São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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ÁSIA

Indicação de Manmohan Singh, introdutor de reformas econômicas, sinaliza forte mudança religiosa no governo indiano

Novo premiê da Índia é da minoria sikh

JEREMY COPELAND
DO "INDEPENDENT", EM NOVA DÉLI

O partido que prometeu à Índia um governo secular forte dará ao país seu primeiro premiê da minoria religiosa sikh. O ex-ministro das Finanças Manmohan Singh aceitou ontem o convite do presidente indiano para liderar o próximo governo, uma semana após o Partido do Congresso e seus aliados terem conquistado uma inesperada vitória eleitoral.
Depois de derrotar o Partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP), a líder do Partido do Congresso, Sonia Gandhi, era vista como a próxima primeira-ministra, mas, anteontem, ela surpreendeu ao anunciar que não desejava o cargo.
Nascida na Itália, Gandhi era objeto de hostilidade por parte de nacionalistas radicais. Embora ela não tenha explicado os motivos de sua desistência, especula-se que ela temia ter o mesmo destino que sua sogra, Indira Gandhi, e seu marido, Rajiv Gandhi: os dois se tornaram premiês e foram assassinados por extremistas.
O partido se viu obrigado a procurar um substituto às pressas, ao mesmo tempo em que os partidários de Gandhi promoviam manifestações pedindo que ela reconsiderasse sua decisão.
Mas Gandhi indicou Singh para premiê, e ontem o Partido do Congresso o ratificou como seu líder. Pouco depois, Gandhi e Singh se reuniram com o presidente A.P.J. Abdul Kalam, que convidou Singh a formar um governo. Ele deve tomar posse hoje.
Após a reunião, o futuro premiê disse que as reformas na Índia vão continuar com "rosto humano", fornecendo uma rede forte de seguridade social e oferecendo novos empregos aos pobres.
"Não há motivo para pânico em torno da política econômica", disse Singh, que também prometeu manter as negociações de paz com o Paquistão.
"Conheço minhas limitações, mas, com o apoio de madame [Gandhi], criaremos um futuro brilhante", afirmou Singh. Gandhi disse não lamentar ter recusado o cargo de primeira-ministra. "Acho que o país ficará em segurança sob a égide de Manmohan", disse ela. "Venho sofrendo muitas pressões. Agora estou feliz."
As Bolsas da Índia, que sofreram uma queda forte com a vitória do Partido do Congresso, se recuperaram pelo segundo dia consecutivo diante da notícia da indicação de Singh. Havia temores em relação à potencial influência do Partido Comunista, do qual o Partido do Congresso depende para ter maioria.
Manmohan Singh, 71, nasceu numa família sikh pobre no Estado de Punjab. Formado em economia em Oxford, entrou para a política em 1991. Nos cinco anos seguintes, foi ministro das Finanças da Índia. Quando ele assumiu o cargo, o país estava à beira da falência. Singh lançou reformas que transformaram a economia, modificando as leis tributárias e facilitando a cooperação comercial entre empresas indianas e estrangeiras. Os resultados ainda estão sendo sentidos, com o crescimento contínuo da economia.
A indicação de um premiê que integra uma das minorias religiosas do país é simbólica de uma mudança dramática no governo da Índia. O Partido do Congresso e seus aliados tinham prometido que, se fossem eleitos, criariam um governo secular. O BJP, que está deixando o governo, é um partido nacionalista hindu.
Cerca de 80% da população indiana, de mais de 1 bilhão de habitantes, é formada por hindus. Críticos do BJP acusavam o partido de priorizar os direitos e necessidades dos hindus em relação aos dos muçulmanos, sikhs e cristãos.
Durante a campanha eleitoral, Gandhi disse que entrou na política para combater o BJP. Ela afirmou que, se o BJP não pudesse ser derrotado, as políticas voltadas aos hindus destruiriam o país. Com Singh como premiê e um muçulmano na Presidência, a Índia transmite a imagem de país multicultural e multireligioso.


Tradução de Clara Allain


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