São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Seis governos em seis anos e ausência de respostas à crise econômica fazem crescer a inquietação no país

Descrença marca eleição no Equador hoje

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

Desconfiados e indecisos, os equatorianos vão hoje às urnas para votar para presidente, numa das disputas mais fragmentadas e desacreditadas da história recente do país. Até sexta-feira, quatro em cada dez eleitores ainda não sabiam em quem votar, segundo pesquisa do Cedatos-Gallup.
"Os eleitores estão inquietos, temem pelo seu futuro após a crise que enfrentaram nos últimos anos", afirma o analista Polibio Córdoba, diretor do Cedatos-Gallup, em referência aos seis governos que o Equador teve em seis anos e à mais grave crise econômica da história do país, que levou à dolarização da economia, em janeiro de 2000.
Outra razão para a desconfiança dos eleitores é a ausência de caras novas, apesar de apenas 6% dos equatorianos dizerem confiar em sua classe política. Entre os candidatos, há dois ex-presidentes, dois irmãos de ex-presidentes, um ex-ministro, um empresário milionário que é dono da maior fortuna do país e um coronel reformado com histórico golpista.
"Não tem havido renovação de líderes, há uma repetição de figuras já conhecidas", afirma o cientista político Simón Pachano, da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), de Quito. "É um fenômeno estranho -paradoxalmente, as pessoas se queixam dos partidos e dos políticos tradicionais, mas voltam a votar neles."
Entre 11 candidatos, nenhum ultrapassa 16% das intenções de voto. Na última pesquisa, cinco candidatos apareciam em situação de empate técnico, com ligeira vantagem para o ex-presidente social-democrata Rodrigo Borja (1988-1992), da Esquerda Democrática, com 16%.
Empatados com 12% apareciam o socialista León Roldós, irmão do presidente Jaime Roldós (1979-1981), morto em um acidente de avião em 1981, o ex-ministro social-cristão Xavier Neira, apoiado pelo ex-presidente León Febres-Cordero (1984-1988), e o coronel Lucio Gutiérrez, que liderou o golpe que derrubou o então presidente Jamil Mahuad, em janeiro de 2000.
O milionário Álvaro Noboa, derrotado por Mahuad no segundo turno em 1998, aparecia com 11% na pesquisa de sexta-feira, depois de liderar por meses a corrida presidencial e ter atingido um pico de 40%.
Também são candidatos Jacobo Bucaram, irmão do ex-presidente Abdalá Bucaram, conhecido como "El Loco", eleito em 1996 e afastado do cargo pelo Congresso em 1997 por "incapacidade mental", o líder indígena Antonio Vargas, que participou do golpe de 2000 ao lado de Gutiérrez, e o ex-presidente Osvaldo Hurtado Larrea (1981-1984), que era vice de Jaime Roldós e assumiu o cargo após sua morte.

Sem debate
Outra particularidade da campanha, que ajuda a explicar a razão de tanta indecisão, foi a ausência de debates mais aprofundados sobre temas cruciais para o futuro do país, como a manutenção da dolarização com um déficit comercial crescente pela perda de competitividade das exportações, a negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que caberá ao próximo presidente, e a corrupção endêmica, que custa ao país US$ 2 bilhões ao ano, segundo estimativas.
"Pela primeira vez em muitos anos temos tantos candidatos e propostas tão similares entre elas", diz o analista Juan Fernando Terán, do Centro Andino de Estudos Internacionais, da Universidade Simón Bolívar. "Não houve um debate aprofundado dos projetos", diz.
A discussão dos grandes temas deu lugar à apresentação de propostas mirabolantes e populistas, como a garantia de emprego a todos os equatorianos, feita por Noboa, a compra de casas populares com uma entrada de US$ 0,10 e prestações mensais de US$ 10, feita por Bucaram, e a informatização total das escolas públicas, mesmo em áreas sem energia elétrica e telefone, feita por Borja.
"As promessas são tão absurdas que os eleitores não acreditam mais", diz Polibio Córdoba.
Outro problema a ser enfrentado pelo próximo governo deve ser a grande fragmentação partidária no Congresso, que também será renovado hoje. O sistema de votação adotado, que favorece a representação de minorias, deve intensificar essa fragmentação.
"O próximo presidente será certamente muito fraco, porque nenhum candidato deve passar ao segundo turno com mais de 20% dos votos, e encontrará um Congresso bastante dividido, com 15 ou 16 partidos representados", avalia Simón Pachano.
A acumulação de problemas faz Juan Terán ter uma expectativa pessimista sobre o próximo governo: "Qualquer que seja o eleito, terá muitas dificuldades para terminar o mandato". O que não seria nenhuma novidade -os dois últimos presidentes eleitos não terminaram seus mandatos.



Texto Anterior: Empresário diz que Chávez quer um "regime comunista"
Próximo Texto: Candidatos prometem manter a dolarização
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.