São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Narcotráfico cresceu sob a passividade de 3 governos

DA REPORTAGEM LOCAL

O jornalista Ricardo Ravello defende a liberação das drogas leves para combater o narcotráfico e diz que o problema cresceu no México diante da passividade dos últimos três governos. Leia a continuação de sua entrevista à Folha. (RJL)

 

FOLHA - Os EUA deveriam descriminalizar o consumo de drogas?
RICARDO RAVELLO -
Essa situação só pode mudar se o consumo de drogas brandas for descriminalizado já. E é preciso investir muito em campanhas de prevenção, de recuperação de usuários, de desestímulo ao consumo. Valem até medidas radicais, como antidoping em empresas e universidades.

FOLHA - Além da enorme fronteira com os EUA, por que os grandes cartéis se mudaram para o México?
RAVELLO -
Durante três governos (Salinas, Zedillo e Fox), nada foi feito para se combater o narcotráfico para valer. Nada. E os cartéis descobriram uma polícia corrupta sob medida para lhe oferecer proteção. Corrupção da Justiça, da alfândega, da polícia. Quem controla a fronteira com os EUA impõe condições para cobrar pedágio para os carregamentos de droga.

FOLHA - Os cartéis colombianos encolheram no mesmo período.
RAVELLO -
No governo Gaviria, no início dos anos 90, Pablo Escobar foi morto, e os irmãos Rodríguez Orejuela, de Cali, foram extraditados. Seus herdeiros quiseram passar despercebidos. Abandonaram as mansões, a ostentação, os exércitos particulares e as pistolas cravejadas de diamantes. Viraram microemprésarios de sucesso. Houve uma reconfiguração empresarial. Hoje são 300 "baby-cartéis". Muitos atuam na Venezuela, onde há menos vigilância. Há vôos diários de Caracas à Cidade do México, e quase toda semana são encontradas drogas nesses vôos.

FOLHA - A violência no México também aumentou. Nisso eles se parecem com os velhos cartéis de Medellín e Cali?
RAVELLO -
A violência cresce como afirmação de poder. De cadáveres jogados num beco, como ajuste de contas, passamos a ver corpos decapitados na frente de quartéis do Exército.

FOLHA - O México vive a pior fase que a Colômbia já superou?
RAVELLO -
Sim, vivemos esse narcoterror, que ameaça o Estado. E com muito mais dinheiro, porque o mercado cresceu. Não é só cocaína. As drogas sintéticas viraram um fenômeno, como o ecstasy, o ice, o crystal, com custos de produção muito mais baixos. Há um boom inexplicável de farmácias nas cidades mexicanas, uma em cada esquina, e viramos um enorme importador de efedrina.

FOLHA - Mesmo sem nenhum surto de gripe ou pneumonia?
RAVELLO -
Sim, até o governo desconfiou. A efedrina vem da Alemanha, da China e da Índia, e serve de base na produção dessas drogas. O México tem milhares desses laboratórios, dominamos essa tecnologia.
(RAUL JUSTE LORES)


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