São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

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O NOVO PAPA

REPERCUSSÃO

Papa buscará "deixar sua marca", diz CNBB

Clero brasileiro se divide sobre a escolha de Joseph Ratzinger, que tem "personalidade forte", como substituto de João Paulo 2º

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente interino da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Antônio Celso Queirós, substituto do cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, que participou da escolha do novo sumo pontífice, disse que o novo papa, o cardeal Joseph Ratzinger, tem "temperamento forte" e irá "querer imprimir sua marca".
Questionado sobre as posições conservadoras que Ratzinger teve como cardeal, dom Antônio relativizou. Disse que Bento 16, nome escolhido pelo cardeal alemão, poderá surpreender como João 23 (1881-1963) que, ao ser eleito, parecia ser um mero seguidor do papa anterior, mas acabou "revolucionando a Igreja", promovendo uma abertura não esperada e o Concílio Vaticano 2º.
Ele afirmou ainda que a escolha do cardeal não foi "surpresa" para a CNBB, que olha "com olhos de igreja" e para quem "o papa é sempre papa, seja quem for".

Dom Odilo Scherer
Numa alusão à atuação de Joseph Ratzinger na repressão à Teologia da Libertação, o secretário-geral da CNBB, d. Odilo Scherer, disse que a imagem do novo papa é equivocada, produto de clichês. E sugeriu: "Deixemo-nos surpreender".
Segundo d. Odilo, "em muitos aspectos, o papa há de ser conservador e será mesmo". Um exemplo é a condenação ao aborto. "Em outros [como na área social], terá de ser progressista e será mesmo." D. Odilo admitiu, no entanto, que a escolha de um papa de 78 anos "indica uma opção por um pontificado mais breve".

Aloísio Lorscheider
O cardeal e arcebispo emérito de Aparecida, d. Aloísio Lorscheider, 80, disse ontem, por meio de nota: ""Saudamos o novo papa Bento 16 -cheios da mais pura esperança. Ele prosseguirá nas mesmas veredas dos seus antecessores. Podemos ter certeza".

D. Mauro
A direção que a Igreja Católica vai seguir daqui para a frente ainda é uma incógnita na avaliação de d. Mauro Morelli, 69, que deixou a diocese de Duque de Caxias no fim de março para se dedicar a projetos de segurança alimentar.
Segundo d. Mauro, 69, integrante da chamada ala progressista da igreja, as credenciais conservadoras do novo papa ainda não são suficientes para estabelecer as diretrizes que a igreja vai seguir no futuro. "É um tempo novo, uma situação nova, cabe a ele decidir qual o rumo que a compreensão da fé deve tomar", disse.
Dom Mauro lembrou que nem sempre Ratzinger teve o perfil conservador dos últimos anos e que parte dessa posição assumida pode ser atribuída ao cargo exercido por ele na Congregação para a Doutrina da Fé.

Núncio
O núncio apostólico no Brasil, dom Lorenzo Baldisseri, disse que Joseph Ratzinger é "um dos mais importantes teólogos do século 20". "Ele será capaz de compreender as realidades porque tem a segurança da fé católica. Terá como atualizar temas quentes", afirmou o núncio, que representa o Vaticano. Segundo d. Lorenzo, o papa João Paulo 2º foi um grande filósofo e Joseph Ratzinger é mais teólogo.

Liberais e progressistas
"Aqui, na periferia do mundo, trabalhando entre catadores de papel, vejo a eleição do novo papa com uma profundíssima decepção", disse o irmão marista Antonio Cechin, em Porto Alegre (RS). "O pontificado será mais conservador e mais fechado."
O padre Benedito Ferraro, 59, vê "uma faceta conservadora muito grande" na escolha do novo papa. "Pessoalmente, não me alegrei com a eleição", diz. Assessor da pastoral de Campinas (SP), Ferraro sofreu críticas pela interpretação política que fez de Jesus.
O beneditino Marcelo Barros, 60, que apóia os sem-terra em Goiás, achou "previsível" a eleição do novo papa. Barros sofreu censura por criticar o documento "Dominus Iesus", de Ratzinger. "Era o cardeal mais famoso, teólogo de prestígio. Pareceu aos outros cardeais que ele conhecia mais a situação internacional".
"O cardeal Ratzinger não tem o carisma, a comunicabilidade de João Paulo 2º. Técnico e mais frio, pelo estilo alemão, ele pode levar a igreja a uma posição mais simples, descentralizada".


Colaboraram a Sucursal do Rio, a Sucursal Brasília e a Agência Folha

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