São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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Iraque pára de divulgar número de civis mortos

NORIMITSU ONISHI
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

O Ministério da Saúde iraquiano, que vinha informando o balanço dos mortos pela guerra no país, parou no início do mês de divulgar os números. Obedecendo a uma nova orientação que, segundo o governo interino, vai agilizar a divulgação de informações, agora só o Secretariado do Conselho de Ministros será autorizado a informar as baixas.
"É uma questão política", disse um alto representante do Ministério da Saúde.
Motivo de embaraço não só para os EUA, mas também para o govenro do Iraque, as mortes de iraquianos, especialmente de civis, é um tema cada vez mais delicado. Uma tentativa de contabilizar os mortos iraquianos em uma semana indica que entre as vítimas figuram soldados, insurgentes, políticos, jornalistas, um juiz, um paramédico e funcionários de um restaurante.
Entre 11 e 17 de outubro, estimados 208 iraquianos foram mortos em incidentes relacionados à guerra -um número significativamente maior do que a contagem semanal média. No mesmo período, morreram 23 integrantes das forças americanas.
Começou com a morte de dois civis iraquianos num ataque suicida contra um comboio militar norte-americano em Mossul, norte do Iraque, na segunda-feira da semana passada. E terminou na noite de domingo, quando um carro-bomba matou sete policiais e civis iraquianos num café de Bagdá onde, aparentemente, policiais tinham quebrado o jejum do Ramadã, mês sagrado islâmico.
As vítimas incluem a repórter de TV Dina Hassan, morta por rajadas de Kalashnikov por três homens que a acusaram de "colaboradora". E o filho e o sobrinho de Ali Hussein, guardas noturnos mortos em bombardeio dos EUA contra o restaurante de Hussein em Fallujah -segundo os militares, ponto de encontro de terroristas. "É um restaurante muito conhecido do centro. Como poderia haver homens de Abu Musab al Zarqawi?", disse Hussein.
O maior número de pessoas -ao menos 15- foi morto num ataque contra um posto da Guarda Nacional Iraquiana perto de Qaim, na fronteira com a Síria.
Os números foram compilados a partir de contagens parciais feitas pelo governo iraquiano, hospitais, agências e forças americanas, e reportagens de funcionários iraquianos do "New York Times" em Fallujah, Mossul e Najaf.
A contagem é imprecisa e não oferece respostas completas a muitas das perguntas mais carregadas relativas à guerra. Como distinguir civis dos insurgentes? Como reconciliar relatos contraditórios das mesmas mortes?
Segundo relatório do Ministério da Saúde com dados de todas as regiões menos o norte curdo do país, entre 5 de abril e 6 de setembro, 3.040 iraquianos foram mortos em incidentes relacionados à guerra -um pouco mais de 138 por semana. Os mortos incluem 2.753 homens, 159 mulheres e 128 crianças.
Não há números amplamente aceitos sobre o total de civis mortos no Iraque desde o início da guerra, mas as estimativas mais precisas de grupos privados e organizações de mídia independentes falam em entre 10 mil e 15 mil.
Embora muitos iraquianos atribuam as mortes de inocentes a ataques aéreos e a outras ações militares americanas, eles crêem que combatentes estrangeiros estejam por trás dos ataques suicidas, que tendem a matar mais iraquianos do que americanos.
As forças americanas ressaltam que os alvos de suas ações são e foram os insurgentes, aos quais atribuem outras mortes e os prejuízos decorrentes desses ataques.


Tradução de Clara Allain


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