São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

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Presidente toma dianteira política, diz analista

DA REDAÇÃO

Ao enviar ao Congresso uma proposta de resolução que lhe autoriza a usar "todos os meios" contra o Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, tenta tomar a dianteira no processo político tanto no plano doméstico quanto no internacional.
Segundo Lee Feinstein, pesquisador-sênior do Council on Foreign Relations e ex-conselheiro da secretária de Estado Madeleine Albright, Bush busca um atestado de que "o Congresso apóia a mudança de regime no Iraque".
Ao mesmo tempo, observa Feinstein, ao manter a ameaça de ofensiva militar unilateral, Washington aposta numa diplomacia agressiva, acreditando que, dessa forma, conseguirá reunir apoio internacional a uma ação.
Leia a seguir trechos da entrevista, concedida à Folhapor telefone, de Washington.(MS)

Folha - O que Bush deseja com essa resolução no Congresso? Trata-se apenas de obter legitimidade para um ataque ao Iraque?
Lee Feinstein -
O presidente quer máxima liberdade de ação, tanto do Congresso como da ONU. E não quer ter de voltar de novo mais tarde ao Congresso. Deseja obter uma autorização de força que seja suficiente para uma grande variedade de eventualidades.
Ao tomar essa ação, ele criou agora os termos do debate que ele não sabe quanto tempo vai durar. Também está ciente de que vários membros do Congresso são contrários a uma autorização de força em razão das eleições legislativas de novembro. Sabe que eles querem adiá-la até depois das eleições. Bush pretende, assim, forçar que o debate seja feito agora.
O outro ponto é que o presidente quer evitar uma resolução que os democratas começavam a preparar para competir com aquela propostas pelo governo.
Nela, os congressistas especificariam vários fatores e critérios que teriam de ser respeitados [para que Bush pudesse usar a força militar".

Folha - Ele busca, então, uma resolução para ter plenos poderes?
Feinstein -
Ele quer uma resolução geral, afirmando que o Congresso apóia a mudança de regime no Iraque. Os deputados, porém, não devem aceitar uma resolução sem fazer nenhuma mudança no texto final.
Infelizmente, como é ano de eleições, a política interfere no processo. É uma decisão muito séria, que deveria ser debatida com total concentração no mérito da questão e não em interesses políticos.

Folha - Bush tenta acelerar o início da guerra para aumentar o poder eleitoral de seu Partido Republicano antes das eleições?
Feinstein -
Isso é uma visão muito simplista. Eu diria que esse presidente quer o máximo de autoridade e flexibilidade que puder obter. Ele percebeu que, ao buscar uma resolução do Congresso agora, estaria sentando no banco do motorista.
A opinião pública aqui nos EUA está bastante dividida sobre uma ação contra o Iraque. A maioria dos americanos, como os europeus, gostaria de ver um novo regime no Iraque. Mas eles não querem que os EUA lancem ação sem apoio do Congresso e também se opõem a que o país entre na guerra sozinho.

Folha - Apesar disso, o discurso de Bush na ONU e os termos de sua resolução ao Congresso dão a entender que os EUA estão dispostos a depor Saddam sozinhos, se for preciso...
Feinstein -
O presidente acha que, para obter apoio internacional, é preciso que os países considerem seriamente a opção militar. Isso o ajuda diplomaticamente. Quando ele falou seriamente sobre a possibilidade de uma guerra contra o Iraque, conseguiu apoio na ONU. E isso também funciona no cenário internacional em geral.


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