São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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Estudo prevê mais 5 anos de ocupação

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os americanos e seus aliados ainda vão ter de permanecer pelo menos cinco anos ocupando o Iraque para que o país possa se viabilizar politicamente. O prazo será necessário para que o país consiga criar forças militares e policiais próprias para dar conta sozinho de suas necessidades de segurança em face das revoltas.
Essas tropas estão sendo treinadas pelos EUA e pelo Reino Unido com importante ajuda da Jordânia. Mas ainda estão longe de serem capazes de tomar conta do país, além de terem se tornado elas próprias um dos alvos preferenciais dos insurgentes.
Essa avaliação foi feita ontem em Londres durante o lançamento do mais prestigiado anuário sobre as forças militares do planeta, "The Military Balance", pelo seu editor, Christopher Langton. O anuário é publicado pelo IISS, sigla em inglês do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.
Segundo o anuário, hoje estão no Iraque 121.600 tropas dos EUA e 25.000 militares de 34 outros países. Um dos maiores problemas foi a pouca atenção dada pelos EUA às necessidades específicas do pós-guerra, que exigiria maior número de tropas e com habilidades distintas daquelas meramente de combate.
Outro dos problemas para essa força de ocupação é justamente o seu caráter multinacional.
Para Langton, as duas divisões de tropas estrangeiras sofrem problemas de coesão -"não menor entre as suas limitações é a falta de uma língua operacional comum". Uma divisão é uma unidade militar com entre 15 mil a 20 mil soldados.
Esse não é tanto o caso da divisão multinacional no sul do Iraque, composta sobretudo por tropas britânicas -8.300 soldados- e de outros países europeus acostumados a operar conjuntamente em função de muitos pertencerem à aliança militar Otan. A divisão também tem 2.800 italianos e 1.300 holandeses, além de tropas de outros sete países, incluindo Portugal (124 militares).
Já a divisão que controla a região centro-sul do país -onde está a explosiva cidade majoritariamente xiita, Najaf- é uma torre de babel.
Tem 3.500 militares da Coréia do Sul, 2.350 da Polônia, 1.550 da Ucrânia, 450 da Tailândia, 420 da Bulgária e outros contingentes menores de mais seis países.
Apesar dessas dificuldades, o anuário comenta que a integração das Forças Armadas mundiais é uma necessidade em face de ameaças globalizadas do terrorismo, dos tráficos ilegais e do crime organizado.

Piratas
Por exemplo, o anuário comenta o risco de os piratas que agem em grande quantidade na região do estreito de Málaca, no sudeste asiático, também se associarem com grupos terroristas. A ligação de rebeldes com tráficos de drogas, ou de diamantes, ou de recursos biológicos, já é uma realidade.
"O desafio aos Estados, portanto, é como integrar suas Forças Armadas, forças de controle de fronteira e forças policiais em uma arquitetura capaz de reagir e controlar as ameaças do século 21 de uma forma efetiva e sem costuras", escreve Langton no prefácio do anuário.


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