São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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ÁSIA

General linha-dura assume cargo; ONU teme que mudança adie ainda mais transição à democracia

Mianmar força premiê "moderado" a sair

DA REDAÇÃO

O governo autoritário de Mianmar anunciou ontem que o premiê e chefe do serviço de inteligência militar, general Khin Nyut, 64, foi substituído por um general considerado mais linha-dura. A mudança pode prejudicar uma reconciliação com a líder do movimento pró-democracia, Aung San Suu Kyi, que está presa.
A rádio e a TV estatais transmitiram comunicados segundo os quais o general Soe Win, 56, ex-chefe da defesa aérea que galgou postos na junta militar nos últimos dois anos, assumiria o cargo de premiê. Khin Nyunt teria recebido "permissão para se aposentar por motivos de saúde", um eufemismo usado no passado para a remoção forçada de ministros.
Os comunicados foram assinados pelo líder da junta, general Than Shwe, que não era considerado próximo a Khin Nyunt.
Os anúncios oficiais não mencionaram uma declaração do governo tailandês de que Khin Nyunt teria sido preso sob alegações de corrupção.
Khin Nyunt estava em posição delicada desde setembro, quando soldados do Exército fizeram uma blitz em um posto de controle na fronteira com a China, dominado por funcionários do serviço de inteligência militar. Ouro, jade e dinheiro foram confiscados e cerca de 150 pessoas, entre policiais e funcionários da alfândega e dos serviços de imigração e inteligência militar, incluindo três coronéis, foram presas.
Khin Nyunt tinha uma reputação de ser relativamente moderado. No último ano, vinha promovendo o que chamava de um "roteiro para a democracia", mantendo contatos mediados pela ONU com o movimento de Suu Kyi. As negociações estagnaram, e críticos acusaram o governo de propositadamente sabotá-las para manter-se no poder.
Soe Win é visto como defensor de uma política de linha dura em relação ao movimento pró-democracia liderado por Suu Kyi, vencedora do Prêmio Nobel, e a países ocidentais que desejam que os militares deixem o governo e promova eleições democráticas.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse por meio de porta-voz estar preocupado com o destino de Suu Kyi sob o novo governo e pediu sua soltura imediata.
Soe Win ligou-se à cúpula da junta como segundo-secretário em fevereiro de 2003 e foi promovido a primeiro-secretário em uma reforma ministerial em agosto do mesmo ano, substituindo Khin Nyunt, cuja nomeação como premiê foi interpretada por alguns analistas como um gesto na direção da reconciliação com o discurso pró-democracia.
Mas outros analistas viram a promoção de Soe Win como o fato mais importante. Vários diplomatas e críticos do governo acreditam que ele tenha estado envolvido no ataque de maio de 2003 a Suu Kyi e seus correligionários no norte de Mianmar por simpatizantes do governo. Ela está em prisão domiciliar desde então.
O substituto de Khin Nyunt como chefe dos serviços de inteligência militar não foi anunciado.


Com agências internacionais


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