São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Palestino renomeia demitido após violentos distúrbios em Gaza contra corrupção e apadrinhamento político

Pressionado, Arafat recua de nomeação

DA REDAÇÃO

Assediado por manifestantes e por seu próprio governo e tentando frear os protestos violentos na faixa de Gaza, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, chamou ontem de volta ao posto de chefe de segurança Abdel Razak Majaide. Sua demissão, três dias antes, deflagrou protestos que evidenciaram a fraqueza da ANP e a volátil situação nos territórios palestinos ocupados por Israel desde a guerra de 1967.
A nomeação de Moussa Arafat, primo e seguidor de longa data do líder palestino, no lugar de Majaide deflagrou protestos violentos considerados o maior desafio à autoridade do presidente da ANP.
As ações de Arafat, 75, e de seus oponentes fazem parte da luta pelo poder precipitada pelo plano do premiê israelense, Ariel Sharon, de retirada unilateral de Gaza no próximo ano. O resultado da disputa deve determinar quem dominará a área. Ela opõe membros da velha guarda da liderança palestina à nova geração de líderes locais, surgida durante os anos de exílio de Arafat e de outros dirigentes da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). E agora não são apenas grupos terroristas como o Hamas que desafiam Arafat, mas líderes jovens do próprio grupo do líder palestino.
Intensificando as pressões sobre Arafat, o premiê palestino, Ahmed Korei, lançou ontem um apelo para que ele reforme as forças de segurança, além de reafirmar sua decisão de renúncia.
Os protestos violentos começaram com uma série de seqüestros na sexta que deixou clara a insatisfação profunda com a corrupção endêmica na ANP. Muitos palestinos vêem o primo de Arafat como representante típico da corrupção e do sistema de apadrinhamento político.
Os protestos não foram dirigidos contra o próprio Arafat e tampouco parecem ter ameaçado sua posição de líder e símbolo inconteste do movimento palestino. Mas o chamado das ruas por reformas foi rapidamente retomado pelo gabinete que Arafat nomeou há dez meses, levando aos pedidos de renúncia de Korei, recusados por Arafat.
Arafat também vem sendo pressionado externamente para reformar seu governo. Israel, EUA, União Européia, ONU e Rússia pressionam o palestino a unificar suas forças de segurança, combater o terrorismo, reduzir a corrupção e dar mais transparência ao seu governo, que teve sua capacidade de agir bastante reduzida pelos ataques de Israel contra a ANP em resposta à onda de atentados terroristas da Intifada, a revolta palestina iniciada em 2000.
A ONU anunciou ontem que, por causa da situação de insegurança, estava retirando parte de seu pessoal que presta assistência em Gaza, vital para a região.
Falando após uma reunião de emergência de seu gabinete, Korei convocou a população de Gaza e a liderança palestina a porem fim à violência, dizendo que apenas Israel se beneficiará do conflito interno palestino. Ele anunciou que uma delegação de 11 ministros irá a Gaza para mediar a crise entre líderes de segurança, políticos e militantes. Muitos palestinos viram a volta de Majaide mais como um gesto para acalmar a situação do que como uma mudança real.
Apesar do apelo de Korei, centenas de integrantes das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa (ligadas ao Fatah, grupo político de Arafat) fizeram uma passeata no campo de refugiados de Jabaliya, no norte de Gaza, repetindo as palavras de ordem "Sim às reformas reais, não à mudança de rostos".
O escritor e analista político palestino Hani Masri disse que o conflito em Gaza "não diz respeito a reformas". "É uma luta pelo poder, conseqüência do plano de Sharon", afirmou. Para ele, quando o Exército e os colonos israelenses deixarem o território, a luta pelo poder se dará entre os partidários de Arafat e os de Mohammed Dahlan, o ex-chefe de segurança que vem percorrendo o território ocupado, discursando em favor de reformas. "Quando Arafat nomeou seu primo, ele transmitiu a mensagem de que está pronto para a guerra. Mas hoje ele retrocedeu", disse Masri, descrevendo o que aconteceu como uma derrota para o líder palestino.


Com agências internacionais

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