor Ivanov, disse que seu país ajudaria "se houvesse hoje fatos inquestionáveis que demonstrassem que o Iraque é uma ameaça direta aos EUA". Na opinião dele, tal prova não foi produzida.
"A Alemanha enfaticamente rejeita a guerra", disse o ministro Joschka Fischer.
Na mesma linha foi seu colega francês, Dominique de Villepin: "O uso da força nesta região, que é tão instável, pode exacerbar as tensões e fraturas que alimentam os terroristas", afirmou.

Petróleo
Annan disse ainda que prepara ajustes no programa de troca de petróleo iraquiano por alimentos para sua população e que levaria suas idéias ao CS.
EUA e Reino Unido disseram que têm uma proposta, que poderia ser votada logo após o início do conflito, para utilizar o óleo do país como moeda para pagar ajuda durante a guerra.
"A infra-estrutura vital do país está devastada, então não são cumpridas mais as mais básicas necessidades de água potável, saúde e educação", disse Annan. Segundo ele, mais de 60% das população depende de rações e "muitas famílias têm de vender parte delas para comprar remédios ou roupa para suas crianças."


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