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Em boom econômico, Panamá amplia canal
País, que tem crescido 7,5% ao ano, vê aumentar a distância entre a riqueza produzida pelo canal e a pobreza indígena
Obra deve levar seis anos
e praticamente dobrar a
capacidade do sistema;
quatro empresas brasileiras
devem disputar a licitação
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL AO PANAMÁ
No Canal do Panamá, uma
das principais obras de engenharia do século 20, um cargueiro de 300 metros de comprimento leva oito horas para
atravessar de um oceano a outro. Foi o mesmo tempo gasto
por indígenas que, a bordo de
frágeis pirogas, viajaram de
suas aldeias para participar de
um encontro com o presidente
Martín Torrijos na última
quinta, numa remota região
perto da fronteira da Colômbia.
A distância entre ricos e pobres no pequeno país centro-americano impressiona. Na Cidade do Panamá, junto ao canal, o momento econômico reflete no "skyline": sete dos dez
edifícios mais altos da América
Latina são erguidos ali.
Já na comunidade de El Salto, a 260 km da capital, acessível apenas por barco e helicóptero, as precárias casas dos cerca de 400 indígenas, sobre palafitas, não têm eletricidade nem
água tratada. Segundo o governo, 97% da população indígena
(10% do total) é miserável.
Na chegada de Torrijos, cuja
visita foi acompanhada pela
Folha a convite do governo,
uma índia tirou risos ao cantar
em idioma local: "Presidente,
vivemos numa comunidade
cheia de mosquitos, mas estamos felizes que esteja aqui".
"O grande problema é evitar
que se construam dois Panamás: um afluente e costeiro e
outro pobre e montanhoso",
afirma Leopoldo Neira, presidente da empresa de opinião
pública Dichter e Neira.
O Panamá "afluente" vai
muito bem, diz Neira. Impulsionado pelo crescimento médio de 7,5% do PIB nos últimos
três anos, prepara a maior ampliação da história do canal,
principal atividade econômica
do país. A obra deve estar pronta em 2014, no centenário de
sua inauguração e 15 anos após
ter sido devolvido pelos EUA.
"A ampliação do Canal do Panamá só pode ser comparada à
sua própria construção", afirmou à Folha o ministro de
Obras Públicas do Panamá,
Benjamin Colamarco.
Orçado em US$ 5,2 bilhões
(mais de 30% do PIB panamenho), o projeto adaptará o canal aos navios de carga modernos, maiores. Assim, o terceiro
e novo corredor de eclusas receberá navios de 427 metros de
comprimento e 49 metros de
largura, com calado máximo de
15 metros. Maior do que as
eclusas atuais, a terceira eclusa
permitirá travessias mais rápidas, fazendo com que a capacidade do canal quase dobre.
Segundo o gerente do Programa de Ampliação do Canal,
Jorge de la Guardia, a ampliação será dividida em oito licitações. A mais importante será a
da construção das duas eclusas,
que consumirá 60% da verba.
A obra atrai empresas de vários países. Quatro construtoras brasileiras devem disputar
a licitação: a Odebrecht, com
dois projetos em execução no
país, e um consórcio formado
por Camargo Corrêa, Andrade
Gutierrez e Queiroz Galvão.
Referendo
Enquanto impulsiona a ampliação do canal, o governo panamenho tenta fazer a complexa aproximação dos "dois Panamás". Torrijos apoiou um referendo sobre o tema, em outubro, quando 76% dos eleitores
que foram às urnas aprovaram
a obra, embora o comparecimento tenha sido só de 43%.
Outra iniciativa foi a criação
do Programa de Desenvolvimento Comunitário (Prodec).
Financiado pelos recursos do
canal, é uma versão do Orçamento Participativo, onde a comunidade elege em assembléia
as obras prioritárias na região.
Foi o Prodec que levou Torrijos a se reunir por quatro horas
com cerca de mil indígenas emberá e wounaan para decidir
sobre os US$ 160 mil previstos
para a região no programa. No
final, houve consenso de que a
prioridade é tratar a água.
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