São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2004

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EUROPA

Em pleito regional, partido acusado de manter vínculos com neonazistas consegue participar do Parlamento após 36 anos

Ultradireita avança no leste da Alemanha

DA REDAÇÃO

A extrema direita obteve vitórias importantes ontem, em eleições legislativas regionais em dois Estados que, até 1990, faziam parte da extinta Alemanha socialista. Na outra ponta do espectro ideológico, a agremiação que sucedeu o Partido Comunista da Alemanha Oriental também avançou.
No Estado da Saxônia, o Partido Nacional Democrático (NPD), acusado pelo governo de manter laços com neonazistas, ultrapassou a barreira dos 5% -o que lhe dá direito a ocupar cadeiras no Parlamento local. É a primeira vez que isso ocorre desde 1968.
O NPD conquistou cerca de 9% dos votos na Saxônia, onde a taxa de desemprego chega a 23%, contra uma média de 12% na região da antiga Alemanha Ocidental. Nas eleições de 1999, o NPD obteve pouco mais de 1% dos votos.
Em Brandemburgo, outra legenda de extrema direita, a Unidade do Povo Alemão (DVU), obteve votação acima de 6% e logrou permanecer representada no Legislativo regional.
Nesses dois Estados do leste, também avançou o Partido do Socialismo Democrático (PDS). Essa legenda foi a que sucedeu o partido que dominava a República Democrática Alemã (socialista), extinta com a reunificação, em 1990. O PDS conquistou 28,5% em Brandemburgo -Estado que envolve a capital, Berlim, que tem status administrativo especial- e 22,5% na Saxônia.
A ascensão da extrema direita e a consolidação do poder nos dois Estados do leste dos herdeiros do socialismo alemão oriental se deram à custa dos dois grandes partidos da Alemanha, o Social-Democrata (SPD), do chanceler Gerhard Schröder, e a União Democrata Cristã (CDU). O SPD continua o maior partido em Brandemburgo, e a CDU mantém o domínio na Saxônia, mas ambos cederam espaço aos dois extremos do espectro ideológico.
Tanto as duas legendas de extrema direita quanto o comunista PDS que ganharam espaço no leste alemão ontem têm centralizado os protestos contra o programa de reformas do governo Schröder. Esse conjunto de propostas governamentais, conhecido como Agenda 2010, pretende cortar benefícios de bem-estar social, como o seguro-desemprego, fornecidos pelo Estado alemão.
No ano passado, o governo da Alemanha tentou proscrever o NPD, acusando-o de estar vinculado a organizações neonazistas que, desde a reunificação do país, têm sido responsáveis pela perseguição e pela morte de imigrantes estrangeiros. A tentativa do governo falhou porque a Justiça considerou que as provas contra o NPD haviam sido deturpadas pelo serviço de inteligência do país.
"É um grande dia para os alemães que ainda querem ser alemães", declarou Holger Apfel, o principal candidato do NPD na Saxônia. Axel é o mesmo que já pregou a destruição de um memorial em Berlim alusivo ao Holocausto -o extermínio coletivo de judeus e outras minorias pelo governo nazista de Adolf Hitler.
O mote da campanha do ultradireitista NPD foi "Dinheiro alemão para os interesses alemães". Sua plataforma inclui vigorosa oposição à expansão da União Européia, à imigração e aos cortes sociais propostos por Schröder.
O chefe da comunidade judaica alemã, Paul Spiegel, reagiu à ascensão do NPD: "Um partido que faz propaganda anti-semita e xenófoba não pertence a nenhum Parlamento." O líder social-democrata (governista) Franz Müntefering disse que o NPD "é um desastre, ninguém deveria votar nos neonazistas". O chefe da CDU (democratas cristãos) na Saxônia, Fritz Haehle, considerou a ascensão do NPD "humilhante".


Com agências internacionais e o "Independent"


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