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Atentados matam ao menos 95 em Bagdá
Ações em série alvejam Chancelaria e Ministério das Finanças do Iraque sete semanas após EUA deixarem de patrulhar cidades
Ataques levantam dúvidas sobre capacidade iraquiana de promover segurança a meses de eleições cruciais; feridos ultrapassam os 400
Mohammed Jalil/Efe
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Policiais e civis transitam entre carros destruídos em atentado à Chancelaria
DA REDAÇÃO
Ao menos 95 pessoas morreram, e mais de 400 ficaram feridas ontem em ataques a bomba
em série, aparentemente coordenados, em Bagdá, o maior deles próximo à Zona Verde, a região mais protegida da capital
iraquiana. A ação não teve autoria reivindicada, mas foi atribuída pelo governo a insurgentes sunitas ligados à Al Qaeda.
A ofensiva, a mais grave no
país em ao menos um ano e
meio, ocorre sete semanas após
os EUA repassarem a responsabilidade pelas patrulhas nas
ruas iraquianas a Bagdá e levanta dúvidas sobre a capacidade das autoridades locais de
promover a segurança no país.
A transferência de responsabilidade integra o plano acertado no ano passado entre EUA e
Iraque que prevê a saída americana definitiva do país até o final de 2011. O premiê Nuri al
Maliki reconheceu pela primeira vez possíveis falhas dos
agentes locais em garantir a segurança no país.
No maior dos ataques de ontem, um caminhão-bomba explodiu em frente ao prédio do
Ministério das Relações Exteriores iraquiano, matando ao
menos 59 pessoas e ferindo outras 250, segundo fontes médicas e de segurança, e espalhando destroços das barreiras de
concreto de proteção na região.
O prédio, de dez andares, está
localizado ao lado da Zona Verde, cuja guarda havia sido também transferida aos iraquianos
no dia 1º de janeiro. Segundo
relatos, a explosão estilhaçou
as janelas e tisnou a fachada da
Chancelaria, além de estremecer a sede do Parlamento do
Iraque, já na zona contígua.
Apenas alguns minutos antes, outro caminhão-bomba explodira em local próximo ao
Ministério das Finanças, deixando ao menos 28 mortos e
117 feridos, ainda segundo fontes médicas e de segurança.
Completaram as ações terroristas explosões em áreas comerciais nos distritos de Bab al
Muadham, com seis mortos e
24 feridos, e de Baiyaa, com outros dois mortos e 16 feridos.
Além disso, houve relatos de
disparos de morteiros em direção à Zona Verde. Um dos disparos teria atingido local próximo à sede da ONU -justamente no sexto aniversário do atentado que matou o brasileiro
Sérgio Vieira de Mello, então
enviado das Nações Unidas ao
Iraque, e outras 21 pessoas.
Sinal de alerta
O premiê iraquiano, um xiita,
responsabilizou militantes sunitas fieis ao ditador Saddam
Hussein -deposto em 2003 e
executado três anos mais tarde- e ligados à rede terrorista
Al Qaeda no país. Maliki disse
que o governo reavaliará as medidas de segurança adotadas.
Os atentados em série são um
revés para o governo iraquiano,
que tenta transmitir à população um sentimento de retorno
à normalidade no país após seis
anos de ocupação americana e
dar provas de ter condições de
garantir a segurança e dar continuidade à queda da violência,
verificada no país desde 2007.
Após um pico de mais de 27
mil mortes de civis em 2006, o
número de vítimas diminuiu a
partir do aumento de tropas
promovido no governo americano de George W. Bush (2001-2009), até chegar à casa dos
9.000 no ano passado, segundo
a ONG "Iraq Body Count".
Neste ano, até junho, as mortes estavam em pouco mais de
2.000, e o governo iraquiano já
havia prometido para meados
de setembro a retirada de algumas das barreiras de segurança
que atravancam ruas na capital.
As ações geram dúvidas também sobre se os ataques das últimas semanas, sobretudo em
Bagdá e cidades do norte iraquiano, são pontuais ou significam uma inversão da tendência
a poucos meses da realização
das eleições nacionais, previstas para janeiro.
O pleito é crucial para os planos do presidente dos EUA, Barack Obama, que ao assumir
desviou o foco do combate ao
terror do Iraque para Paquistão
e Afeganistão.
Obama adiantou também os
passos do plano de retirada do
Iraque ao prever para agosto de
2010 a saída de todas as tropas
de combate do país, deixando
cerca de 50 mil homens apenas
para treinamento até 2011.
Com agências internacionais
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