São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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Líder não tem escolha, diz analista palestino

GILLES PARIS
DO "LE MONDE"

Salah Abdel Chafi é membro, em Gaza, do Comitê Nacional pelas Reformas, que reúne representantes da sociedade civil palestina. Leia os principais trechos de sua entrevista.
 

Pergunta - Como o sr. vê a pior crise da Autoridade Nacional Palestina desde sua criação, em 1994?
Salah Abdel Chafi-
Sabemos que, em Gaza, Mohammed Dahlan [antigo chefe da segurança] tem uma agenda pessoal e política. Depois de sua saída do governo, em 2003, Dahlan fez questão de distanciar-se da Autoridade Nacional Palestina. Ele procurou jogar com o ressentimento e a frustração do Fatah [grupo político de Arafat] com a ANP, mas sem, em momento algum, chocar-se de frente com ela. Compreendeu que poderia reunir pessoas no interior do Fatah, denunciando a corrupção. Dahlan hoje controla alguns serviços de segurança e possui dinheiro, carisma e seguidores.

Pergunta - Por que a crise acontece neste momento?
Abdel Chafi -
Era preciso, em primeiro lugar, que o clima no interior do Fatah fosse propício, o que parece ser o caso. Em seguida, há a perspectiva da retirada israelense de Gaza. Arafat tem dúvidas quanto a isso. Já Dahlan acha que Sharon está falando sério. Estima que, se os palestinos administrarem bem o período pós-retirada, ganharão crédito internacionalmente. Nessa ótica, a segurança passa a ser primordial, pois são os serviços de segurança da ANP, seu comportamento e suas divisões, que criam problemas. Estou certo de que seria mais fácil administrar o Hamas.
Mas Arafat não parece ser capaz de modificar as coisas. Hoje ele não tem mais escolha -ou faz composições e divide o poder, o que não está em sua natureza, ou se opõe às mudanças. Ao achar que saiu da crise indicando seu primo Moussa Arafat, cometeu um erro muito grave, sem avaliar o quanto Moussa é detestado.

Pergunta - Os protestos são contra Arafat pessoalmente?
Abdel Chafi -
Não. Hoje as pessoas não dizem que Arafat é um problema e que deve deixar o poder, mas que têm um problema com ele, com sua maneira de agir. Existe o fato de que ele vive em prisão domiciliar. Assim, ainda é fácil identificar-se com ele como vítima, e o destaque é posto sobretudo naqueles que o cercam, que estariam lhe dando maus conselhos e informações.

Pergunta - Como acabará a crise atual?
Abdel Chafi-
Tudo depende do que fará o premiê Ahmed Korei, que chegou a um impasse com Arafat. Se uma crise política vier somar-se à crise dos serviços de segurança, Arafat se verá numa situação muito difícil. Há também os egípcios, insatisfeitos com o que está acontecendo e que multiplicam seus contatos com Dahlan e com o Hamas. Este parece estar em dificuldade, como deixa transparecer sua incapacidade de responder aos golpes desferidos por Israel.


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