São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2001

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ORIENTE MÉDIO

Tropas avançam sobre zona autônoma palestina; ANP diz que tornará milícias ilegais

Israel mata 6 palestinos após ultimato

Reuters
Palestinos rezam diante dos corpos dos três milicianos mortos numa explosão que o Fatah atribui a um ataque de Israel, em Belém


DA REDAÇÃO

Após um ultimato à Autoridade Nacional Palestina, Israel continuou ontem a ocupar zonas autônomas na Cisjordânia em reação ao atentado contra um de seus ministros, morto por extremistas, e matou seis palestinos em diferentes operações. A ANP, que se nega a entregar para Israel os suspeitos autores da ação contra o político, anunciou que tornará ilegais as milícias palestinas.
Os confrontos elevaram para 12 palestinos e um israelense o total de mortos desde que o grupo FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina), em vingança pela morte de seu líder, matou o ministro de extrema direita Rehavam Zeevi, na quarta-feira.
Israel, que exigiu da ANP a entrega dos suspeitos do atentado para que não passe a tratar a entidade da mesma forma como os EUA agem com o Taleban, retaliou, assumindo o controle de partes de Ramallah, Jenin, Beit Jala e Belém, na Cisjordânia.
As forças israelenses avançaram mais um pouco ontem em Belém. A operação começou durante a madrugada, após os tiroteios que sucederam à explosão na qual morreram três militantes do Fatah (movimento ao qual pertence o líder palestino Iasser Arafat). Um deles, Atef Abayat, estava na lista israelense de supostos terroristas que devem ser "eliminados". Palestinos apontaram um ataque com helicópteros, e o governo de Israel não negou nem confirmou a informação.
As Forças Armadas tomaram ontem ainda posições no vilarejo de Beit Jala, de onde, no dia anterior, haviam sido disparados tiros contra a colônia Gilo.

Mais mortes
Nos confrontos que se seguiram à incursão em Belém, um refugiado de 23 anos foi morto com um tiro no coração. Ao menos 22 pessoas foram feridas -quatro em estado grave. O Exército de Israel relatou que um soldado foi gravemente ferido por um franco-atirador palestino.
Em Beit Jala, um palestino de 20 anos morreu com uma bala na cabeça. No vilarejo Al Khader, também perto de Belém, uma mulher de 36 anos morreu com um tiro no peito. Em tiroteio em Ramallah, um oficial da guarda pessoal de Arafat foi morto pelo Exército.
Na faixa de Gaza, foi morto com um tiro na cabeça um rapaz de 21 anos que lançava pedras contra os soldados de Israel. Um menino de 13 anos, do campo de refugiados Khan Younis, morreu na detonação de um míssil de tanque que não explodira após o disparo.
Já são ao menos 638 palestinos e 177 israelenses os mortos na nova Intifada, o levante palestino iniciado em 28 de setembro, após o colapso das negociações de paz.

Procurados
A ANP, que prendeu mais de uma dezena de membros da FPLP, reiterou que não entregará os suspeitos da morte de Zeevi para Israel, mas anunciou que tornará ilegais "todas as organizações que não têm fins políticos".
"Os palestinos que não respeitam o cessar-fogo anunciado por Arafat violam a lei palestina e colaboram para uma escalada da violência, o que só é útil aos inimigos da paz e aos planos israelenses contra nosso povo", informou o escritório do líder palestino em nota divulgada pela agência de notícias "Wafa".
O comunicado foi apresentado após duas reuniões da cúpula palestina, em Ramallah e Gaza. "O compromisso do presidente palestino com o cessar-fogo é claro, e quem não cumpri-lo será processado", disse Taeb Abdel Rahim, chefe de Gabinete de Arafat.
Em outra nota, assinada com dirigentes da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), a ANP pediu ainda "sensatez e razão" aos israelenses para o fortalecimento da trégua.
O governo de Israel deu pouco crédito ao anúncio. "Já estamos fartos de promessas. O que queremos agora são ações, começando pela prisão dos terroristas", afirmou uma autoridade israelense.
Um alto funcionário da entidade, que não quis se identificar, disse que os supostos responsáveis pela morte do ministro de Israel não vivem nas áreas sob governo palestino. "Segundo nossas informações, não residem na zona autônoma e possuem documentos israelenses [há palestinos com cidadania israelense ou visto de residência em Jerusalém, cuja porção oriental foi ocupada por Israel em 1967"", afirmou.
Anteontem, em referência ao bombardeio americano no Afeganistão, onde se esconde sob proteção do Taleban o saudita Osama bin Laden, o secretário de Gabinete de Israel disse que o país iria "agir contra a Autoridade Palestina do mesmo modo atualmente aceito pela comunidade internacional para operações contra uma liderança que apóia o terror".

Pressão internacional
Em busca de apoio muçulmano à ofensiva no Afeganistão, EUA e Reino Unido têm pressionado pelas negociações, por moderação israelense e por medidas enérgicas da ANP contra terroristas em áreas sob sua responsabilidade.
Os líderes da União Européia exortaram também à retomada das conversações de paz, porém com mais ênfase. "O Conselho Europeu sublinha a necessidade crucial de voltar ao processo de paz no Oriente Médio sem precondições", afirmou na Bélgica a organização.
A UE declarou que um eventual acordo deve ser baseado no "estabelecimento de um Estado palestino e no direito de Israel de viver em paz e segurança".

Com agências internacionais


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