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Alemão, novo papa terá missão de recuperar a alma européia
CATHERINE PEPINSTER
DO "THE INDEPENDENT"
O cardeal Joseph Ratzinger, agora papa Bento 16, é
um papa para a Europa. Não pode
ser por acaso que ele escolheu o
nome de são Bento, santo padroeiro da Europa, para seu título
papal.
Como prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé, posto que
ocupou durante 23 anos sob o
pontificado de João Paulo 2º, Joseph Ratzinger passou a se preocupar cada vez mais com a secularização da Europa, com as ameaças à alma cristã do continente.
Parece extremamente provável
que os cardeais no conclave, dos
quais a maioria era européia, quiseram alguém que fosse capaz de
enfrentar a sua maior preocupação: a de que a Europa, antes o
centro da Igreja Católica, hoje seja
o continente perdido da igreja.
Eles vêm assistindo, alarmados,
à queda na presença dos católicos
na missa, ao esvaziamento dos seminários, à pouca inclinação dos
leigos em aceitar os ensinamentos
da igreja com relação à contracepção e ao fracasso dos casamentos
religiosos católicos.
Não que tal crise constitua novidade na Europa. Mas, na Europa
pós-moderna, os problemas vêm
sendo mais insidiosos. Hoje não é
apenas o catolicismo mas o cristianismo em geral que vem sendo
visto como pouco mais do que
uma opção de estilo de vida.
A visão que Joseph Ratzinger
tem da Europa ficou clara quando, no ano passado, ele se manifestou contra a candidatura da
Turquia para ingressar na União
Européia. Mas os temores em relação à Europa cristã são muitos
mais profundos. Existe a percepção de que o continente rico e materialista vem perdendo sua alma.
Poderá Bento 16 ajudá-lo a
reencontrá-la? Este é um papa que
sempre foi mais teólogo do que
pastor. Mas o papa precisa ser
pastor de seu rebanho, guiando 1
bilhão de católicos no mundo.
Talvez este Bento tome como
seu mentor o último papa Bento,
Bento 15, eleito em 1914, que buscou sobretudo a paz, tentando
dissuadir os EUA de entrarem na
guerra. Bento 15 encontrou uma
maneira de trabalhar com pessoas de muitas visões distintas.
A igreja, incluindo os progressistas que terão visto esta eleição
com alguma consternação, vai esperar do novo papa que ele una
essas tendências diversas.
Aqueles que conhecem Joseph
Ratzinger dizem que ele é um homem bondoso, dotado de inteligência aguda e que, às vezes, era
uma influência moderadora sobre João Paulo 2º. Foi ele, afinal,
quem se opôs ao desejo de João
Paulo de fazer dos ensinamentos
sobre o controle de natalidade um
dogma infalível.
E aqueles entre nós que queremos uma igreja que não seja afeita
a modismos, mas que pratique a
compaixão -uma igreja capaz de
começar a compreender por que
o uso de contraceptivos não constitui pecado, ou que o uso de camisinhas para combater a Aids na
África não é um mal-, devemos
prestar atenção ao fato de que Joseph Ratzinger assumiu o nome
de Bento. Pois a primeira palavra
das regras da ordem de São Bento,
pai da Europa, é a mais importante. É a palavra "ouça". Ouça, Bento 16, o povo da igreja, o povo da
Europa e o povo do mundo.
Catherine Pepinster é editora do
semanário católico "The Tablet"
Tradução de Clara Allain
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