São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Em boom econômico, Panamá amplia canal

País, que tem crescido 7,5% ao ano, vê aumentar a distância entre a riqueza produzida pelo canal e a pobreza indígena

Obra deve levar seis anos e praticamente dobrar a capacidade do sistema; quatro empresas brasileiras devem disputar a licitação

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL AO PANAMÁ

No Canal do Panamá, uma das principais obras de engenharia do século 20, um cargueiro de 300 metros de comprimento leva oito horas para atravessar de um oceano a outro. Foi o mesmo tempo gasto por indígenas que, a bordo de frágeis pirogas, viajaram de suas aldeias para participar de um encontro com o presidente Martín Torrijos na última quinta, numa remota região perto da fronteira da Colômbia.
A distância entre ricos e pobres no pequeno país centro-americano impressiona. Na Cidade do Panamá, junto ao canal, o momento econômico reflete no "skyline": sete dos dez edifícios mais altos da América Latina são erguidos ali.
Já na comunidade de El Salto, a 260 km da capital, acessível apenas por barco e helicóptero, as precárias casas dos cerca de 400 indígenas, sobre palafitas, não têm eletricidade nem água tratada. Segundo o governo, 97% da população indígena (10% do total) é miserável.
Na chegada de Torrijos, cuja visita foi acompanhada pela Folha a convite do governo, uma índia tirou risos ao cantar em idioma local: "Presidente, vivemos numa comunidade cheia de mosquitos, mas estamos felizes que esteja aqui".
"O grande problema é evitar que se construam dois Panamás: um afluente e costeiro e outro pobre e montanhoso", afirma Leopoldo Neira, presidente da empresa de opinião pública Dichter e Neira.
O Panamá "afluente" vai muito bem, diz Neira. Impulsionado pelo crescimento médio de 7,5% do PIB nos últimos três anos, prepara a maior ampliação da história do canal, principal atividade econômica do país. A obra deve estar pronta em 2014, no centenário de sua inauguração e 15 anos após ter sido devolvido pelos EUA.
"A ampliação do Canal do Panamá só pode ser comparada à sua própria construção", afirmou à Folha o ministro de Obras Públicas do Panamá, Benjamin Colamarco.
Orçado em US$ 5,2 bilhões (mais de 30% do PIB panamenho), o projeto adaptará o canal aos navios de carga modernos, maiores. Assim, o terceiro e novo corredor de eclusas receberá navios de 427 metros de comprimento e 49 metros de largura, com calado máximo de 15 metros. Maior do que as eclusas atuais, a terceira eclusa permitirá travessias mais rápidas, fazendo com que a capacidade do canal quase dobre.
Segundo o gerente do Programa de Ampliação do Canal, Jorge de la Guardia, a ampliação será dividida em oito licitações. A mais importante será a da construção das duas eclusas, que consumirá 60% da verba.
A obra atrai empresas de vários países. Quatro construtoras brasileiras devem disputar a licitação: a Odebrecht, com dois projetos em execução no país, e um consórcio formado por Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão.

Referendo
Enquanto impulsiona a ampliação do canal, o governo panamenho tenta fazer a complexa aproximação dos "dois Panamás". Torrijos apoiou um referendo sobre o tema, em outubro, quando 76% dos eleitores que foram às urnas aprovaram a obra, embora o comparecimento tenha sido só de 43%.
Outra iniciativa foi a criação do Programa de Desenvolvimento Comunitário (Prodec). Financiado pelos recursos do canal, é uma versão do Orçamento Participativo, onde a comunidade elege em assembléia as obras prioritárias na região.
Foi o Prodec que levou Torrijos a se reunir por quatro horas com cerca de mil indígenas emberá e wounaan para decidir sobre os US$ 160 mil previstos para a região no programa. No final, houve consenso de que a prioridade é tratar a água.


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