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O NOVO PAPA
NA TERRA NATAL
Alemães se dividem sobre Ratzinger
Perfil conservador é visto com reservas por católicos do país, que enfrenta atritos com Vaticano e onde religião perde adeptos
SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE HEIDELBERG
Não foi com a euforia dos romanos que os alemães receberam a
notícia da eleição de Joseph Ratzinger, o primeiro papa alemão
desde Adriano 6º, morto em 1523.
Festa mesmo só aconteceu na pequena Marktl, à beira do rio Inn,
cidade natal de Bento 16, e em Regensburg, onde ele lecionou, na
católica e conservadora Baviera.
A reserva dos alemães não surpreende. Apesar de reconhecido
como grande teólogo e intelectual, Ratzinger foi o braço direito
de João Paulo 2º, cuja linha conservadora sempre enfrentou resistência tanto dentro da Igreja
como entre os fiéis alemães, aqui
muito organizados em associações católicas leigas.
Pouco depois das primeiras palavras de Ratzinger como papa
Bento 16, os chefes das associações "Nós somos a Igreja" e "Igreja de baixo", por exemplo, defensores de uma Igreja católica renovada, já declaravam nas principais TVs alemãs considerar uma
"catástrofe" a escolha do bávaro.
Os maiores conflitos entre Roma e os católicos alemães aconteceram há pouco mais de cinco
anos, quando o então papa João
Paulo 2º proibiu a Igreja alemã de
oferecer centros de orientação para jovens grávidas. Aqui, o aborto
só é permitido no início da gravidez e depois de a mulher passar
por um aconselhamento. Até o final dos anos 90, a Igreja Católica
era a principal instituição a fazer
esse aconselhamento.
Na mesma época, João Paulo 2º
proibiu nas missas católicas a
concessão da eucaristia para cristãos protestantes. Uma decisão
ousada, considerando que a Alemanha é um país de católicos
(33%) e protestantes (32%) e de
forte tradição ecumênica.
Foram vários os religiosos alemães excomungados por terem
administrado a eucaristia para
protestantes. O caso mais conhecido é de Gotthold Hasenhüttl,
professor emérito da Universidade de Saarbrücken, oeste do país.
A escolha de um papa alemão
acontece em uma época crítica
para a Igreja Católica do país. O
número de católicos vem caindo
constantemente (passou de 28
milhões em 1992 para 26 milhões
em 2004), e com ele a contribuição paga pelos fiéis.
Além disso, cada vez menos jovens alemães se dispõem a seguir
a carreira de padre. A falta de sacerdotes atinge várias paróquias,
onde não há condições para exercer atividades básicas, como a catequese de crianças e jovens.
As primeiras pesquisas de opinião mostram o desejo dos alemães de discutir todos esses problemas com seu novo papa.
A primeira oportunidade deve
vir logo: uma das primeiras viagens de Bento 16 será para Colônia, em agosto, quando acontecerá o 20º Congresso Internacional
da Juventude. O evento deverá
reunir um milhão de pessoas.
"Grande honra"
Mas os percalços não impediram os alemães de manifestarem
júbilo. "O fato de um conterrâneo
ter se tornado papa enche nós,
alemães, com uma alegria especial e um pouco de orgulho", disse
o presidente Horst Köhler.
O chanceler (premiê) Gerhard
Schröder referiu-se à eleição como "uma grande honra para nosso país inteiro" e a Ratzinger como um "sucessor valoroso" para
João Paulo 2º. "No papa Bento 16,
foi escolhido um papa que conhece a igreja mundial como ninguém mais", afirmou.
Já entre os alemães espalhados
pela praça São Pedro no momento do anúncio, a reação foi mais
emocional e menos uniforme.
Houve alegria, mas também houve manifestações de surpresa e,
principalmente, de decepção entre os que esperavam um pontífice com visões mais progressivas.
A bávara Evelyn Strauch, 54, levou as mãos à cabeça enquanto a
multidão à sua volta explodia em
aplausos e gritos de "vida longa ao
papa". "Isso não pode ser verdade", disse Stauch, que vai à missa
assiduamente. "Tinha tanta esperança de termos um papa que fizesse algo pelas mulheres. Vendo
quão ruim as coisas estão para as
mulheres na igreja, isso é terrível.
Ele é muito conservador."
O hamburguês Niels Hendrich,
40, pulou de alegria ao ver a fumaça branca que sinalizava a escolha
do novo papa. Mas, quando o nome foi anunciado, sua expressão
mudou para um sorriso amarelo,
e suas mãos pararam no meio do
aplauso. "Não estou nada feliz
com isso. Ratzinger vai colocar
freios em todos os movimentos
progressistas que eu apóio."
Os mais novos, no entanto, pareciam mais alegres. "Este é o momento mais comovente da minha
vida", declarou Fabrizio Micalizzi, 22, estudante de Baden-Baden.
Adriano 6º nasceu em Utrecht.
Esta é situada hoje na Holanda,
mas pertencia ao Sacro Império
Romano Germânico em 1459,
quando ele nasceu.
Com agências internacionais
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