São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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PERIGO NUCLEAR

País ainda quer reatores para produzir energia; promessa dos seis negociadores é investir e fornecer petróleo

Coréia do Norte troca a bomba por ajuda

DA REDAÇÃO

A Coréia do Norte se comprometeu ontem a abandonar suas pesquisas para produzir a bomba atômica, mas mais tarde condicionou a decisão ao recebimento de reatores nucleares para a produção de energia.
Inicialmente a intenção foi vista como um avanço, embora sem grande otimismo, pelos países que pressionavam a Coréia do Norte. Os receios acabaram justificados hoje (noite de ontem no Brasil), quando o governo norte-coreano ligou o desmantelamento do programa atômico à entrega dos reatores de energia.
"Os EUA não deviam nem sonhar com o desmantelamento antes de nos dar os reatores", diz o comunicado da Chancelaria.
Pelo acordo do dia anterior, EUA, Coréia do Sul, Japão, Rússia e China haviam se disposto a fornecer aos norte-coreanos petróleo e energia em troca do fim do programa, além de investimentos e incremento do comércio.
Washington e Tóquio também haviam prometido normalizar suas relações diplomáticas com o regime comunista, que, por sua vez, prometeu reintegrar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Assim, suas instalações voltariam a ser inspecionadas pela AIEA (a agência atômica ligada à ONU).

Avanço
Apesar da exigência de reatores civis (para fim energético), esta é a primeira vez dentro das novas negociações em seis partes que a Coréia do Norte concorda em encerrar seu programa nuclear bélico.
A intenção está em declaração assinada em Pequim após dois anos de pressão de seus interlocutores. No texto, os EUA Unidos se comprometem a respeitar a integridade territorial norte-coreana, o que afasta a hipótese de invasão de um país incluído pela atual administração no "eixo do mal".
Em Washington, o presidente George W. Bush reagiu de modo cuidadoso. Qualificou a decisão da Coréia do Norte de "um passo positivo", mas foi prudente. "Precisamos agora verificar o que será feito concretamente."
Bush disse ser importante que os norte-coreanos "compreendam que não estamos brincando quando dizemos esperar que as inspeções [das instalações nucleares] devem ser retomadas".
O governo americano desconfia historicamente das boas intenções norte-coreanas. Em 1992, o país já havia se comprometido a abandonar seu programa nuclear, mas o prosseguiu e em seguida rompeu as negociações. Chegou a anunciar que já havia construído uma bomba atômica.
Dez anos depois, os EUA declararam ter evidências de que a Coréia do Norte tinha um programa de enriquecimento de urânio. Os norte-coreanos responderam que possuíam o direito de se proteger contra as ameaças americanas.
Em dezembro de 2002, a Coréia do Norte anunciou que recolocaria em funcionamento o reator de Yongbyon e em seguida expulsou os inspetores da AIEA.
As negociações de Pequim começaram em agosto de 2003. Na época, o regime ameaçava testar sua primeira ogiva nuclear e dizia ter mísseis para transportá-la.
O chefe da delegação chinesa nas negociações de Pequim, Wu Dawei, disse que a declaração de ontem "foi a mais importante etapa desses últimos dois anos".


Com agências internacionais

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