São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paquistanesa relata prisão do filho e do marido

DE NOVA YORK

A paquistanesa Farhat Paracha, 50, teve o filho e o marido presos pelo governo americano. Diz que passou mais de um mês sem ter notícias de Saifullah, com quem é casada, comunica-se hoje por cartas com ele e não tem certeza de onde está detido nem foi informada de que crime ele é acusado.
Ela concedeu entrevista à Folha do Paquistão, por telefone. A seguir, trechos da conversa. (RC)

 

Folha - Como seu marido sumiu?
Farhat Paracha -
Deixei-o no aeroporto para tomar um vôo para Bancoc, em julho de 2003, e ele nunca chegou ao seu destino. Um mês depois, a TV americana NBC fez um programa em que citava meu filho, que já tinha sido preso nos EUA pelo FBI, e meu marido, que também teria sido preso pelos americanos.
Na terceira semana de agosto, recebi uma carta de Islamabad, da Cruz Vermelha, dizendo que meu marido estava preso. Não tinha certeza e disse que precisava de provas. Alguns dias depois recebi uma carta escrita por ele. Reconheci sua letra e sua assinatura.

Folha - Ele podia falar livremente, pelo que a sra. leu?
Paracha -
Não. Ele apenas me disse que estava sob a custódia do Exército americano no Afeganistão. E que estava bem.

Folha - Nessa carta ele dizia por que tinha sido preso?
Paracha -
Não. Eu não sei a razão. Não tenho nenhuma idéia, não tenho nem mesmo certeza de onde ele está. A carta não tinha selo. Ela vem de Islamabad.

Folha - Ele escreveu outras cartas? O que diz?
Paracha -
Sim. Ele me pergunta pelo nosso filho. Sobre como ele está. E me diz que sua saúde está bem, porque sabe que eu me preocupo. Mas suas cartas demoram uns três meses para chegar. Eu escrevo toda semana, às vezes mais de uma carta.

Folha - O que fazia seu filho nos EUA?
Paracha -
Ele completou seus estudos no Paquistão. Ele tem um MBA de uma ótima instituição daqui. Juntou-se a seu pai nos nossos negócios. Foi para Nova York para vender apartamentos que construímos aqui para paquistaneses. Muitos querem voltar, depois do 11 de Setembro. Eles se sentem inseguros.
Ele estava lá legalmente. Foi preso pelo FBI em março de 2003, acusado de ter ajudado membros da Al Qaeda a entrar nos EUA. Não faço a menor idéia do que eles estão falando.

Folha - Seu marido e seu filho tinham envolvimento com política no Paquistão?
Paracha -
Nunca. Meu filho terminou seu MBA com 23 anos. Como poderia encontrar tempo?

Folha - Por que a sra. acha que fizeram isso?
Paracha -
Acho que estão paranóicos. Qualquer pessoa que pareça estrangeira, que tenha traços asiáticos... Meu marido é religioso, muçulmano, mas nunca conheci uma pessoa mais tolerante. Não tenho nenhum ódio pelos americanos, nem ele. Estudei lá, fiz mestrado em sociologia.

Folha - A sra. tem medo de que ele possa ser maltratado?
Paracha -
Espero que não. Mas, quando penso nisso, sinto-me enjoada.


Texto Anterior: Direitos Humanos: EUA abusam em prisões secretas, diz ONG
Próximo Texto: O saudável come CRU
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.