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ÁSIA
Indicação de Manmohan Singh, introdutor de reformas econômicas, sinaliza forte mudança religiosa no governo indiano
Novo premiê da Índia é da minoria sikh
JEREMY COPELAND
DO "INDEPENDENT", EM NOVA DÉLI
O partido que prometeu à Índia
um governo secular forte dará ao
país seu primeiro premiê da minoria religiosa sikh. O ex-ministro das Finanças Manmohan
Singh aceitou ontem o convite do
presidente indiano para liderar o
próximo governo, uma semana
após o Partido do Congresso e
seus aliados terem conquistado
uma inesperada vitória eleitoral.
Depois de derrotar o Partido
nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP), a líder do Partido do
Congresso, Sonia Gandhi, era vista como a próxima primeira-ministra, mas, anteontem, ela surpreendeu ao anunciar que não
desejava o cargo.
Nascida na Itália, Gandhi era
objeto de hostilidade por parte de
nacionalistas radicais. Embora ela
não tenha explicado os motivos
de sua desistência, especula-se
que ela temia ter o mesmo destino
que sua sogra, Indira Gandhi, e
seu marido, Rajiv Gandhi: os dois
se tornaram premiês e foram assassinados por extremistas.
O partido se viu obrigado a procurar um substituto às pressas, ao
mesmo tempo em que os partidários de Gandhi promoviam manifestações pedindo que ela reconsiderasse sua decisão.
Mas Gandhi indicou Singh para
premiê, e ontem o Partido do
Congresso o ratificou como seu líder. Pouco depois, Gandhi e
Singh se reuniram com o presidente A.P.J. Abdul Kalam, que
convidou Singh a formar um governo. Ele deve tomar posse hoje.
Após a reunião, o futuro premiê
disse que as reformas na Índia vão
continuar com "rosto humano",
fornecendo uma rede forte de seguridade social e oferecendo novos empregos aos pobres.
"Não há motivo para pânico em
torno da política econômica", disse Singh, que também prometeu
manter as negociações de paz
com o Paquistão.
"Conheço minhas limitações,
mas, com o apoio de madame
[Gandhi], criaremos um futuro
brilhante", afirmou Singh. Gandhi disse não lamentar ter recusado o cargo de primeira-ministra.
"Acho que o país ficará em segurança sob a égide de Manmohan",
disse ela. "Venho sofrendo muitas
pressões. Agora estou feliz."
As Bolsas da Índia, que sofreram uma queda forte com a vitória do Partido do Congresso, se
recuperaram pelo segundo dia
consecutivo diante da notícia da
indicação de Singh. Havia temores em relação à potencial influência do Partido Comunista, do qual
o Partido do Congresso depende
para ter maioria.
Manmohan Singh, 71, nasceu
numa família sikh pobre no Estado de Punjab. Formado em economia em Oxford, entrou para a
política em 1991. Nos cinco anos
seguintes, foi ministro das Finanças da Índia. Quando ele assumiu
o cargo, o país estava à beira da falência. Singh lançou reformas que
transformaram a economia, modificando as leis tributárias e facilitando a cooperação comercial
entre empresas indianas e estrangeiras. Os resultados ainda estão
sendo sentidos, com o crescimento contínuo da economia.
A indicação de um premiê que
integra uma das minorias religiosas do país é simbólica de uma
mudança dramática no governo
da Índia. O Partido do Congresso
e seus aliados tinham prometido
que, se fossem eleitos, criariam
um governo secular. O BJP, que
está deixando o governo, é um
partido nacionalista hindu.
Cerca de 80% da população indiana, de mais de 1 bilhão de habitantes, é formada por hindus. Críticos do BJP acusavam o partido
de priorizar os direitos e necessidades dos hindus em relação aos
dos muçulmanos, sikhs e cristãos.
Durante a campanha eleitoral,
Gandhi disse que entrou na política para combater o BJP. Ela afirmou que, se o BJP não pudesse ser
derrotado, as políticas voltadas
aos hindus destruiriam o país.
Com Singh como premiê e um
muçulmano na Presidência, a Índia transmite a imagem de país
multicultural e multireligioso.
Tradução de Clara Allain
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