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POR TRÁS DO NOME
Santo é considerado o fundador do monasticismo no Ocidente
Escolha homenageia são Bento
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
Se o nome escolhido
por um papa guarda pistas de seu pontificado,
com Joseph Ratzinger
-o papa Bento 16- pode-se esperar que a Igreja
Católica se volte mais para a Europa, a reflexão e a
busca de maior contato
com as religiões orientais. Principalmente, pode-se esperar a igreja
mais vazia, porém mais
firme em suas posições.
Para especialistas ouvidos pela Folha, a escolha
remete mais a são Bento,
que viveu de 480 a 540
(datas aproximadas), do
que ao último papa Bento, o 15 (1914-1922), que
tentou ser um conciliador durante a Primeira Guerra.
Nascido na região de Nursia,
hoje na Itália, são Bento é tido
como o fundador do monasticismo ocidental e um dos padroeiros da Europa. Sua ordem
beneditina foi uma das responsáveis por preservar o conhecimento da antigüidade quando
o acesso ao saber era restrito.
"São Bento viveu em um momento histórico de caos moral e
militar, onde você tem a dissolução do Império Romano", diz
o professor e teólogo Luis Felipe
Pondé, da PUC-SP. A vida monástica traçada por são Bento tinha como centro o amor a Deus
e se baseava em oração e estudo. Sob a luz da homilia de Ratzinger na missa que abriu o
conclave na segunda, a igreja
deve adotar nos próximos anos
o espírito de voltar-se para si.
"O movimento [iniciado por
são Bento] é caracterizado como uma recusa ao mundo, uma
crítica ao mundo. Acho que isso
é uma chave para ler o Ratzinger", diz Pondé "Ele prefere
uma igreja com menos católicos, mas com católicos de fato."
Na homilia, o sacerdote alemão pregou contra o "relativismo" e defendeu "uma fé clara
segundo o credo da igreja".
"Ratzinger acha que vivemos
numa época de falta de discernimento", afirma Pondé.
Dom João Evangelista
Kovas, monge-sacerdote
do Mosteiro de São Bento de São Paulo, concorda. "Ele acha que é hora
de repensar a igreja em
termos monásticos, valorizar uma espiritualidade sapiencial, não só
fundamentada em práticas, mas em reflexões."
O sacerdote vê mais
três razões para a escolha
do nome Bento. A primeira, diz, é a quitação
de uma "dívida histórica". "A Europa, incluindo a Alemanha, foi praticamente evangelizada
pelos monges beneditinos após a queda do Império Romano e da dominação dos povos bárbaros", lembra.
Outro ponto é o conhecimento, ao qual a história beneditina
está muito ligada. "Ratzinger foi
uma estrela de primeira grandeza da teologia no século 20.
Assumindo o nome Bento, ele
tem uma perspectiva de retomar esses valores da cultura européia e de debater com as correntes teológicas-filosóficas, algo que ele fez ao longo da vida."
Finalmente, afirma dom João,
pesa uma evocação feita pelo
antecessor de Bento 16, João
Paulo 2º. "Ele pediu que os beneditinos assumissem o diálogo
intra-religião, sobretudo no
Oriente, onde muitas religiões
têm uma feição monástica."
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