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ORIENTE MÉDIO
Palestino renomeia demitido após violentos distúrbios em Gaza contra corrupção e apadrinhamento político
Pressionado, Arafat recua de nomeação
DA REDAÇÃO
Assediado por manifestantes e
por seu próprio governo e tentando frear os protestos violentos na
faixa de Gaza, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, chamou ontem de volta ao posto de chefe de segurança
Abdel Razak Majaide. Sua demissão, três dias antes, deflagrou protestos que evidenciaram a fraqueza da ANP e a volátil situação nos
territórios palestinos ocupados
por Israel desde a guerra de 1967.
A nomeação de Moussa Arafat,
primo e seguidor de longa data do
líder palestino, no lugar de Majaide deflagrou protestos violentos
considerados o maior desafio à
autoridade do presidente da ANP.
As ações de Arafat, 75, e de seus
oponentes fazem parte da luta pelo poder precipitada pelo plano
do premiê israelense, Ariel Sharon, de retirada unilateral de Gaza
no próximo ano. O resultado da
disputa deve determinar quem
dominará a área. Ela opõe membros da velha guarda da liderança
palestina à nova geração de líderes locais, surgida durante os anos
de exílio de Arafat e de outros dirigentes da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). E
agora não são apenas grupos terroristas como o Hamas que desafiam Arafat, mas líderes jovens do
próprio grupo do líder palestino.
Intensificando as pressões sobre
Arafat, o premiê palestino, Ahmed Korei, lançou ontem um
apelo para que ele reforme as forças de segurança, além de reafirmar sua decisão de renúncia.
Os protestos violentos começaram com uma série de seqüestros
na sexta que deixou clara a insatisfação profunda com a corrupção endêmica na ANP. Muitos palestinos vêem o primo de Arafat
como representante típico da corrupção e do sistema de apadrinhamento político.
Os protestos não foram dirigidos contra o próprio Arafat e
tampouco parecem ter ameaçado
sua posição de líder e símbolo inconteste do movimento palestino.
Mas o chamado das ruas por reformas foi rapidamente retomado pelo gabinete que Arafat nomeou há dez meses, levando aos
pedidos de renúncia de Korei, recusados por Arafat.
Arafat também vem sendo pressionado externamente para reformar seu governo. Israel, EUA,
União Européia, ONU e Rússia
pressionam o palestino a unificar
suas forças de segurança, combater o terrorismo, reduzir a corrupção e dar mais transparência ao
seu governo, que teve sua capacidade de agir bastante reduzida
pelos ataques de Israel contra a
ANP em resposta à onda de atentados terroristas da Intifada, a revolta palestina iniciada em 2000.
A ONU anunciou ontem que,
por causa da situação de insegurança, estava retirando parte de
seu pessoal que presta assistência
em Gaza, vital para a região.
Falando após uma reunião de
emergência de seu gabinete, Korei
convocou a população de Gaza e a
liderança palestina a porem fim à
violência, dizendo que apenas Israel se beneficiará do conflito interno palestino. Ele anunciou que
uma delegação de 11 ministros irá
a Gaza para mediar a crise entre líderes de segurança, políticos e militantes. Muitos palestinos viram
a volta de Majaide mais como um
gesto para acalmar a situação do
que como uma mudança real.
Apesar do apelo de Korei, centenas de integrantes das Brigadas
dos Mártires de Al Aqsa (ligadas
ao Fatah, grupo político de Arafat) fizeram uma passeata no
campo de refugiados de Jabaliya,
no norte de Gaza, repetindo as palavras de ordem "Sim às reformas
reais, não à mudança de rostos".
O escritor e analista político palestino Hani Masri disse que o
conflito em Gaza "não diz respeito a reformas". "É uma luta pelo
poder, conseqüência do plano de
Sharon", afirmou. Para ele, quando o Exército e os colonos israelenses deixarem o território, a luta
pelo poder se dará entre os partidários de Arafat e os de Mohammed Dahlan, o ex-chefe de segurança que vem percorrendo o território ocupado, discursando em
favor de reformas. "Quando Arafat nomeou seu primo, ele transmitiu a mensagem de que está
pronto para a guerra. Mas hoje ele
retrocedeu", disse Masri, descrevendo o que aconteceu como uma
derrota para o líder palestino.
Com agências internacionais
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