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ÁSIA
Pela primeira vez desde o início das reformas, em 1978, Pequim divulga dados que mostram aumento de miseráveis no país
China admite alta no número de pobres
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
O número de chineses que vivem abaixo da linha da pobreza
aumentou em 2003, segundo dados oficiais. É a primeira vez desde 1978, quando iniciou as reformas econômicas, que o governo
admite alta no número de pobres.
A informação acrescenta mais
um ingrediente à crescente desigualdade social do país: a ampliação da distância entre os pobres e
os mais pobres.
Em 2003, ao mesmo tempo em
que o PIB cresceu 9,1% (sempre
segundo dados oficiais), o contingente de pessoas que vivem com
menos de US$ 77 por ano deu um
salto de 800 mil, para um total de
29 milhões de pessoas.
Liu Jian, diretor do Departamento de Combate à Pobreza,
atribuiu a expansão a uma série
de desastres naturais que atingiram as Províncias de Henan,
Anhui, Shaanxi e Heilongjiang.
Ao mesmo tempo em que cresceu o número dos que vivem
abaixo da linha da pobreza, diminuiu em 1,28 milhão o total de
pessoas que ganham menos de
US$ 107 por ano, afirmou Liu, segundo jornais oficiais. Do 1,3 bilhão de chineses, 85,2 milhões estão nessa situação. Desses, 56,2
milhões estão na faixa de renda
entre US$ 77 e US$ 107 ao ano.
Cidades ricas
A crescente desigualdade social
é uma das principais preocupações do governo chinês, que teme
o surgimento de protestos entre
os excluídos do processo de modernização do país.
Oitocentos milhões de chineses,
o equivalente a 63% da população, vivem no campo, onde a renda per capita ainda é de US$ 300
ao ano. No país como um todo, a
renda ultrapassou pela primeira
vez a barreira dos US$ 1.000 no
ano passado.
Mas o enriquecimento está concentrado nas cidades próximas da
costa leste, como Pequim, Xangai
e a Província de Cantão.
A distância entre a renda da cidade e a do campo passou de 2,2
vezes em 1990 para 3,11 em 2002 e
já estaria em quatro vezes hoje, na
avaliação de acadêmicos chineses.
A desigualdade entre os pobres
e os muito pobres também aumentou. Segundo Liu, os pequenos fazendeiros ganhavam há 12
anos 2,5 vezes o que obtinham os
mais pobres da área rural. No ano
passado, o índice havia aumentado para quatro vezes.
O efeito colateral do vertiginoso
crescimento de 9% ao ano nos últimos 26 anos foi a concentração
de renda e o surgimento de um
pequeno grupo de milionários.
Dados oficiais indicam que cerca de 10% das famílias mais ricas
possuem 45% das propriedades
nas zonas urbanas, enquanto os
10% das famílias com renda mais
baixa possuem apenas 1,4% das
propriedades.
O ritmo desigual de crescimento entre a cidade e o campo é uma
das razões do agravamento da
distância entre as duas regiões.
No ano passado, por exemplo, a
renda dos moradores das cidades
cresceu 9%, mais que o dobro da
expansão de 4,3% registrada na
zona rural.
Mesmo tendo um dos mais acelerados ritmos de aumento da desigualdade no mundo, a China
obteve avanços importantes no
combate à pobreza nas duas últimas décadas.
O governo afirma que, entre
1978 e 2003, 221 milhões de pessoas foram retiradas da condição
de pobreza absoluta.
O aumento da renda no campo
e o desenvolvimento do oeste do
país, mais pobre que o leste, estão
entre as prioridades do governo
dos próximos anos.
Apesar de empregar a maior
parte da população, a agricultura
contribui com apenas 15% do
PIB, enquanto a indústria e os serviços, atividades tipicamente urbanas, entram com 51,7% e
33,7%, respectivamente. Há pouco mais de 20 anos, em 82, o peso
da agricultura era de 33,3%.
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