São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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Empresário diz que Chávez quer um "regime comunista"

DO ENVIADO ESPECIAL

Em abril passado, o empresário Carlos Fenández Pérez assumiu a presidência da Fedecámaras, principal entidade empresarial da Venezuela. Pérez substituiu o cargo antes ocupado por Pedro Carmona, o empresário que, ao liderar o golpe fracassado contra o presidente Hugo Chávez, acabou exilando-se na Colômbia depois de dissolver o Congresso e o Judiciário.
Um dos líderes da greve geral programada para amanhã, Pérez disse que tentou inutilmente dialogar com Chávez e que o presidente quer uma "economia comunista". Já os defensores de Chávez dizem que ele está rompendo privilégios das elites e favorecendo as classes mais pobres.
Na opinião de Pérez, a Venezuela só terá futuro se o presidente deixar o poder.

Folha - O sr. diz que Chávez afugenta o capital estrangeiro e destrói a economia venezuelana. Mas o presidente está pedindo aos venezuelanos que trabalhem, enquanto o sr. convocou uma greve geral. Quem prejudica mais a economia do país: o governo ou a oposição, da qual o sr. faz parte?
Carlos Fernández Pérez -
Chávez quer implantar uma sociedade "castróide" e uma economia comunista na Venezuela.
As perdas eventualmente causadas pela greve são minúsculas comparadas com a destruição que o presidente está provocando na economia.
Queremos construir uma plataforma política que nos proteja do caos, do centralismo e do estatismo que são contrários à Constituição e tiram da Venezuela as condições de receber investimentos. Tenho me reunido com empresários de diversas câmaras de comércio da Flórida para perguntar as razões pelas quais tiraram tanto dinheiro do país. A resposta é unânime: o dinheiro não vai voltar enquanto Chávez estiver no poder.

Folha - O sr. cita a Constituição para criticar Chávez, mas essa mesma Constituição dá ao presidente um mandato popular constitucional. Não é golpismo exigir que Chávez saia do poder?
Pérez -
Não somos golpistas. Queremos uma consulta popular, só isso. Queremos que a população se manifeste. Que diga se aceita seu empobrecimento, se aceita a adoção de um regime comunista no país. A necessidade de uma consulta popular no meio de um mandato existe em várias sociedades democráticas.

Folha - A Constituição venezuelana permite essa consulta somente no ano que vem. Por que não esperar até o ano que vem?
Pérez -
Trata-se de uma situação de emergência. A inflação aproxima-se de 30%, o desemprego vai chegar a 20% e o presidente ameaça constantemente violar a propriedade privada.

Folha - Seu antecessor liderou o golpe de Estado de abril passado, assumiu a Presidência, dissolveu o Congresso e o Judiciário. O sr. acha que isso foi uma atitude democrática?
Pérez -
Carmona saiu da entidade para realizar um projeto pessoal. Aquelas foram ações pessoais de um empresário, não ações da entidade. Os empresários estão muito preocupados com o que está acontecendo no país. O crescimento da pobreza está provocando uma "africanização" da Venezuela.

Folha - Logo após o retorno de Chávez ao poder, o sr. aceitou conversar com o presidente e reuniu-se durante três horas com ele. Por que o diálogo falhou?
Pérez -
Depois de abril, dei a Chávez o benefício da dúvida, principalmente por seu discurso conciliador. Disse a ele que os empresários temiam a "comunização" do país. Ele disse que não é comunista, mas é de esquerda. O encontro terminou amistoso. Sessenta dias depois, ele voltou a ser agressivo e a incitar o enfrentamento.


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