UOL


São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo e empresas tentam reduzir prejuízo da mídia com a guerra

DE WASHINGTON

Empresas de comunicação e o governo dos EUA estão trabalhando em conjunto para reduzir os efeitos da guerra contra o Iraque no faturamento da mídia americana. A estratégia foi montada após análise da perda publicitária que as empresas sofreram durante a Guerra do Golfo (1991).
A estratégia do Pentágono para a mídia foi batizada como "embedded with troops" (na cama com as tropas). Estimulados até pelo nome, críticos afirmam que o governo estaria "retribuindo" um clima pró-guerra que as principais emissoras, e alguns dos maiores jornais americanos, vêm adotando há alguns meses.
A "simbiose" entre os meios e os militares deve resultar em uma cobertura maciça da guerra, com centenas de jornalistas acompanhando as tropas. Visa minimizar perdas na receita publicitária e reduzir os custos da cobertura.
"Temos de ver como isso vai funcionar", disse à Folha Michael Getler, ombudsman do "Washington Post". Há um mês, o jornal publicou editorial de meia página para se defender da acusação de leitores de que estaria agindo a favor da guerra.
Em fevereiro, o Pentágono tinha a expectativa de levar 500 jornalistas para a região do Golfo. Na semana passada, a lista foi ampliada para 600 pessoas.
A estratégia das emissoras e jornais é criar um clima mais "amigável" com seu público a partir do local do conflito. Isso diminuiria, por exemplo, o risco para as TVs de contar apenas com imagens cedidas pelos militares.
Em 91, as três maiores emissoras de TV dos Estados Unidos, ABC, NBC e CNN, tiveram prejuízos estimados de US$ 25 milhões (R$ 85 milhões) ao dia com o cancelamento de anúncios de clientes que não quiseram ter produtos vinculados à guerra.
Para a mídia impressa, o resultado foi semelhante. Nos primeiros dias da guerra, peças de grandes anunciantes simplesmente desapareceram das páginas de jornais e revistas.
Ao mesmo tempo, os custos para a cobertura do conflito aumentaram da noite para o dia. Para cobrir esta guerra, a CNN reservou um orçamento de US$ 35 milhões -contra os US$ 25 milhões gastos no primeiro conflito.
O cenário hoje é mais sombrio pelo fato de grande parte da mídia norte-americana estar endividada após pesados investimentos feitos durante a chamada "bolha tecnológica". Há dois anos, houve pesados aportes em produtos e serviços voltados à internet que não resultaram lucrativos até agora.
Para evitar o estrago de 91, a vice-presidente de comunicações do "The New York Times", Catherine Mathis, diz que o jornal deverá separar toda a cobertura da guerra em um caderno específico para desvincular o noticiário bélico da publicidade. (FERNANDO CANZIAN)


Texto Anterior: "Dia é triste para a ONU", diz Annan
Próximo Texto: Imagem dos Estados Unidos fica arranhada até entre seus aliados
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.