São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2004

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ÁSIA

Pela primeira vez desde o início das reformas, em 1978, Pequim divulga dados que mostram aumento de miseráveis no país

China admite alta no número de pobres

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O número de chineses que vivem abaixo da linha da pobreza aumentou em 2003, segundo dados oficiais. É a primeira vez desde 1978, quando iniciou as reformas econômicas, que o governo admite alta no número de pobres.
A informação acrescenta mais um ingrediente à crescente desigualdade social do país: a ampliação da distância entre os pobres e os mais pobres.
Em 2003, ao mesmo tempo em que o PIB cresceu 9,1% (sempre segundo dados oficiais), o contingente de pessoas que vivem com menos de US$ 77 por ano deu um salto de 800 mil, para um total de 29 milhões de pessoas.
Liu Jian, diretor do Departamento de Combate à Pobreza, atribuiu a expansão a uma série de desastres naturais que atingiram as Províncias de Henan, Anhui, Shaanxi e Heilongjiang.
Ao mesmo tempo em que cresceu o número dos que vivem abaixo da linha da pobreza, diminuiu em 1,28 milhão o total de pessoas que ganham menos de US$ 107 por ano, afirmou Liu, segundo jornais oficiais. Do 1,3 bilhão de chineses, 85,2 milhões estão nessa situação. Desses, 56,2 milhões estão na faixa de renda entre US$ 77 e US$ 107 ao ano.

Cidades ricas
A crescente desigualdade social é uma das principais preocupações do governo chinês, que teme o surgimento de protestos entre os excluídos do processo de modernização do país.
Oitocentos milhões de chineses, o equivalente a 63% da população, vivem no campo, onde a renda per capita ainda é de US$ 300 ao ano. No país como um todo, a renda ultrapassou pela primeira vez a barreira dos US$ 1.000 no ano passado.
Mas o enriquecimento está concentrado nas cidades próximas da costa leste, como Pequim, Xangai e a Província de Cantão.
A distância entre a renda da cidade e a do campo passou de 2,2 vezes em 1990 para 3,11 em 2002 e já estaria em quatro vezes hoje, na avaliação de acadêmicos chineses.
A desigualdade entre os pobres e os muito pobres também aumentou. Segundo Liu, os pequenos fazendeiros ganhavam há 12 anos 2,5 vezes o que obtinham os mais pobres da área rural. No ano passado, o índice havia aumentado para quatro vezes.
O efeito colateral do vertiginoso crescimento de 9% ao ano nos últimos 26 anos foi a concentração de renda e o surgimento de um pequeno grupo de milionários.
Dados oficiais indicam que cerca de 10% das famílias mais ricas possuem 45% das propriedades nas zonas urbanas, enquanto os 10% das famílias com renda mais baixa possuem apenas 1,4% das propriedades.
O ritmo desigual de crescimento entre a cidade e o campo é uma das razões do agravamento da distância entre as duas regiões.
No ano passado, por exemplo, a renda dos moradores das cidades cresceu 9%, mais que o dobro da expansão de 4,3% registrada na zona rural.
Mesmo tendo um dos mais acelerados ritmos de aumento da desigualdade no mundo, a China obteve avanços importantes no combate à pobreza nas duas últimas décadas.
O governo afirma que, entre 1978 e 2003, 221 milhões de pessoas foram retiradas da condição de pobreza absoluta.
O aumento da renda no campo e o desenvolvimento do oeste do país, mais pobre que o leste, estão entre as prioridades do governo dos próximos anos.
Apesar de empregar a maior parte da população, a agricultura contribui com apenas 15% do PIB, enquanto a indústria e os serviços, atividades tipicamente urbanas, entram com 51,7% e 33,7%, respectivamente. Há pouco mais de 20 anos, em 82, o peso da agricultura era de 33,3%.


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