São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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HISTÓRIA

Ferramenta de busca do museu israelense Yad Vashem permite achar dados buscando nome, sobrenome e local

Site ajuda a pesquisar vítimas do Holocausto

GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO

Sobrevivente de Auschwitz, Aleksander Laks, 79, se emocionou ao descobrir na internet a história de toda a sua família -ele perdeu a madrasta, a quem considerava sua mãe, numa câmara de gás, e o pai, morto a pauladas pelos nazistas.
"De 40, 50, somente sobrou eu", disse o presidente da Associação Brasileira dos Israelitas Sobreviventes da Perseguição Nazista em entrevista à Folha nesta semana.
Autor do livro "O Sobrevivente -Memórias de Um Brasileiro que Escapou de Auschwitz", Laks pesquisou sobre sua família no site www.yadvashem.org, disponibilizado pelo Yad Vashem, o museu do Holocausto de Jerusalém, desde novembro do ano passado.
A história de milhões de judeus que foram vítimas do Holocausto está disponível no site do museu, permitindo que sobreviventes, parentes de vítimas e estudiosos pesquisem por nome ou local para saber o que aconteceu com cada uma das pessoas na "Shoah" (Holocausto em hebraico).
O texto do site já indica a dimensão do trabalho, ao afirmar que 6 milhões de judeus foram mortos pelos nazistas e que a história de metade deles está disponível na internet. No entanto alguns dos nomes que aparecem são de sobreviventes.
Antes, era necessário ir até o museu, em Jerusalém, para fazer uma pesquisa detalhada.
A família de Laks vivia no gueto de Lodz (Polônia). Em 1944, os nazistas os capturaram e os levaram para Auschwitz. A madrasta, Bolcia, foi morta na câmara de gás. Os nazistas mataram o pai, Jacob, posteriormente, a pauladas. Laks sobreviveu com 28 kg distribuídos em 1,69 m e veio viver no Brasil anos depois.
Com depoimentos gravados espalhados por museus em todo o mundo, Laks afirma que o site é muito importante para que as pessoas pesquisem a história de suas famílias e das vítimas do Holocausto. No seu caso, diz, há problemas de datas, mas ele acrescenta que irá atualizar o museu do Holocausto em Jerusalém para que sejam feitas as correções. "Mas isso não diminui a importância da iniciativa", afirma.

Trabalho de pesquisa
Para escrever "Shach - As Lições de um Sábio", Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras, necessitou de cinco anos de pesquisa, que teve início após ter acesso a dados colhidos por um primo na Tchecoslováquia, e prosseguiu com visitas a uma biblioteca na Holanda e ao museu em Jerusalém.
O escritor afirma que o site, sem dúvida, o ajudaria nas pesquisas sobre a sua família -Niskier conseguiu importantes informações ao colocar sobrenomes no mecanismo de busca do Yad Vashem, ressaltando que as pessoas precisam sempre se recordar do que ocorreu. "É uma sensação de revolta permanente", disse à Folha. Entre os parentes que aparecem no site estão o seu pai e a sua mãe.

Personalização
Segundo o museu, a iniciativa tem como um dos principais objetivos personalizar cada uma das vítimas. Tanto que a página de entrada do mecanismo de busca cita uma frase de uma carta de uma vítima: "Eu gostaria que alguém soubesse que um dia viveu uma pessoa chamada David Berger".
Até agora, já foram feitas 3,2 milhões de pesquisas no site. Os nomes mais procurados são Yaacov (110.632), Moshe (88.550), Rachel (88.620), Chana (86.527) e Sara (85.083). Entre os países, há 1.260.256 fichas de pessoas da Polônia, 225.284 fichas da Alemanha, 198.189 da antiga URSS, 163.628 da Romênia, 124.591 da Tchecoslováquia e 100 mil da Holanda.


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