São Paulo, quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Próximo Texto | Índice

Atentados matam ao menos 95 em Bagdá

Ações em série alvejam Chancelaria e Ministério das Finanças do Iraque sete semanas após EUA deixarem de patrulhar cidades

Ataques levantam dúvidas sobre capacidade iraquiana de promover segurança a meses de eleições cruciais; feridos ultrapassam os 400


Mohammed Jalil/Efe
Policiais e civis transitam entre carros destruídos em atentado à Chancelaria

DA REDAÇÃO

Ao menos 95 pessoas morreram, e mais de 400 ficaram feridas ontem em ataques a bomba em série, aparentemente coordenados, em Bagdá, o maior deles próximo à Zona Verde, a região mais protegida da capital iraquiana. A ação não teve autoria reivindicada, mas foi atribuída pelo governo a insurgentes sunitas ligados à Al Qaeda.
A ofensiva, a mais grave no país em ao menos um ano e meio, ocorre sete semanas após os EUA repassarem a responsabilidade pelas patrulhas nas ruas iraquianas a Bagdá e levanta dúvidas sobre a capacidade das autoridades locais de promover a segurança no país.
A transferência de responsabilidade integra o plano acertado no ano passado entre EUA e Iraque que prevê a saída americana definitiva do país até o final de 2011. O premiê Nuri al Maliki reconheceu pela primeira vez possíveis falhas dos agentes locais em garantir a segurança no país.
No maior dos ataques de ontem, um caminhão-bomba explodiu em frente ao prédio do Ministério das Relações Exteriores iraquiano, matando ao menos 59 pessoas e ferindo outras 250, segundo fontes médicas e de segurança, e espalhando destroços das barreiras de concreto de proteção na região.
O prédio, de dez andares, está localizado ao lado da Zona Verde, cuja guarda havia sido também transferida aos iraquianos no dia 1º de janeiro. Segundo relatos, a explosão estilhaçou as janelas e tisnou a fachada da Chancelaria, além de estremecer a sede do Parlamento do Iraque, já na zona contígua.
Apenas alguns minutos antes, outro caminhão-bomba explodira em local próximo ao Ministério das Finanças, deixando ao menos 28 mortos e 117 feridos, ainda segundo fontes médicas e de segurança.
Completaram as ações terroristas explosões em áreas comerciais nos distritos de Bab al Muadham, com seis mortos e 24 feridos, e de Baiyaa, com outros dois mortos e 16 feridos.
Além disso, houve relatos de disparos de morteiros em direção à Zona Verde. Um dos disparos teria atingido local próximo à sede da ONU -justamente no sexto aniversário do atentado que matou o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, então enviado das Nações Unidas ao Iraque, e outras 21 pessoas.

Sinal de alerta
O premiê iraquiano, um xiita, responsabilizou militantes sunitas fieis ao ditador Saddam Hussein -deposto em 2003 e executado três anos mais tarde- e ligados à rede terrorista Al Qaeda no país. Maliki disse que o governo reavaliará as medidas de segurança adotadas.
Os atentados em série são um revés para o governo iraquiano, que tenta transmitir à população um sentimento de retorno à normalidade no país após seis anos de ocupação americana e dar provas de ter condições de garantir a segurança e dar continuidade à queda da violência, verificada no país desde 2007.
Após um pico de mais de 27 mil mortes de civis em 2006, o número de vítimas diminuiu a partir do aumento de tropas promovido no governo americano de George W. Bush (2001-2009), até chegar à casa dos 9.000 no ano passado, segundo a ONG "Iraq Body Count".
Neste ano, até junho, as mortes estavam em pouco mais de 2.000, e o governo iraquiano já havia prometido para meados de setembro a retirada de algumas das barreiras de segurança que atravancam ruas na capital.
As ações geram dúvidas também sobre se os ataques das últimas semanas, sobretudo em Bagdá e cidades do norte iraquiano, são pontuais ou significam uma inversão da tendência a poucos meses da realização das eleições nacionais, previstas para janeiro.
O pleito é crucial para os planos do presidente dos EUA, Barack Obama, que ao assumir desviou o foco do combate ao terror do Iraque para Paquistão e Afeganistão.
Obama adiantou também os passos do plano de retirada do Iraque ao prever para agosto de 2010 a saída de todas as tropas de combate do país, deixando cerca de 50 mil homens apenas para treinamento até 2011.

Com agências internacionais



Próximo Texto: Análise: Esquecendo o Iraque enquanto ele explode
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.