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Igreja cria 10 mandamentos para os motoristas católicos
Vaticano prega autocontrole; carro "não deve ser usado como símbolo de poder"
Instituição faz alerta para "lado primitivo" de quem dirige como catalisador de acidentes e recomenda
que os motoristas rezem
DA REDAÇÃO
Pense bem antes de resolver
ultrapassar perigosamente o
carro que compartilha a rua
com o seu. O ato pode não apenas render-lhe uma multa. É
também uma infração religiosa
-ao menos para os católicos.
A advertência foi feita ontem
pelo Vaticano ao divulgar o documento "Orientações para a
Pastoral das Estradas", que
contém um decálogo para os
motoristas inspirado nos Dez
Mandamentos (leia quadro).
"Ultrapassar de forma perigosa um automóvel pode ser
pecado", disse o cardeal Renato
Martino, presidente do Conselho Pontifício da Pastoral do
Migrante e das Pessoas Itinerantes, responsável pelo texto.
Em 36 páginas, o documento
chama atenção para o número
de mortes em acidentes -1,2
milhão por ano, segundo a
OMS (Organização Mundial da
Saúde)- e apresenta o ato de
conduzir, e tudo que o envolve,
como uma questão moral: "Dirigir quer dizer controlar-se".
O Vaticano tece recomendações após alertar para o lado
"primitivo" que tende a aflorar
nos condutores e se reflete na
profusão de "gestos ofensivos"
e "blasfêmias" no trânsito.
"A rua deve ser um meio de
comunhão entre as pessoas e
não uma arma mortal", diz o segundo mandamento do decálogo do motorista.
Já o número cinco ataca o
uso dos automóveis como símbolo de status: "Os carros não
devem ser uma expressão de
poder e dominação nem ocasião para o pecado". Questionado sobre quando o carro se torna uma ocasião para o pecado, o
cardeal Renato Martino disse
"quando o carro é usado como
lugar para pecar".
Rezar ao volante
O Vaticano diz que o objetivo
do inusual documento, principalmente pela presença do decálogo, é contribuir para a educação dos motoristas. "Pode ser
um pouco irreverente, mas não
é um sacrilégio", diz Thomas
Williams, padre e teólogo da
universidade Regina Apostolorum, em Roma.
Horacio Figueira, especialista brasileiro em trânsito, apóia
a iniciativa: "Estou de acordo: o
trânsito envolve uma questão
moral, comportamental".
"Seria ótimo se cultos, missas
ou encontros religiosos, independentemente do credo, passassem esse tipo de mensagem.
O cenário nas ruas é assustador", completa Figueira, que
coordena uma pesquisa sobre o
comportamento do motorista
de São Paulo para a Abramet
(Associação Brasileira de Medicina de Tráfego). Os resultados
do estudo saem em julho.
O texto do Vaticano também
recomenda que os católicos façam o sinal da cruz antes de começar um traslado e recitem o
Rosário no trajeto, já que "o ritmo e a delicadeza da repetição
não distraem a atenção do motorista". Figueira faz ressalvas:
"Fazer o sinal da cruz ou pensar
em algo por alguns segundos
pode ser bom. É uma pausa. A
pessoa vai iniciar uma atividade de risco, não vai para um
parque de diversões", diz. "Mas
sobre rezar durante o trajeto
era preciso fazer uma pesquisa
para ver. Envolve se concentrar, meditar. Acho que é melhor rezar quando chegar em
paz e bem."
(FLÁVIA MARREIRO)
Com agências internacionais
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