São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

UNIÃO EUROPÉIA

Em referendo, eleitores dão sua opinião sobre o Tratado de Nice, que abre caminho para expansão do bloco

Sem entusiasmo, irlandeses decidem futuro da UE

DA REDAÇÃO

O futuro da União Européia foi decidido ontem, quando os irlandeses foram às urnas (pela segunda vez em menos de 18 meses) para decidir se aprovavam ou não o Tratado de Nice (2000), que, entre outras coisas, prevê as reformas das instituições européias para permitir a adesão de novos membros. O resultado do referendo só deve ser conhecido hoje.
A rejeição do tratado por parte dos irlandeses (quase 54% foram contrários ao texto), em junho do ano passado, chocou os líderes europeus e mostrou que o sistema de tomada de decisões da UE deverá ser alterado no futuro. De acordo com analistas políticos, o desinteresse dos eleitores foi responsável pela vitória do "não".
À época, só 34,8% dos eleitores compareceram aos postos de votação, o que prejudicou as chances de adoção do tratado.
Ontem, o comparecimento às urnas foi considerado bom. Segundo estimativas, deve ficar entre 39% e 43%. Um alto comparecimento era considerado fundamental para a vitória do "sim".
Sean Killalee, 49, foi o primeiro a votar numa escola de Dublin. "Votei no "sim". Eles merecem fazer parte do clube", afirmou Killalee, referindo-se aos países candidatos a aderir à UE, muitos deles pertencentes ao antigo bloco comunista. "Isso será bom para a economia irlandesa e para todos os outros países", acrescentou.
"Tudo depende do número de pessoas que vão votar. Fatos banais ou corriqueiros, como uma chuva inesperada ou o aparecimento do sol, podem ser decisivos na contagem final dos votos", disse Ben Tonra, especialista em UE da Universidade de Dublin.
O clima na manhã de ontem era frio, mas não chovia. O sol apareceu algumas vezes. Ademais, a maioria do eleitorado parecia levar a sério a votação desta vez.
"Espero ter votado corretamente. É importante fazer parte de uma comunidade de povos. Creio que a unidade seja importante -a unidade de entendimento e a unidade de propósito", afirmou Margaret Boran, uma freira de 86 anos que também votou na capital irlandesa, Dublin.
A Irlanda é o único país da UE que depende do crivo popular para aprovar o Tratado de Nice. Os outros 14 Estados, que já o ratificaram, só tiveram votação no Parlamento. Embora improvável, a vitória do "não", segundo especialistas, atrasaria em ao menos um ano a adesão de oito Estados do Leste Europeu, além da de Chipre e de Malta, à UE.
De acordo com analistas, a resistência irlandesa ao tratado tem inúmeras razões, porém as principais são o medo de que o país venha a ser obrigado a abandonar sua tradicional neutralidade político-militar e o de perder uma parcela de sua soberania.
Além disso, o tratado diz que, ao lado de outros países de menor população, a Irlanda (3,9 milhões de habitantes) perderá parte de seu peso político nas instituições européias, o que desagrada aos partidários do "não": os Verdes, o Sinn Fein (braço político do Exército Republicano Irlandês), a extrema esquerda e movimentos pacifistas e antiglobalização. O campo do "sim" reúne os principais partidos do país.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Diagnóstico bate, mas soluções propostas são bastante distintas
Próximo Texto: Ásia: Indonésia prende suspeito de terrorismo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.