São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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POR TRÁS DO NOME

Santo é considerado o fundador do monasticismo no Ocidente

Escolha homenageia são Bento

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Se o nome escolhido por um papa guarda pistas de seu pontificado, com Joseph Ratzinger -o papa Bento 16- pode-se esperar que a Igreja Católica se volte mais para a Europa, a reflexão e a busca de maior contato com as religiões orientais. Principalmente, pode-se esperar a igreja mais vazia, porém mais firme em suas posições.
Para especialistas ouvidos pela Folha, a escolha remete mais a são Bento, que viveu de 480 a 540 (datas aproximadas), do que ao último papa Bento, o 15 (1914-1922), que tentou ser um conciliador durante a Primeira Guerra.
Nascido na região de Nursia, hoje na Itália, são Bento é tido como o fundador do monasticismo ocidental e um dos padroeiros da Europa. Sua ordem beneditina foi uma das responsáveis por preservar o conhecimento da antigüidade quando o acesso ao saber era restrito.
"São Bento viveu em um momento histórico de caos moral e militar, onde você tem a dissolução do Império Romano", diz o professor e teólogo Luis Felipe Pondé, da PUC-SP. A vida monástica traçada por são Bento tinha como centro o amor a Deus e se baseava em oração e estudo. Sob a luz da homilia de Ratzinger na missa que abriu o conclave na segunda, a igreja deve adotar nos próximos anos o espírito de voltar-se para si.
"O movimento [iniciado por são Bento] é caracterizado como uma recusa ao mundo, uma crítica ao mundo. Acho que isso é uma chave para ler o Ratzinger", diz Pondé "Ele prefere uma igreja com menos católicos, mas com católicos de fato."
Na homilia, o sacerdote alemão pregou contra o "relativismo" e defendeu "uma fé clara segundo o credo da igreja". "Ratzinger acha que vivemos numa época de falta de discernimento", afirma Pondé.
Dom João Evangelista Kovas, monge-sacerdote do Mosteiro de São Bento de São Paulo, concorda. "Ele acha que é hora de repensar a igreja em termos monásticos, valorizar uma espiritualidade sapiencial, não só fundamentada em práticas, mas em reflexões."
O sacerdote vê mais três razões para a escolha do nome Bento. A primeira, diz, é a quitação de uma "dívida histórica". "A Europa, incluindo a Alemanha, foi praticamente evangelizada pelos monges beneditinos após a queda do Império Romano e da dominação dos povos bárbaros", lembra.
Outro ponto é o conhecimento, ao qual a história beneditina está muito ligada. "Ratzinger foi uma estrela de primeira grandeza da teologia no século 20. Assumindo o nome Bento, ele tem uma perspectiva de retomar esses valores da cultura européia e de debater com as correntes teológicas-filosóficas, algo que ele fez ao longo da vida."
Finalmente, afirma dom João, pesa uma evocação feita pelo antecessor de Bento 16, João Paulo 2º. "Ele pediu que os beneditinos assumissem o diálogo intra-religião, sobretudo no Oriente, onde muitas religiões têm uma feição monástica."


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