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Isolamento do território sufoca comércio e piora desemprego
STEVEN ERLANGER
DO "NEW YORK TIMES"
Um administra uma grande
empresa de vestuário. Outro
dirige um empreendimento ilegal de contrabando. Ambos sofrem os efeitos da depressão
econômica desencadeada pelo
Hamas e sua tomada do controle na faixa de Gaza, que foi quase inteiramente fechada para
os contatos com o mundo.
Nabil Bowab, 46, tem 800
funcionários que produzem
roupas sob contrato para grandes empresas israelenses. Ou
melhor, tinha, até que o Hamas
conquistou a faixa de Gaza, em
junho, e o principal posto de
travessia de seus produtos, em
Karni, foi fechado por Israel.
"Não posso continuar assim!
Estou com mais de 140 mil peças que não consigo entregar.
Mais de US$ 25 milhões parados aqui em Gaza. Estes produtos são para o verão e o verão já
acabou!", diz Bowad.
Tanto Karni quanto o posto
de travessia de Rafah estão fechados desde meados de junho,
e, com o Hamas no poder em
Gaza, há poucas perspectivas
de que Israel os reabra.
O resultado é o desabamento
rápido do setor privado, impossibilitado de importar peças,
materiais e tecidos e de exportar quase tudo. Segundo Faysal
Shawa, da Associação de Empresários Palestinos, desde junho 70 mil trabalhadores do setor privado perderam o emprego, 85% das fábricas fecharam
ou operam com menos de 20%
de sua capacidade, e os prejuízos chegam a US$ 16 milhões só
em exportações agrícolas.
Israel estima que suas próprias empresas percam US$ 2
milhões por dia em função do
fechamento, mas a faixa de Gaza perde US$ 1 milhão.
"O Fatah paga funcionários
da Autoridade Nacional Palestina para ficarem em casa e não
trabalharem para o Hamas",
diz Shawa. "O Hamas paga seu
pessoal. Mas ninguém paga os
funcionários do setor privado."
A esperança é que a população da faixa de Gaza promova
uma revolta contra o Hamas,
mas há pouco sinal disso, afirma Shawa, partidário do Fatah.
"Estamos pobres e cansados."
Uma razão é o quase monopólio do Hamas sobre as armas
e munições, que está acabando
com o negócio ilegal de Muhammad, 37, de Rafah: o contrabando de armas. Para dar
continuidade à atividade iniciada pelo pai, ele escava túneis.
Cada um leva seis meses para
ser aberto e custa US$ 40 mil.
Mas o Hamas proibiu o porte
de armas -exceto por membros de suas próprias forças- e,
com o Fatah derrotado e disperso e seu grande estoque de
armas e munições capturado
pelo Hamas, o mercado de armas operado por pessoas como
Muhammad desabou. "O Hamas quer controlar todas as armas e explosivos que entram na
faixa de Gaza. Está nos reprimindo, pois tem medo de que
possamos vender ao Fatah."
O Hamas diz que não impede
outros grupos de realizar atos
de "resistência" contra Israel.
"Mas ele nos manda não vender
para o Jihad Islâmico", diz Muhammad. "Ele tenta manter o
Jihad Islâmico com uma cota,
para poder ter mais controle."
Em depoimentos ao Parlamento, a inteligência israelense disse que desde junho o Hamas contrabandeou 40 toneladas de explosivos para a faixa
de Gaza e estaria construindo
fortificações defensivas subterrâneas. São pessoas como Muhammad que fazem o trabalho.
Tradução de CLARA ALLAIN
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