São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2004

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ÁSIA

Jiang Zemin tinha mandato até 2007, mas preferiu deixar o cargo de chefe militar

Hu Jintao conclui transição na China

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O ex-presidente da China, Jiang Zemin, deixou ontem o cargo de chefe militar do país, concluindo a transição de poder iniciada em novembro de 2002, quando o atual presidente, Hu Jintao, o substituiu na Secretaria-Geral do Partido Comunista.
A saída de Jiang Zemin do último cargo importante que ocupava põe fim à dualidade de poder que a China teve por quase dois anos, com ele no comando militar e Hu no comando político. A partir de agora, o presidente terá o controle do partido, do governo e das Forças Armadas.
A transferência do cargo ocorreu durante reunião de quatro dias do Comitê Central do Partido Comunista, na qual Hu apresentou seu projeto para o futuro da legenda, que detém o poder desde a revolução de 1949.
O documento aprovado pelos 198 membros do Comitê Central defende o "império da lei", faz referências à democracia e propõe a adoção de mecanismos "científicos" de tomada de decisões. O grande tema da reunião foi o aperfeiçoamento da capacidade administrativa do Partido Comunista, considerada essencial para a manutenção da estabilidade social do país.
A televisão estatal dedicou todo o seu programa de notícias à transmissão de poder, aumentando o programa de meia hora em 15 minutos.
Com o fim da transição, Hu terá mais liberdade e apoio para implementar sua agenda política, avalia Yu Bin, especialista em China e professor de ciência política da Universidade Wittenberg (Estados Unidos).
Em sua opinião, Hu tende a priorizar as camadas mais pobres da população, depois de décadas de reformas econômicas que beneficiaram a elite do país. Para ele, os anos de governo de Jiang foram marcados pelo favorecimento às elite econômica, política e intelectual. "Depois de décadas de reformas de mercado, a China tem de buscar um equilíbrio", sustenta Yu.
As duas grande tarefas de Hu, acrescenta, serão a redução da crescente desigualdade entre ricos e pobres e a reacomodação do Partido Comunista no poder. Quanto mais bem-sucedido for na primeira, mais chances terá de implementar a segunda, ressalta.
A entrega do comando militar de Jiang para Hu também conclui a mais tranqüila transição de poder entre os comunistas chineses. Todas as outras transições foram feitas em momentos caóticos ou de crise, afirma Yu. Ela também marca a saída de cena da terceira geração de líderes pós-1949, que tinha em Jiang, 78, seu principal representante. As figuras centrais do poder agora são Hu e o primeiro-ministro Wen Jiabao, ambos com pouco mais de 60 anos.
Jiang tinha mandato até 2007, mas decidiu renunciar. Na avaliação de Yu, o ex-presidente teve de abandonar o cargo por crescente pressão da sociedade e do partido. Todos os outros membros da terceira geração de líderes já haviam deixado suas funções em 2003.

Problema solucionado
A duplicidade de poder "estava desagradando a muitos membros da liderança chinesa, incluindo militares, porque ela criava "dois quartéis-generais'", disse à agência Associated Press o especialista em política chinesa Andrew Nathan, professor da Universidade Columbia, de Nova York.
"Isso era um problema potencial e uma situação que não era normal dentro da tradição da República Popular da China. Cedo ou tarde, isso teria de ser resolvido", acrescentou.
"É um passo bom, positivo porque finalmente completa a mudança sistêmica", disse à Associated Press Sin-ming Shaw, especialista em China da Universidade Oxford. "Ter alguém como como secretário-geral do partido sem controle das armas é muito complicado. Isso definitivamente deixará as coisas mais fáceis."


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