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Líder não tem escolha, diz analista palestino
GILLES PARIS
DO "LE MONDE"
Salah Abdel Chafi é membro, em Gaza, do Comitê
Nacional pelas Reformas,
que reúne representantes da
sociedade civil palestina.
Leia os principais trechos de
sua entrevista.
Pergunta - Como o sr. vê a
pior crise da Autoridade Nacional Palestina desde sua
criação, em 1994?
Salah Abdel Chafi- Sabemos que, em Gaza, Mohammed Dahlan [antigo chefe da
segurança] tem uma agenda
pessoal e política. Depois de
sua saída do governo, em
2003, Dahlan fez questão de
distanciar-se da Autoridade
Nacional Palestina. Ele procurou jogar com o ressentimento e a frustração do Fatah [grupo político de Arafat] com a ANP, mas sem,
em momento algum, chocar-se de frente com ela.
Compreendeu que poderia
reunir pessoas no interior do
Fatah, denunciando a corrupção. Dahlan hoje controla alguns serviços de segurança e possui dinheiro, carisma e seguidores.
Pergunta - Por que a crise
acontece neste momento?
Abdel Chafi - Era preciso,
em primeiro lugar, que o clima no interior do Fatah fosse propício, o que parece ser
o caso. Em seguida, há a
perspectiva da retirada israelense de Gaza. Arafat tem
dúvidas quanto a isso. Já Dahlan acha que Sharon está
falando sério. Estima que, se
os palestinos administrarem
bem o período pós-retirada,
ganharão crédito internacionalmente. Nessa ótica, a segurança passa a ser primordial, pois são os serviços de
segurança da ANP, seu comportamento e suas divisões,
que criam problemas. Estou
certo de que seria mais fácil
administrar o Hamas.
Mas Arafat não parece ser
capaz de modificar as coisas.
Hoje ele não tem mais escolha -ou faz composições e
divide o poder, o que não está em sua natureza, ou se
opõe às mudanças. Ao achar
que saiu da crise indicando
seu primo Moussa Arafat,
cometeu um erro muito grave, sem avaliar o quanto
Moussa é detestado.
Pergunta - Os protestos são
contra Arafat pessoalmente?
Abdel Chafi - Não. Hoje as
pessoas não dizem que Arafat é um problema e que deve deixar o poder, mas que
têm um problema com ele,
com sua maneira de agir.
Existe o fato de que ele vive
em prisão domiciliar. Assim,
ainda é fácil identificar-se
com ele como vítima, e o
destaque é posto sobretudo
naqueles que o cercam, que
estariam lhe dando maus
conselhos e informações.
Pergunta - Como acabará a
crise atual?
Abdel Chafi- Tudo depende
do que fará o premiê Ahmed
Korei, que chegou a um impasse com Arafat. Se uma
crise política vier somar-se à
crise dos serviços de segurança, Arafat se verá numa
situação muito difícil. Há
também os egípcios, insatisfeitos com o que está acontecendo e que multiplicam
seus contatos com Dahlan e
com o Hamas. Este parece
estar em dificuldade, como
deixa transparecer sua incapacidade de responder aos
golpes desferidos por Israel.
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