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Narcotráfico cresceu sob a passividade de 3 governos
DA REPORTAGEM LOCAL
O jornalista Ricardo Ravello
defende a liberação das drogas
leves para combater o narcotráfico e diz que o problema
cresceu no México diante da
passividade dos últimos três
governos. Leia a continuação
de sua entrevista à Folha.
(RJL)
FOLHA - Os EUA deveriam descriminalizar o consumo de drogas?
RICARDO RAVELLO - Essa situação
só pode mudar se o consumo de
drogas brandas for descriminalizado já. E é preciso investir
muito em campanhas de prevenção, de recuperação de
usuários, de desestímulo ao
consumo. Valem até medidas
radicais, como antidoping em
empresas e universidades.
FOLHA - Além da enorme fronteira
com os EUA, por que os grandes cartéis se mudaram para o México?
RAVELLO - Durante três governos (Salinas, Zedillo e Fox), nada foi feito para se combater o
narcotráfico para valer. Nada. E
os cartéis descobriram uma polícia corrupta sob medida para
lhe oferecer proteção. Corrupção da Justiça, da alfândega, da
polícia. Quem controla a fronteira com os EUA impõe condições para cobrar pedágio para
os carregamentos de droga.
FOLHA - Os cartéis colombianos
encolheram no mesmo período.
RAVELLO - No governo Gaviria,
no início dos anos 90, Pablo Escobar foi morto, e os irmãos
Rodríguez Orejuela, de Cali, foram extraditados. Seus herdeiros quiseram passar despercebidos. Abandonaram as mansões, a ostentação, os exércitos
particulares e as pistolas cravejadas de diamantes. Viraram
microemprésarios de sucesso.
Houve uma reconfiguração
empresarial. Hoje são 300
"baby-cartéis". Muitos atuam
na Venezuela, onde há menos
vigilância. Há vôos diários de
Caracas à Cidade do México, e
quase toda semana são encontradas drogas nesses vôos.
FOLHA - A violência no México
também aumentou. Nisso eles se
parecem com os velhos cartéis de
Medellín e Cali?
RAVELLO - A violência cresce como afirmação de poder. De cadáveres jogados num beco, como ajuste de contas, passamos
a ver corpos decapitados na
frente de quartéis do Exército.
FOLHA - O México vive a pior fase
que a Colômbia já superou?
RAVELLO - Sim, vivemos esse
narcoterror, que ameaça o Estado. E com muito mais dinheiro, porque o mercado cresceu.
Não é só cocaína. As drogas sintéticas viraram um fenômeno,
como o ecstasy, o ice, o crystal,
com custos de produção muito
mais baixos. Há um boom inexplicável de farmácias nas cidades mexicanas, uma em cada
esquina, e viramos um enorme
importador de efedrina.
FOLHA - Mesmo sem nenhum surto de gripe ou pneumonia?
RAVELLO - Sim, até o governo
desconfiou. A efedrina vem da
Alemanha, da China e da Índia,
e serve de base na produção
dessas drogas. O México tem
milhares desses laboratórios,
dominamos essa tecnologia.
(RAUL JUSTE LORES)
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