São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

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Quarteto cobra recuo de Israel em Jerusalém

Grupo, que tenta mediar acordo no Oriente Médio, condena anúncio que abortou retomada de conversas com palestinos

Representantes de EUA, UE, ONU e Rússia apoiam plano de negociação indireta; para chanceler israelense, grupo "danifica perspectiva de paz"


Alexander Zemlianichenko/Associated Press
Chanceler dos EUA, Hillary Clinton, conversa com enviado para o Oriente Médio,George Mitchell, em reunião do Quarteto em Moscou

DA REDAÇÃO

Os representantes do chamado Quarteto para o Oriente Médio (EUA, Rússia, ONU e União Europeia) reiteraram ontem a condenação à decisão israelense de autorizar uma nova leva de construções em Jerusalém Oriental, que abortou nesta semana uma esperada retomada das conversas com os palestinos, emperradas há 15 meses.
Reunido em Moscou, o grupo que tenta mediar um acordo de paz na região cobrou o compromisso das partes com o plano de negociações indiretas, sob mediação dos EUA, que fora acertado apenas dias antes da eclosão da nova crise regional.
Em comunicado lido pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao final do encontro, o Quarteto condenou "ações unilaterais" e "provocações" e reforçou meta de que, depois da retomada das negociações, o Estado palestino seja viabilizado em um prazo de dois anos.
Inicialmente previstas para começar nesta semana, as conversas "por aproximação", passo anterior às negociações diretas entre Israel e ANP (Autoridade Nacional Palestina), tiveram de ser abortadas após o governo israelense autorizar a construção de 1.600 novos apartamentos na porção oriental de Jerusalém.
Ocupada por Israel em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, a região é reivindicada como a capital de um futuro Estado palestino. O governo israelense, porém, rejeita dividir a cidade.
O anúncio, feito durante visita do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, a Israel, foi considerado um "insulto" pelo governo americano e motivou princípio de crise entre os históricos aliados, levando as relações bilaterais ao pior momento em anos.
Ontem, no entanto, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, também presente à reunião do Quarteto -a primeira desde junho do ano passado-, deu sinal de que o atrito está superado ao qualificar de "úteis e produtivas" as respostas dadas pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu, numa conversa anteontem à noite.
O teor da conversa telefônica não foi revelado, mas relatos davam conta de "gestos" para o aumento da confiança no diálogo e discrição em medidas ligadas a Jerusalém Oriental -forma de atender às cobranças internacionais e ao mesmo tempo não melindrar a linha dura que sustenta o atual governo.
Amanhã, o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell -que cancelara ida a Israel na terça-feira-, será recebido por Netanyahu.
Entre segunda e terça, o premiê estará nos EUA, onde se reunirá com Hillary e, segundo a TV americana Fox News, com o presidente Barack Obama.
À agência de notícias Reuters o representante especial do Quarteto, o ex-premiê britânico Tony Blair, disse que "um pacote de medidas" não reveladas destravará as negociações regionais "nos próximos dias".
Participaram ainda do encontro em Moscou a chanceler da UE, Catherine Ashton, que na véspera estivera em Israel, na Cisjordânia e na faixa de Gaza, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, que se disse "convencido de que o governo israelense entendeu a mensagem dada".

Reações
As declarações do Quarteto, porém, foram duramente criticadas pelo chanceler de Israel, Avigdor Liberman, para quem as cobranças do grupo "danificam as possibilidades de acordo e distanciam perspectivas de paz no Oriente Médio". "A paz não pode se impor de maneira artificial e com um calendário irreal", afirmou.
O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, afirmou em nota considerar "muito importante" o comunicado. "Mas mais importante é que Israel corresponda para lançar a paz."

Com agências internacionais



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