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Governo e empresas tentam reduzir prejuízo da mídia com a guerra
DE WASHINGTON
Empresas de comunicação e o
governo dos EUA estão trabalhando em conjunto para reduzir
os efeitos da guerra contra o Iraque no faturamento da mídia
americana. A estratégia foi montada após análise da perda publicitária que as empresas sofreram
durante a Guerra do Golfo (1991).
A estratégia do Pentágono para
a mídia foi batizada como "embedded with troops" (na cama
com as tropas). Estimulados até
pelo nome, críticos afirmam que
o governo estaria "retribuindo"
um clima pró-guerra que as principais emissoras, e alguns dos
maiores jornais americanos, vêm
adotando há alguns meses.
A "simbiose" entre os meios e
os militares deve resultar em uma
cobertura maciça da guerra, com
centenas de jornalistas acompanhando as tropas. Visa minimizar
perdas na receita publicitária e reduzir os custos da cobertura.
"Temos de ver como isso vai
funcionar", disse à Folha Michael
Getler, ombudsman do "Washington Post". Há um mês, o jornal publicou editorial de meia página para se defender da acusação
de leitores de que estaria agindo a
favor da guerra.
Em fevereiro, o Pentágono tinha a expectativa de levar 500 jornalistas para a região do Golfo. Na
semana passada, a lista foi ampliada para 600 pessoas.
A estratégia das emissoras e jornais é criar um clima mais "amigável" com seu público a partir do
local do conflito. Isso diminuiria,
por exemplo, o risco para as TVs
de contar apenas com imagens
cedidas pelos militares.
Em 91, as três maiores emissoras de TV dos Estados Unidos,
ABC, NBC e CNN, tiveram prejuízos estimados de US$ 25 milhões
(R$ 85 milhões) ao dia com o cancelamento de anúncios de clientes
que não quiseram ter produtos
vinculados à guerra.
Para a mídia impressa, o resultado foi semelhante. Nos primeiros dias da guerra, peças de grandes anunciantes simplesmente
desapareceram das páginas de
jornais e revistas.
Ao mesmo tempo, os custos para a cobertura do conflito aumentaram da noite para o dia. Para cobrir esta guerra, a CNN reservou
um orçamento de US$ 35 milhões
-contra os US$ 25 milhões gastos no primeiro conflito.
O cenário hoje é mais sombrio
pelo fato de grande parte da mídia
norte-americana estar endividada
após pesados investimentos feitos
durante a chamada "bolha tecnológica". Há dois anos, houve pesados aportes em produtos e serviços voltados à internet que não resultaram lucrativos até agora.
Para evitar o estrago de 91, a vice-presidente de comunicações
do "The New York Times", Catherine Mathis, diz que o jornal
deverá separar toda a cobertura
da guerra em um caderno específico para desvincular o noticiário
bélico da publicidade.
(FERNANDO CANZIAN)
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