São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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Diagnóstico bate, mas soluções propostas são bastante distintas

DA REDAÇÃO

Parece até uma clássica discussão acadêmica entre economistas favoráveis e contrários às políticas preconizadas pelo britânico John Maynard Keynes (1883-1946) para combater a recessão. Todavia, no caso alemão, a querela envolve agentes socioeconômicos que sempre encontraram soluções de consenso para suas disputas: patrões e empregados.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a economia social de mercado alemã, motivo de orgulho de sua população, baseia-se no chamado "modelo alemão", um sistema em que as classes patronal e trabalhadora -apoiadas por governo e bancos (muitas vezes, estatais)- buscam soluções de compromisso para questões que as atingem. Esse modelo está sendo posto em xeque agora.
Na prática, o motivo dessa visível mudança de rumo é a estagnação econômica do país, que, há cerca de uma década, apresenta taxas de crescimento bastante baixas (exceto em 2000, quando atingiu 3%). Em 2001, o PIB do país só foi 0,6% superior ao do ano precedente. E, com base nas estatísticas divulgadas no último trimestre, o crescimento anual se encontra em 0,2%.
Os efeitos dessa deterioração econômica são os mais diversos, porém dois deles inquietam particularmente os agentes socioeconômicos. Para o patronato, o número que faz soar o sinal de alarme é o de falências e de concordatas de empresas: entre 20 mil e 25 mil neste ano, segundo projeções. Para os sindicatos, o número incômodo é o de 4 milhões de desempregados (9,9% da mão-de-obra ativa do país, que tem a terceira economia do planeta).
"O desemprego só será reduzido se o governo fizer maciços investimentos diretos em nossa economia, pois os políticos não podem só pensar no equilíbrio orçamentário sem levar em conta suas consequências sociais", afirmou Claus Eilrich, diretor de imprensa de um dos maiores sindicatos alemães, o IG Metall.
"Seria importante que as empresas tivessem margem de manobra para tentar criar os empregos. Porém, com os atuais níveis de contribuições sociais e de salários que elas são obrigadas a pagar, isso é impossível. Assim, o governo deveria introduzir reformas no mercado de trabalho e na tributação", disse Uta Knott, da Federação das Indústrias Alemãs.
No centro da discussão está o Pacto de Estabilidade europeu, que exige que os países da zona do euro não tenham déficits fiscais superiores a 3% de seu PIB. No caso alemão, aliás, esse objetivo não será cumprido neste ano, visto que Berlim já reconheceu que ele deverá ser de 3,5%.
"Precisamos mudar a política monetária européia. O limite de 3% de déficit público não permite que os governos tenham flexibilidade para agir quando há problemas conjunturais. Precisamos de keynesianismo na Europa", disse Wolfgang Schemeret, da Federação dos Sindicatos da Alemanha.
"Se o Pacto de Estabilidade for abrandado, correremos dois sérios riscos: primeiro, o enfraquecimento do euro; segundo, um aumento dos impostos para pagar a dívida pública", avaliou Matthias Schoder, da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da Alemanha. (MSM)


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