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ÁSIA
Jiang Zemin tinha mandato até 2007, mas preferiu deixar o cargo de chefe militar
Hu Jintao conclui transição na China
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
O ex-presidente da China, Jiang
Zemin, deixou ontem o cargo de
chefe militar do país, concluindo
a transição de poder iniciada em
novembro de 2002, quando o
atual presidente, Hu Jintao, o
substituiu na Secretaria-Geral do
Partido Comunista.
A saída de Jiang Zemin do último cargo importante que ocupava põe fim à dualidade de poder
que a China teve por quase dois
anos, com ele no comando militar
e Hu no comando político. A partir de agora, o presidente terá o
controle do partido, do governo e
das Forças Armadas.
A transferência do cargo ocorreu durante reunião de quatro
dias do Comitê Central do Partido
Comunista, na qual Hu apresentou seu projeto para o futuro da
legenda, que detém o poder desde
a revolução de 1949.
O documento aprovado pelos
198 membros do Comitê Central
defende o "império da lei", faz referências à democracia e propõe a
adoção de mecanismos "científicos" de tomada de decisões. O
grande tema da reunião foi o
aperfeiçoamento da capacidade
administrativa do Partido Comunista, considerada essencial para
a manutenção da estabilidade social do país.
A televisão estatal dedicou todo
o seu programa de notícias à
transmissão de poder, aumentando o programa de meia hora em
15 minutos.
Com o fim da transição, Hu terá
mais liberdade e apoio para implementar sua agenda política,
avalia Yu Bin, especialista em China e professor de ciência política
da Universidade Wittenberg (Estados Unidos).
Em sua opinião, Hu tende a
priorizar as camadas mais pobres
da população, depois de décadas
de reformas econômicas que beneficiaram a elite do país. Para ele,
os anos de governo de Jiang foram marcados pelo favorecimento às elite econômica, política e intelectual. "Depois de décadas de
reformas de mercado, a China
tem de buscar um equilíbrio",
sustenta Yu.
As duas grande tarefas de Hu,
acrescenta, serão a redução da
crescente desigualdade entre ricos e pobres e a reacomodação do
Partido Comunista no poder.
Quanto mais bem-sucedido for
na primeira, mais chances terá de
implementar a segunda, ressalta.
A entrega do comando militar
de Jiang para Hu também conclui
a mais tranqüila transição de poder entre os comunistas chineses.
Todas as outras transições foram
feitas em momentos caóticos ou
de crise, afirma Yu. Ela também
marca a saída de cena da terceira
geração de líderes pós-1949, que
tinha em Jiang, 78, seu principal
representante. As figuras centrais
do poder agora são Hu e o primeiro-ministro Wen Jiabao, ambos
com pouco mais de 60 anos.
Jiang tinha mandato até 2007,
mas decidiu renunciar. Na avaliação de Yu, o ex-presidente teve de
abandonar o cargo por crescente
pressão da sociedade e do partido.
Todos os outros membros da terceira geração de líderes já haviam
deixado suas funções em 2003.
Problema solucionado
A duplicidade de poder "estava
desagradando a muitos membros
da liderança chinesa, incluindo
militares, porque ela criava "dois
quartéis-generais'", disse à agência Associated Press o especialista
em política chinesa Andrew Nathan, professor da Universidade
Columbia, de Nova York.
"Isso era um problema potencial e uma situação que não era
normal dentro da tradição da República Popular da China. Cedo
ou tarde, isso teria de ser resolvido", acrescentou.
"É um passo bom, positivo porque finalmente completa a mudança sistêmica", disse à Associated Press Sin-ming Shaw, especialista em China da Universidade
Oxford. "Ter alguém como como
secretário-geral do partido sem
controle das armas é muito complicado. Isso definitivamente deixará as coisas mais fáceis."
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