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Governo ameaça expulsar quem não respeitar censura
Na véspera da votação, autoridades endurecem restrições à divulgação pela mídia de atentados, o que pode motivar abstenção
Sujeitos a serem fechados, meios locais afirmam que não cumprirão a ordem, repudiada pela ONU, que recomendou sua revogação
DO ENVIADO A CABUL
O governo afegão começou a
censurar o trabalho dos jornalistas ontem e promete punir
quem não cumprir a ordem de
não divulgar atos violentos hoje: expulsar os estrangeiros e
fechar meios locais.
"Não é bem o que chamam de
uma democracia. Isso é ridículo", afirmou à Folha o diretor
da principal rede privada, a Tolo TV, Saad Mohseni.
Segundo o Ministério das
Relações Exteriores, a medida
visa evitar que notícias de violência afastem pessoas do pleito. A abstenção é o objetivo
principal da campanha intimidatória do Taleban e o principal temor da ONU.
As Nações Unidas, contudo,
rejeitaram a censura e pediram
a suspensão da medida. "As
pessoas precisam de acesso à
informação. A credibilidade
destas eleições está ligada diretamente à informação a que as
pessoas têm acesso", disse o
porta-voz Alim Siddique.
A ordem havia sido expedida
anteontem, mas os meios locais afirmaram que não iriam
respeitá-la. "Em cada país democrático, há situações extraordinárias que levam o governo a tomar decisões para
preservar o interesse nacional", afirmou o porta-voz do
Ministério das Relações Exteriores, Ahmad Zahir Faqiri.
O blecaute informativo sobre
violência em tempo real, segundo os decretos de terça-feira, vale das 6h às 20h de hoje
(22h30 de ontem e 12h30 de
hoje no Brasil). A eleição ocorre entre as 8h e as 16h no Afeganistão. Além disso, está proibida a presença de jornalistas
em locais em que tenha havido
atos violentos no período.
Mas a repressão ao trabalho
dos jornalistas efetivamente já
começou ontem. A Associated
Press foi proibida de tirar fotos
no centro da cidade, e em vários bloqueios pela cidade nenhuma credencial era aceita.
Quando chegou ao final do
cerco militar ao banco que havia sido tomado pelo Taleban
no centro de Cabul, a Folha foi
obrigada e ficar atrás de uma
barreira policial. Quando tentou fotografar, um soldado do
Exército afegão deu um tapa na
câmera.
"São as ordens", disse ele.
Mas o decreto que também
proíbe a presença de jornalistas em cenas de atentados só
vale para o dia da eleição. "Não
interessa", foi sua resposta ao
tradutor.
Mais tarde, a reportagem foi
parada e obrigada a dar meia-volta em quatro bloqueios próximos ao palácio presidencial.
Num deles, o soldado tentou
reter o passaporte do repórter,
sem sucesso.
O Afeganistão é um país movido a boatos. Nas cidades
maiores, conversas de bazar viram histórias mirabolantes
com certa frequência.
Mas é inescapável lembrar
que o Taleban está cumprindo
sua promessa de atacar o processo eleitoral com violência.
A repórteres, o diretor da Associação dos Jornalistas Independentes do Afeganistão afirmou que o governo está sendo
tolo. "Ninguém vai deixar de
trabalhar, esconder as coisas só
vai piorar tudo", afirmou Rahimullah Samander.
(IGOR GIELOW)
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