São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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Igreja cria 10 mandamentos para os motoristas católicos

Vaticano prega autocontrole; carro "não deve ser usado como símbolo de poder"

Instituição faz alerta para "lado primitivo" de quem dirige como catalisador de acidentes e recomenda que os motoristas rezem

DA REDAÇÃO

Pense bem antes de resolver ultrapassar perigosamente o carro que compartilha a rua com o seu. O ato pode não apenas render-lhe uma multa. É também uma infração religiosa -ao menos para os católicos.
A advertência foi feita ontem pelo Vaticano ao divulgar o documento "Orientações para a Pastoral das Estradas", que contém um decálogo para os motoristas inspirado nos Dez Mandamentos (leia quadro).
"Ultrapassar de forma perigosa um automóvel pode ser pecado", disse o cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício da Pastoral do Migrante e das Pessoas Itinerantes, responsável pelo texto.
Em 36 páginas, o documento chama atenção para o número de mortes em acidentes -1,2 milhão por ano, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde)- e apresenta o ato de conduzir, e tudo que o envolve, como uma questão moral: "Dirigir quer dizer controlar-se".
O Vaticano tece recomendações após alertar para o lado "primitivo" que tende a aflorar nos condutores e se reflete na profusão de "gestos ofensivos" e "blasfêmias" no trânsito.
"A rua deve ser um meio de comunhão entre as pessoas e não uma arma mortal", diz o segundo mandamento do decálogo do motorista.
Já o número cinco ataca o uso dos automóveis como símbolo de status: "Os carros não devem ser uma expressão de poder e dominação nem ocasião para o pecado". Questionado sobre quando o carro se torna uma ocasião para o pecado, o cardeal Renato Martino disse "quando o carro é usado como lugar para pecar".

Rezar ao volante
O Vaticano diz que o objetivo do inusual documento, principalmente pela presença do decálogo, é contribuir para a educação dos motoristas. "Pode ser um pouco irreverente, mas não é um sacrilégio", diz Thomas Williams, padre e teólogo da universidade Regina Apostolorum, em Roma.
Horacio Figueira, especialista brasileiro em trânsito, apóia a iniciativa: "Estou de acordo: o trânsito envolve uma questão moral, comportamental".
"Seria ótimo se cultos, missas ou encontros religiosos, independentemente do credo, passassem esse tipo de mensagem. O cenário nas ruas é assustador", completa Figueira, que coordena uma pesquisa sobre o comportamento do motorista de São Paulo para a Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego). Os resultados do estudo saem em julho.
O texto do Vaticano também recomenda que os católicos façam o sinal da cruz antes de começar um traslado e recitem o Rosário no trajeto, já que "o ritmo e a delicadeza da repetição não distraem a atenção do motorista". Figueira faz ressalvas: "Fazer o sinal da cruz ou pensar em algo por alguns segundos pode ser bom. É uma pausa. A pessoa vai iniciar uma atividade de risco, não vai para um parque de diversões", diz. "Mas sobre rezar durante o trajeto era preciso fazer uma pesquisa para ver. Envolve se concentrar, meditar. Acho que é melhor rezar quando chegar em paz e bem." (FLÁVIA MARREIRO)


Com agências internacionais


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