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Presidente toma dianteira política, diz analista
DA REDAÇÃO
Ao enviar ao Congresso uma proposta de resolução que lhe autoriza a usar "todos os meios" contra o Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, tenta tomar a dianteira no processo político tanto no plano doméstico quanto no internacional.
Segundo Lee Feinstein, pesquisador-sênior do Council on Foreign Relations e ex-conselheiro da secretária de Estado Madeleine Albright, Bush busca um atestado de que "o Congresso apóia a mudança de regime no Iraque".
Ao mesmo tempo, observa Feinstein, ao manter a ameaça de ofensiva militar unilateral, Washington aposta numa diplomacia agressiva, acreditando que, dessa
forma, conseguirá reunir apoio internacional a uma ação.
Leia a seguir trechos da entrevista, concedida à Folhapor telefone, de Washington.(MS)
Folha - O que Bush deseja com essa resolução no Congresso? Trata-se apenas de obter legitimidade
para um ataque ao Iraque?
Lee Feinstein - O presidente quer
máxima liberdade de ação, tanto
do Congresso como da ONU. E
não quer ter de voltar de novo
mais tarde ao Congresso. Deseja
obter uma autorização de força
que seja suficiente para uma grande variedade de eventualidades.
Ao tomar essa ação, ele criou
agora os termos do debate que ele
não sabe quanto tempo vai durar.
Também está ciente de que vários
membros do Congresso são contrários a uma autorização de força
em razão das eleições legislativas
de novembro. Sabe que eles querem adiá-la até depois das eleições. Bush pretende, assim, forçar
que o debate seja feito agora.
O outro ponto é que o presidente quer evitar uma resolução que
os democratas começavam a preparar para competir com aquela
propostas pelo governo.
Nela, os congressistas especificariam vários fatores e critérios
que teriam de ser respeitados [para que Bush pudesse usar a força
militar".
Folha - Ele busca, então, uma resolução para ter plenos poderes?
Feinstein - Ele quer uma resolução geral, afirmando que o Congresso apóia a mudança de regime no Iraque. Os deputados, porém, não devem aceitar uma resolução sem fazer nenhuma mudança no texto final.
Infelizmente, como é ano de
eleições, a política interfere no
processo. É uma decisão muito
séria, que deveria ser debatida
com total concentração no mérito
da questão e não em interesses
políticos.
Folha - Bush tenta acelerar o início da guerra para aumentar o poder eleitoral de seu Partido Republicano antes das eleições?
Feinstein - Isso é uma visão muito simplista. Eu diria que esse presidente quer o máximo de autoridade e flexibilidade que puder obter. Ele percebeu que, ao buscar
uma resolução do Congresso agora, estaria sentando no banco do
motorista.
A opinião pública aqui nos EUA
está bastante dividida sobre uma
ação contra o Iraque. A maioria
dos americanos, como os europeus, gostaria de ver um novo regime no Iraque. Mas eles não querem que os EUA lancem ação sem
apoio do Congresso e também se
opõem a que o país entre na guerra sozinho.
Folha - Apesar disso, o discurso
de Bush na ONU e os termos de sua
resolução ao Congresso dão a entender que os EUA estão dispostos
a depor Saddam sozinhos, se for
preciso...
Feinstein - O presidente acha
que, para obter apoio internacional, é preciso que os países considerem seriamente a opção militar. Isso o ajuda diplomaticamente. Quando ele falou seriamente sobre a possibilidade de uma guerra contra o Iraque, conseguiu
apoio na ONU. E isso também funciona no cenário internacional em geral.
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