São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2010

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França intensifica expulsão de ciganos

Com popularidade em baixa, governo Sarkozy tenta criar nova vitrine para sua política de segurança pública

Ministro do Interior pretende desmantelar até 300 acampamentos em situação irregular num prazo de 3 meses


CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A França iniciou ontem a primeira leva de repatriamento de ciganos de origem estrangeira após o endurecimento da política contra imigração ilegal anunciada pelo presidente Nicolas Sarkozy e pelo ministro do Interior, Brice Hortefeux, em julho.
Ontem, 70 pessoas foram enviadas para Bucareste. O governo esperava o embarque de 93 pessoas no âmbito do programa de saída voluntária. Além da passagem aérea, cada adulto recebeu 300, e cada menor, 100.
Hoje, um novo voo está previsto, com 132 pessoas. Até o final do mês, 700 ciganos romenos e búlgaros deverão retornar a seus países.
A prática de repatriamento de estrangeiros em situação ilegal é comum na França. No ano passado, cerca de 10 mil ciganos deixaram o país.
A novidade dessa nova onda de expulsões é o caráter político da manobra.
Com baixa popularidade -a taxa de aprovação do governo é de 34%, segundo o instituto CSA- , Sarkozy faz do desmantelamento dos acampamentos ciganos irregulares uma nova vitrine de sua política de segurança.
Em 28 de julho, em Saint-Aignan, no centro da França, a polícia matou um jovem que vivia em um acampamento. O episódio gerou uma escalada de violência entre policiais e ciganos, e os responsáveis pela segurança no país então subiram o tom.
"Há 20 anos existem expulsões de ciganos. Mas, agora, o governo associa a onda de violência e os ciganos", avalia Alexandre Le Clève, porta-voz da associação de assistência a estrangeiros Hors la Rue.
"O governo francês achou um bode expiatório para atrair a atenção da mídia."
Em atividade em Bucareste desde 1996 e em Paris desde 2002, a organização acompanha de perto a situação da comunidade cigana.

MEDO
O ministro Hortefeux defende o desmantelamento de 300 acampamentos de ciganos em situação irregular em até três meses. Ontem, revelou que 78 já foram desativados. Entre eles, um grande acampamento em Montreuil, ao leste de Paris. Le Clève acompanhou a expulsão.
"É uma situação de medo e de terror, especialmente para as crianças, que estão apavoradas. Muitas, ao verem a polícia chegando, vieram se refugiar no nosso centro."
Diante das blitze frequentes dos últimos dias, os ciganos tentam, ao máximo, fugir dos holofotes. "Eles não querem falar com estranhos porque têm medo. Além disso, sob a ameaça da chegada da polícia, o ambiente nos acampamentos é bastante tenso", explicou Le Clève.


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