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O NOVO PAPA
REPERCUSSÃO
Papa buscará "deixar sua marca", diz CNBB
Clero brasileiro se divide sobre a escolha de Joseph Ratzinger, que tem "personalidade forte", como substituto de João Paulo 2º
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente interino da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), dom Antônio Celso
Queirós, substituto do cardeal
dom Geraldo Majella Agnelo, que
participou da escolha do novo sumo pontífice, disse que o novo papa, o cardeal Joseph Ratzinger,
tem "temperamento forte" e irá
"querer imprimir sua marca".
Questionado sobre as posições
conservadoras que Ratzinger teve
como cardeal, dom Antônio relativizou. Disse que Bento 16, nome
escolhido pelo cardeal alemão,
poderá surpreender como João
23 (1881-1963) que, ao ser eleito,
parecia ser um mero seguidor do
papa anterior, mas acabou "revolucionando a Igreja", promovendo uma abertura não esperada e o
Concílio Vaticano 2º.
Ele afirmou ainda que a escolha
do cardeal não foi "surpresa" para
a CNBB, que olha "com olhos de
igreja" e para quem "o papa é
sempre papa, seja quem for".
Dom Odilo Scherer
Numa alusão à atuação de Joseph Ratzinger na repressão à
Teologia da Libertação, o secretário-geral da CNBB, d. Odilo Scherer, disse que a imagem do novo
papa é equivocada, produto de
clichês. E sugeriu: "Deixemo-nos
surpreender".
Segundo d. Odilo, "em muitos
aspectos, o papa há de ser conservador e será mesmo". Um exemplo é a condenação ao aborto.
"Em outros [como na área social],
terá de ser progressista e será
mesmo." D. Odilo admitiu, no entanto, que a escolha de um papa
de 78 anos "indica uma opção por
um pontificado mais breve".
Aloísio Lorscheider
O cardeal e arcebispo emérito
de Aparecida, d. Aloísio Lorscheider, 80, disse ontem, por meio de
nota: ""Saudamos o novo papa
Bento 16 -cheios da mais pura
esperança. Ele prosseguirá nas
mesmas veredas dos seus antecessores. Podemos ter certeza".
D. Mauro
A direção que a Igreja Católica
vai seguir daqui para a frente ainda é uma incógnita na avaliação
de d. Mauro Morelli, 69, que deixou a diocese de Duque de Caxias
no fim de março para se dedicar a
projetos de segurança alimentar.
Segundo d. Mauro, 69, integrante da chamada ala progressista da igreja, as credenciais conservadoras do novo papa ainda não
são suficientes para estabelecer as
diretrizes que a igreja vai seguir
no futuro. "É um tempo novo,
uma situação nova, cabe a ele decidir qual o rumo que a compreensão da fé deve tomar", disse.
Dom Mauro lembrou que nem
sempre Ratzinger teve o perfil
conservador dos últimos anos e
que parte dessa posição assumida
pode ser atribuída ao cargo exercido por ele na Congregação para
a Doutrina da Fé.
Núncio
O núncio apostólico no Brasil,
dom Lorenzo Baldisseri, disse que
Joseph Ratzinger é "um dos mais
importantes teólogos do século
20". "Ele será capaz de compreender as realidades porque tem a segurança da fé católica. Terá como
atualizar temas quentes", afirmou
o núncio, que representa o Vaticano. Segundo d. Lorenzo, o papa
João Paulo 2º foi um grande filósofo e Joseph Ratzinger é mais
teólogo.
Liberais e progressistas
"Aqui, na periferia do mundo,
trabalhando entre catadores de
papel, vejo a eleição do novo papa
com uma profundíssima decepção", disse o irmão marista Antonio Cechin, em Porto Alegre (RS).
"O pontificado será mais conservador e mais fechado."
O padre Benedito Ferraro, 59, vê
"uma faceta conservadora muito
grande" na escolha do novo papa.
"Pessoalmente, não me alegrei
com a eleição", diz. Assessor da
pastoral de Campinas (SP), Ferraro sofreu críticas pela interpretação política que fez de Jesus.
O beneditino Marcelo Barros,
60, que apóia os sem-terra em
Goiás, achou "previsível" a eleição do novo papa. Barros sofreu
censura por criticar o documento
"Dominus Iesus", de Ratzinger.
"Era o cardeal mais famoso, teólogo de prestígio. Pareceu aos outros cardeais que ele conhecia
mais a situação internacional".
"O cardeal Ratzinger não tem o
carisma, a comunicabilidade de
João Paulo 2º. Técnico e mais frio,
pelo estilo alemão, ele pode levar
a igreja a uma posição mais simples, descentralizada".
Colaboraram a Sucursal do Rio, a Sucursal Brasília e a Agência Folha
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