São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2011

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Brasil abre mão de emergente no FMI

Ministro da Fazenda, Guido Mantega afirma que "pode haver bons candidatos [a diretor] em países avançados"

Perfil conservador dos candidatos oriundos de economias emergentes faz governo brasileiro temer giro no Fundo


Richard Drew/Associated Press
Dominique Strauss-Kahn em audiência ontem sobre o caso em que é acusado de estupro, em NY

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
SÃO PAULO

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o Brasil está disposto a apoiar um representante de um país avançado, e não emergente, para ser o novo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O ex-diretor-gerente do Fundo, o francês Dominique Strauss-Kahn, é acusado de ter tentado estuprar uma camareira em um hotel em Nova York e renunciou ao cargo anteontem. "O importante é que o novo diretor do FMI continue as reformas que Strauss-Kahn vinha fazendo, de democratização do Fundo", disse Mantega em entrevista à Folha, ontem.
"Pode haver bons candidatos seja em países emergentes ou avançados, mesmo na União Europeia."
A declaração do ministro demonstra uma mudança na posição do governo brasileiro, que antes insistia na escolha de um representante de país emergente para o FMI.
A percepção no governo é que a maioria dos candidatos de países emergentes surgidos até agora é de linha mais conservadora e poderia impor um retrocesso no Fundo.
"Gostaríamos que o candidato, mesmo que seja europeu, se comprometa a acabar com a dobradinha Estados Unidos no Banco Mundial e Europa no FMI no próximo mandato", disse Mantega.
Um americano estaria excluído, já que eles já lideram o Banco Mundial.
Tradicionalmente, o FMI é presidido por um europeu, enquanto o Banco Mundial fica nas mãos de um americano. O Brasil defende o fim dessa dobradinha, com a abertura das vagas para candidatos de outros países, escolhidos "por mérito".
Mantega manifestou esse desejo em carta aos ministros do G-20 enviada na quarta.
Mas, diante da atual seleção de candidatos oriundos de países emergentes, todos de viés mais conservador, o governo estaria mais aberto a apoiar um candidato europeu, como a ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown ou o francês Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu.
Dentre os candidatos emergentes, como o ex-ministro das Finanças turco Kemal Dervis, o ex-ministro das Finanças sul-africano Trevor Manuel e o presidente do Banco Central mexicano, Agustín Carstens, nenhum teria um perfil tido como progressista.
O único mais alinhado a possíveis reformas no Fundo seria o vice-presidente da comissão de planejamento da Índia, Montek Ahluwalia.
Não existe uma posição de consenso entre os emergentes para indicar um candidato ao Fundo. O processo de escolha está sendo acelerado pelos europeus e ainda não houve uma costura entre esses países.
O representante do Brasil no Fundo, Paulo Nogueira Batista, está voltando a Washington para continuar negociando posições.


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