São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2007

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Isolamento do território sufoca comércio e piora desemprego

STEVEN ERLANGER
DO "NEW YORK TIMES"

Um administra uma grande empresa de vestuário. Outro dirige um empreendimento ilegal de contrabando. Ambos sofrem os efeitos da depressão econômica desencadeada pelo Hamas e sua tomada do controle na faixa de Gaza, que foi quase inteiramente fechada para os contatos com o mundo. Nabil Bowab, 46, tem 800 funcionários que produzem roupas sob contrato para grandes empresas israelenses. Ou melhor, tinha, até que o Hamas conquistou a faixa de Gaza, em junho, e o principal posto de travessia de seus produtos, em Karni, foi fechado por Israel.
"Não posso continuar assim! Estou com mais de 140 mil peças que não consigo entregar. Mais de US$ 25 milhões parados aqui em Gaza. Estes produtos são para o verão e o verão já acabou!", diz Bowad. Tanto Karni quanto o posto de travessia de Rafah estão fechados desde meados de junho, e, com o Hamas no poder em Gaza, há poucas perspectivas de que Israel os reabra. O resultado é o desabamento rápido do setor privado, impossibilitado de importar peças, materiais e tecidos e de exportar quase tudo. Segundo Faysal Shawa, da Associação de Empresários Palestinos, desde junho 70 mil trabalhadores do setor privado perderam o emprego, 85% das fábricas fecharam ou operam com menos de 20% de sua capacidade, e os prejuízos chegam a US$ 16 milhões só em exportações agrícolas. Israel estima que suas próprias empresas percam US$ 2 milhões por dia em função do fechamento, mas a faixa de Gaza perde US$ 1 milhão.
"O Fatah paga funcionários da Autoridade Nacional Palestina para ficarem em casa e não trabalharem para o Hamas", diz Shawa. "O Hamas paga seu pessoal. Mas ninguém paga os funcionários do setor privado." A esperança é que a população da faixa de Gaza promova uma revolta contra o Hamas, mas há pouco sinal disso, afirma Shawa, partidário do Fatah.
"Estamos pobres e cansados." Uma razão é o quase monopólio do Hamas sobre as armas e munições, que está acabando com o negócio ilegal de Muhammad, 37, de Rafah: o contrabando de armas. Para dar continuidade à atividade iniciada pelo pai, ele escava túneis. Cada um leva seis meses para ser aberto e custa US$ 40 mil. Mas o Hamas proibiu o porte de armas -exceto por membros de suas próprias forças- e, com o Fatah derrotado e disperso e seu grande estoque de armas e munições capturado pelo Hamas, o mercado de armas operado por pessoas como Muhammad desabou. "O Hamas quer controlar todas as armas e explosivos que entram na faixa de Gaza. Está nos reprimindo, pois tem medo de que possamos vender ao Fatah." O Hamas diz que não impede outros grupos de realizar atos de "resistência" contra Israel. "Mas ele nos manda não vender para o Jihad Islâmico", diz Muhammad. "Ele tenta manter o Jihad Islâmico com uma cota, para poder ter mais controle."
Em depoimentos ao Parlamento, a inteligência israelense disse que desde junho o Hamas contrabandeou 40 toneladas de explosivos para a faixa de Gaza e estaria construindo fortificações defensivas subterrâneas. São pessoas como Muhammad que fazem o trabalho.


Tradução de CLARA ALLAIN


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