São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Disputa divide governo após saída de Musharraf

Líder do 2º partido paquistanês exige volta de juiz destituído e ameaça deixar coalizão

Encontro sobre sucessão acaba em racha; aliança de rivais históricos no governo se amparava unicamente na oposição ao ex-ditador


DA REDAÇÃO

A saída de cena do general reformado Pervez Musharraf -que governou o Paquistão como ditador e equilibrava-se com dificuldades na Presidência após a abertura democrática neste ano- expôs a fragilidade da coalizão governista. Divisões internas ameaçam a aliança entre o PPP (Partido do Povo Paquistanês) e o PLM-N (Partido da Liga Muçulmana - facção Nawaz), rivais unidos pela oposição ao ex-presidente.
Um dia após forçar a renúncia de Musharraf com a bem articulada ameaça de impeachment, a base governista rachou ontem na reunião que discutia o futuro do país e da Presidência. Nawaz Sharif e a cúpula de seu partido, o segundo maior do Paquistão, abandonaram abruptamente o encontro, após quatro horas de negociação.
Não houve avanços no diálogo sobre a escolha do sucessor de Musharraf, que deve ser eleito em até 30 dias pelo Colégio Eleitoral. Almejado pelos dois partidos, o cargo deve ficar com o PPP, à frente do governo.
Entre os presidenciáveis, destaca-se a líder da Assembléia Nacional, Fehmina Mirza. Asif Zardari, viúvo da ex-premiê assassinada Benazir Bhutto e líder da legenda, pode tentar emplacar também sua irmã, a deputada Faryal Talpur, ou um outro aliado próximo e de perfil discreto, como o ex-ministro da Defesa Aftab Mirani.
A disputa sucessória é apenas uma das muitas desavenças da coalizão. Sharif exige o retorno imediato de Iftikhar Chaudhry, presidente da Suprema Corte afastado por Musharraf.
A saída não forçaria, necessariamente, eleições, mas tornaria o governo refém das pequenas legendas. Isto aumentaria a instabilidade no país, que tem a bomba nuclear e é um dos principais fronts da guerra ao terrorismo capitaneada pelos EUA.

Juízes
A volta de Chaudhry, ícone dos críticos ao regime militar, tem apoio de 83% dos paquistaneses, segundo pesquisa do Instituto Nacional Republicano feita em junho. A destituição do juiz arruinou o verniz de legalidade que o governo adquirira com o plebiscito de 2002 e provocou ondas de protesto.
O PPP não se opõe abertamente ao retorno de Chaudhry e dos outros 59 juízes demitidos, mas quer que o tema seja tratado pelo futuro presidente. Analistas familiarizados com os bastidores da política nacional dizem que Zardari tem restrições a Chaudhry.
Sem filiação partidária, o juiz é célebre pelas decisões contrárias ao governo. Abdul Dogar, seu substituto designado por Musharraf, tem boas relações com o viúvo de Benazir. Figura controvertida, Zardari esteve preso por corrupção e foi anistiado em 12 processos em 2008.
O retorno de Chaudhry facilitaria outra demanda de Sharif: julgar o ex-ditador por violar a Constituição. O ministro da Justiça, Farooq Naek, disse ontem que não houve acordo de anistia: "No que diz respeito às acusações, quem decidirá é a coalização governista".

Com agências internacionais



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