São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Proposta de resolução submetida ao Congresso dá ao presidente amplos poderes para iniciar guerra

Bush detalha motivos para atacar Iraque

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, pediu ontem ao Congresso uma autorização para "usar todos os meios que julgar apropriados, inclusive a força" para desarmar o Iraque e derrubar o ditador Saddam Hussein.
A proposta de resolução submetida pelo governo detalha os motivos que levam o país a considerar uma ação militar e dá ao presidente amplos poderes para iniciar uma guerra. Da forma como foi redigida, ela poderia ser usada por Washington para justificar uma ação unilateral, sem a necessidade de aprovação do Conselho de Segurança da ONU.
Os EUA pressionam os países do órgão a votar resolução dizendo que, se o Iraque não cooperar absolutamente com os inspetores encarregados de desarmá-lo, seria alvo legítimo de ataques.
"Se você quer manter a paz, precisa ter a autorização para usar a força", declarou ontem Bush.
Segundo analistas políticos, ele tomou a ofensiva política no plano doméstico, antecipando-se a uma proposta mais restritiva que vinha sendo preparada pela oposição democrata. O envio do texto ao Congresso coloca o presidente "no banco do motorista", disse à Folha Lee Feinstein, pesquisador-sênior do Council on Foreign Relations, um dos principais think-tanks americanos de política externa. "O presidente quer máxima liberdade de ação."
Bush e assessores próximos a ele trabalharam ontem para angariar o apoio de deputados à resolução. O governo tem pressa: deseja ver a matéria apreciada e votada antes que os congressistas deixem Washington para fazer campanha para as eleições legislativas de 5 de novembro.
A proposta apresentada acusa o Iraque de violar mais de uma dezena de resoluções da ONU ao obstruir missões de desarmamento e continuar a desenvolver seus programas de armas de destruição em massa. Diz também que o regime de Saddam apóia terroristas e abriga integrantes da Al Qaeda, além de reprimir a própria população iraquiana, sobretudo os de origem curda.
Além disso, o texto lembra que a Lei de Liberação do Iraque (1998) afirma que "deve ser política dos EUA apoiar esforços para remover do poder o atual regime do Iraque e promover um governo democrático para substituí-lo".
Líderes do Congresso disseram que a resolução deve ser aprovada rapidamente, embora os democratas queiram fazer alterações no texto. O líder da maioria democrata no Senado, Tom Daschle prevê a aprovação da resolução com "forte apoio bipartidário" até o início de outubro. Já Carl Levin, do comitê das Forças Armadas do Senado, defende uma cláusula na resolução do Congresso especificando que, antes de agir, Bush precisaria de resolução da ONU apoiando o uso da força.
Um alto funcionário da Casa Branca disse ao diário "The Washington Post" que a resolução daria ao presidente dos EUA "flexibilidade máxima" para adotar qualquer plano de guerra, independentemente da ONU.
Na opinião de Thomas C. Heller, professor da Universidade Stanford, "na ausência de novas resoluções da ONU e com a legitimação pelo Congresso, Bush acreditará que possui autoridade suficiente para atacar o Iraque". Para ele, Washington dirá que está "fazendo valer as resoluções da ONU já existentes" e, portanto, não estaria violando o direito internacional ao atacar Bagdá.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Violência: Israelenses matam palestino de dez anos em Ramallah
Próximo Texto: Presidente toma dianteira política, diz analista
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.