São Paulo, domingo, 20 de março de 2011 |
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OPINIÃO De cima, discernimento entre quem é aliado e quem é inimigo é inviável JOHN NICHOL DO "GUARDIAN" O que está ocorrendo na Líbia é muito diferente da zona de exclusão aérea de que participei na Bósnia durante três meses como piloto do Tornado F3 em 1994 e 1995. As medidas anunciadas não são exatamente uma zona de exclusão aérea. Parece mais um protetorado da ONU em Benghazi. Mas já é possível ver quais são os perigos que teremos pela frente. É óbvio que alguns caças líbios estão atacando alvos civis, e há pouca dúvida em torno da possibilidade de parar tal ação. Não está claro o que significa o termo da resolução "tudo que for necessário será imposto". Os caças serão autorizados a atacar as forças do ditador líbio no solo, assim como o comando militar e a estrutura de controle? Isso aumentaria o envolvimento da Otan. Srebrenica foi um clássico exemplo de quando o avanço das forças inimigas é permitido, com 8.000 civis, a maior parte homens e garotos, mortos pelos sérvios da Bósnia, e cerca de 30 mil alvos de limpeza étnica. Meus colegas da ONU permitiram que isso acontecesse. Mas na Líbia há problemas singulares: muitos não usam equipamentos militares facilmente identificáveis, e tentar diferenciar amigo de inimigo será um grande desafio. A diferença entre uma camionete com forças de Gaddafi e uma com refugiados não é fácil de ver no ar. Ninguém quer errar. Há também o problema dos helicópteros. A zona de exclusão aérea na Bósnia conseguiu impedir muitas incursões de jatos; helicópteros eram um outro problema. Nenhum helicóptero foi abatido, por questões de identificação-todos disfarçavam seus helicópteros com símbolos da Cruz Vermelha ou da ONU. Quem estava disposto a correr o risco? Outros problemas incluem o controle do comando e a cooperação. Como explicar para os rebeldes em Benghazi as diferenças entre um Tornado RAF e um caça líbio Flogger? Sabemos que um caça líbio foi derrubado ontem, mas quem estava pilotando o avião -um rebelde ou um membro da tropa de Gaddafi? Todas as imagens dos rebeldes sugerem que eles estão felizes em atirar a esmo em qualquer coisa. Talvez o mais importante: será que ninguém definiu qual deve ser o objetivo militar final? Se o regime de Gaddafi entrar em colapso ou falhar por causa da pressão, ainda ficaremos com a questão: "O que virá a seguir?" Essa questão nunca foi feita no Iraque ou no Afeganistão, e nós só esperamos que os políticos tenham aprendido com os erros desastrosos do passado. JOHN NICHOL serviu à RAF (Real Força Aérea Britânica) no Golfo, na Bósnia e nas Malvinas Texto Anterior: Imprensa: Jornalista é assassinado em Benghazi Próximo Texto: Egípcios fazem fila para votar reforma constitucional Índice | Comunicar Erros |
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