São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Motivada pelo pragmatismo, trégua entra Israel e Hamas começa a vigorar

DA REDAÇÃO

Khalil Hamra/Associated Press
Crianças na praia em Gaza; trégua não impediu que os dois lados reiterassem desconfiança mútua

A calma reinou ontem na faixa de Gaza, depois que entrou em vigor o cessar-fogo de seis meses acertado entre Israel e o grupo islâmico Hamas, com mediação do Egito. O trato supõe o fim dos disparos de mísseis Qassam contra o território israelense e o compromisso de Israel de amenizar gradualmente o bloqueio imposto a Gaza há um ano, quando o Hamas, vencedor das eleições palestinas de 2006, expulsou a facção rival Fatah e assumiu o controle do território.
Apesar de analistas considerarem que a trégua legitima o poder de interlocução do Hamas -considerado um grupo terrorista por Israel, EUA e União Européia-, o trato é visto como um importante sinal de pragmatismo na região.
Em editorial, o jornal "Financial Times" recomendou aos protagonistas do acordo aproveitarem a oportunidade para consolidar uma paz sustentável. Tom parecido foi usado pelo governo brasileiro, que saudou oficialmente a trégua.
Jihad Hamad, cientista político da Universidade Al Ahzar, de Gaza, está confiante em que os arquiinimigos tenderão a respeitar o trato por necessidade. "Israel compreendeu que o Hamas pode lançar foguetes, e o Hamas, que Israel pode continuar matando palestinos. Um ano disso foi suficiente", diz.
Especialistas consideram que a trégua pode fazer com que o Hamas recupere o apoio popular perdido devido ao bloqueio israelense, que causou penúria de alimentos e combustível no território. Especula-se ainda que a trégua poderia ajudar o Hamas a ser visto como interlocutor legítimo pelas potências ocidentais.
Nicholas Pelham, do International Crisis Group, também acredita que Israel foi levado a aceitar o acordo por pragmatismo. "Compreendeu-se que a continuação dos tiros de foguete contra Sderot [cidade do sul de Israel] poderia ter um preço político em momentos em que alguns dirigentes lutam por sua sobrevivência política", destacou Pelham, numa referência às acusações de corrupção que ameaçam derrubar o primeiro-ministro Ehud Olmert.
Mas há temores de que a trégua dure pouco, já que os dois lados enfrentam resistências internas e não abrem mão da retórica incendiária.
Olmert afirmou ontem que o pacto é "a última chance" do Hamas para evitar uma megaofensiva israelense em Gaza. O ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, disse não saber se a trégua duraria "dois dias ou dois meses." No mesmo tom, o Hamas divulgou nota afirmando que estava "preparado para lançar um ataque militar que abalará a entidade sionista" se Israel não cumprir a trégua.


Com agências internacionais


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