São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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ALEMANHA VOTA

França faz pronunciamento comedido; Turquia, pretendente ao bloco, celebra o resultado de Merkel

Impasse provoca reações dúbias na Europa

DA REDAÇÃO

Enquanto os principais sócios da Alemanha na União Européia ainda preferem esperar um cenário mais claro para se pronunciarem sobre o resultado das eleições, países com menor força no bloco e a Turquia, pretendente à integração, tomaram partido no dia seguinte ao pleito a respeito de quem seria o candidato favorito para ocupar a chancelaria.
A França, por meio de seu ministro das Relações Exteriores, Phillipe Douste-Blazy, expressou neutralidade em seu pronunciamento. "Qualquer que seja a coalizão formada a partir das negociações, a relação franco-alemã ainda será o coração da UE." Segundo ele, a incerteza política na Alemanha não significa que o poderio econômico da UE será desestabilizado. "Não é porque existem dúvidas hoje que nós vamos dizer que a Alemanha e o resto da Europa estão enfraquecendo."
Já o primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, disse que o resultado aquém do esperado pela candidata da União Democrata Cristã, Angela Merkel, provou que a oposição dela à entrada dos turcos no bloco europeu de forma integral estava errada. "Francamente, esse resultado surpreendente (...) deveria levar os políticos a reconsiderarem suas posições", disse o premiê turco. Cerca de 500 mil de 2,6 milhões de pessoas de origem turca têm direito a voto na Alemanha.
Durante a campanha eleitoral, Merkel afirmou que a Turquia deveria obter uma "parceria privilegiada", mas não a integração total à União Européia. Erdogan declarou que o atual chanceler (premiê), Gerhard Schröder, fez uma campanha "bem-sucedida" e disse que aguardava um "bom resultado" que ajudasse a entrada da Turquia na UE.
A mídia turca foi mais direta. O jornal "Aksam" afirmou na edição de ontem: "Não aconteceu como nós temíamos". O "Milliyet" disse que "Merkel não se beneficiou de sua posição anti-Turquia", enquanto o "Radikal" acrescentou que a CDU estava em "estado de desilusão".
O presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, expressou preocupação com a falta de um resultado claro no pleito alemão. O bloco necessita de reformas para impulsionar sua economia e vive instabilidade política desde que a França rejeitou a proposta de Constituição em referendo nacional no último mês de maio.
O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, não fez declaração oficial sobre o resultado. Mas o jornal "Corriere della Sera" publicou reportagem afirmando que Berlusconi -em desvantagem nas pesquisas- teria ficado satisfeito com a "volta por cima" de Schröder. A Itália terá eleições no ano que vem.
Alguns países do Leste Europeu e do mar Báltico, que torciam discretamente para uma vitória de Angela Merkel, ficaram desapontados com o desempenho da candidata da CDU.
Países como Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia -membros da União Européia a partir do ano passado- tiveram uma relação fria com Berlim durante o último mandato de Schröder, que preferiu estreitar laços com a Rússia. Os quatro países apoiaram a invasão americana do Iraque, posição distinta do governo alemão durante o conflito.
Os EUA não se pronunciaram oficialmente sobre o resultado das eleições. Especialistas avaliam que os americanos desejam um governo liderado por Merkel, que é favorável a uma maior aproximação com Washington.
Outros analistas dizem acreditar que a Alemanha estará focada em assuntos domésticos nos próximos cinco ou dez anos e dará menos atenção ao que ocorre no cenário internacional.


Com agências internacionais

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