São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005 |
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ALEMANHA VOTA Partidos grandes negam, mas podem ficar sem alternativa; nesse caso Merkel e Schröder devem sair de cena Apesar de disputa, grande coalizão é viável
MÁRCIO SENNE DE MORAES ENVIADO ESPECIAL A BERLIM Perplexos com o impasse eleitoral, os alemães assistiram ontem a uma áspera disputa entre suas principais formações políticas, o Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler (premiê) Gerhard Schröder, e a aliança composta pela União Democrata Cristã (CDU), de Angela Merkel, e pela União Social Cristã (CSU), no primeiro dia das negociações para formar o próximo governo. Ambas reclamam para si o direito de liderar a nova coalizão, embora tenham obtido resultado bem inferior à votação de 2002. Do total de 613 cadeiras, os conservadores ficaram com 225; os social-democratas, com 222. Como agravante, um distrito de Dresden (leste) não realizou o pleito, e o instituto de pesquisas Forsa afirmou que, apesar de ser "improvável", ainda há chance de o SPD empatar em assentos após a eleição de 2 de outubro. Dos cenários possíveis, a formação de uma grande coalizão entre as maiores forças ainda parece ser o mais provável, de acordo com analistas ouvidos pela Folha. No caso, contudo, dificilmente Merkel ou Schröder acabariam à frente da Chancelaria. "A posição de Merkel na CDU ficou muito enfraquecida em razão do mau resultado do partido, que, segundo pesquisas, deveria ter recebido mais de 40% dos votos, mas terminou pouco acima de 35%, um dos piores resultados da história. Ela será vista como responsável pelo "fracasso". A grande coalizão é possível, porém dificilmente com Merkel ou com Schröder à frente", analisou o cientista político Manfred Nitsch. Até agora, todavia, os pesos pesados da CDU/CSU mantêm seu "apoio incondicional" à candidata -exceto críticas gerais aos erros da campanha, que "se esqueceu das aspirações sociais" dos alemães. Ela enfrenta hoje seu primeiro desafio: a eleição para líder da bancada no Bundestag. Espera-se que Merkel vença sem problema, pois os conservadores não querem expor suas divisões. Afinal, isso fortaleceria o SPD na disputa pela Chancelaria. Segundo pesquisa, 62% dos alemães se disseram "decepcionados" com a eleição, 60% "estão preocupados" com o futuro, e 42% admitiram "não ter noção" do que ocorrerá até 18 de outubro, quando devem acabar as negociações sobre o novo governo. Por ora, o SPD e a CDU/CSU descartam a idéia de unir-se e já deram início às conversas com as outras legendas que poderão participar da coalizão: o Partido Democrata Liberal (FDP) e os Verdes. Mas alianças dos conservadores ou dos social-democratas com os partidos menores parecem difíceis de se concretizarem. O líder do FDP, Guido Westerwelle, descartou "categoricamente a entrada na coalizão semáforo", que uniria seu partido, cuja cor é o amarelo, ao SPD (vermelho) e aos Verdes. "Não podemos dizer uma coisa aos eleitores na campanha e, depois, mudar de curso", afirmou. O ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, líder dos Verdes, expressou sua "oposição pessoal" a uma coalizão Jamaica (em alusão às cores da bandeira do país caribenho), que os colocaria ao lado do FDP e da CDU/CSU (preto). "O importante é o conteúdo, e a distância entre nós é enorme", declarou. Assim, apesar da radicalização dos maiores partidos, a constituição da grande coalizão é plausível. Ademais, uma linha de governo comum não seria impossível. "O SPD bloqueará o aprofundamento da flexibilização do mercado de trabalho, porém deverá, por exemplo, permitir a continuação da reforma da Previdência, o que ajudará a reduzir o peso dos altos salários sobre as empresas", disse Juergen Michels, do Citigroup. A Bolsa alemã reagiu mal ao impasse e registrou baixa de 1,2%, e o euro teve leve queda no mercado internacional. A Alemanha tem a maior economia entre os 12 países da zona do euro. Próximo Texto: Lei eleitoral e desvantagem pequena explicam "arrogância" de Schröder Índice |
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