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RELIGIÃO
No fim de sua visita à Polônia, João Paulo 2º reza para ter forças, se emociona e sugere que poderá voltar a sua terra natal
Papa diz que pretende cumprir pontificado "até o fim"
PAULO DANIEL FARAH
DO ENVIADO ESPECIAL A KALWARIA ZEBRZYDOWSKA
No último dia de sua visita à Polônia, o papa João Paulo 2º, 82,
deixou claro ontem que pretende levar seu pontificado até a morte
-um dia após admitir que sofre pressões para renunciar-, apesar da saúde frágil e dos questionamentos sobre sua capacidade de liderar os católicos.
"Nossa Senhora do Calvário,
dai-me forças físicas e espirituais
para que eu leve até o fim a missão
a mim confiada por Cristo ressuscitado", afirmou o papa, em missa
realizada no santuário de Kalwaria Zebrzydowska, a 50 km de
Cracóvia, no sul do país.
Devoto de Maria, disse ainda:
"A vós confio o futuro da igreja, a
vós ofereço minha nação".
Mais tarde, antes de partir, João
Paulo 2º declarou ter esperança
de retornar a sua terra natal.
Quando a multidão que se despedia dele começou a gritar "nós o
estamos convidando [a voltar"!",
ele respondeu: "Muitos de vocês
queriam me ver e nem todos conseguiram, mas talvez da próxima
vez isso seja possível".
O papa acrescentou: "O que eu
deveria dizer no final... Realmente
lamento ter de partir". Então a
multidão lhe pediu: "Fique conosco! Nosso coração está com você,
volte!". Nesse momento, o papa
cobriu os olhos, aparentemente
enxugando uma lágrima.
Antes de entrar no avião que o
levou de volta a Roma, parou brevemente para a despedida final e
para ouvir uma música que o
exortava a voltar.
Nos últimos quatro dias, na nona visita à Polônia em seu pontificado, Karol Wojtyla (nome de batismo do papa) visitou lugares
que marcaram sua vida. Ontem,
após meditar na basílica de Nossa
Senhora dos Anjos, celebrou uma
missa para comemorar o 400º
aniversário do santuário de Kalwaria Zebrzydowska. Cerca de 50
mil fiéis o aguardavam.
Wojtyla costumava ir ao santuário com seus pais, quando
criança, e manteve o costume
após ser ordenado e nomeado arcebispo de Cracóvia, antes de ser
eleito papa, em 1978. Sua última
visita aconteceu em 1979. Ontem,
ao final da missa, pediu que os peregrinos continuassem a rezar
por ele "enquanto eu estiver vivo
e também após minha morte".
Depois do santuário, o papa sobrevoou de helicóptero a cidade
onde nasceu, Wadowice, e as
montanhas Tatra, onde costumava praticar atividades esportivas.
O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, disse à Folha
que, "como o papa afirmou, há
quem faça sugestões de que ele
não deveria retornar a Roma, mas
nesta noite [ontem" ele volta a Roma". João Paulo 2º chegou à Itália
às 21h20 de ontem (hora local,
16h20 em Brasília).
Sobre se o papa poderia voltar à
Polônia, Navarro-Valls respondeu: "Tudo está nas mãos de
Deus, mas há que se considerar o
desejo pessoal do papa. Eu, pessoalmente, acredito que sim". Sobre a atual visita, disse que o líder
católico se mostrou satisfeito com
a receptividade a sua mensagem
sobre a misericórdia de Deus e a
importância do perdão nas crises.
União Européia
O papa disse ontem esperar que
a Polônia, "que pertence à Europa
há séculos, encontre seu devido
lugar na União Européia e que
não apenas não perca sua identidade como também enriqueça este continente e o mundo inteiro com sua tradição". A Polônia deve entrar na UE em 2004.
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