São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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Potências "somem" das forças da ONU

Por treinamento, prestígio e dinheiro, países do sul da Ásia e da África são hoje responsáveis por 71% das tropas

Por conta da atuação na missão do Haiti, Brasil avança 35 postos no ranking dos capacetes azuis em nove anos


LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO

Nos últimos nove anos, o Brasil subiu da 47ª posição para a 12ª no ranking dos países que mais enviam tropas para missões de paz das Nações Unidas. O salto se deve ao envio de mais de 2.000 militares por ano à Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), ao custo de R$ 1,3 bilhão.
O investimento é uma tentativa do governo brasileiro de acompanhar uma tendência de países em desenvolvimento de assumir um lugar antes ocupado pelas potências mundiais nas missões.
Hoje, países do sul da Ásia e do continente africano são fornecedores de 71% dos cerca de 100 mil homens que formam as tropas de paz e a polícia das Nações Unidas.
O primeiro do ranking é o Paquistão, que participa atualmente de 11 missões com 10.744 homens.
Militares do continente europeu, dos EUA e do Canadá -que antes da década de 90 eram presença quase obrigatória nas missões-, em 2001 representavam juntos 22% do contingente de capacetes azuis no mundo. Neste ano, não chegam a 8% do total. A ONU não divulga dados anteriores a 2001 para pesquisa.
A retirada gradual das potências começou com o fracasso das missões na Somália (92-93), que resultou no assassinato e exibição pública de corpos de soldados americanos, e em Ruanda (93-96) -onde a ONU foi incapaz de conter o genocídio.
Desde então, os países desenvolvidos continuaram a financiar missões em países "falidos", porém sem envolver diretamente suas tropas.
"Um soldado morto nessas missões tem um custo político e eleitoral muito alto", afirma Matias Spektor, coordenador do Centro de Estudos sobre Relações Internacionais da FGV-Rio.
Segundo ele, outro fator decisivo foi a dificuldade das potências em abrir frentes após se envolverem nas guerras do Oriente Médio.

OPORTUNIDADE
Além da oportunidade de treinar e profissionalizar tropas, os países em desenvolvimento procuram as missões de paz por interesses econômicos (possibilidade de fechar contratos futuros) e estratégicos (obter prestígio e influência internacional).
Outro atrativo para alguns países é o pagamento que as Nações Unidas fazem pelo uso dos soldados. Alguns deles, como o Nepal (6º no ranking) e o Uruguai (10º) descobriram um "nicho" de mercado e criaram unidades especializadas em missões de paz da ONU que rendem lucros.
Não é o caso do Brasil, que não tem unidades especializadas e recebe de pagamento da ONU cerca de 25% da quantia que investiu para mandar as tropas.
O objetivo brasileiro está mais ligado ao treinamento de tropas contra guerrilhas e à obtenção de mais destaque na engrenagem da ONU (no caso, uma cadeira no Conselho de Segurança).


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